Com 35% das linhas fora de circulação, prefeitura promete multar consórcios a partir de julho pelos dados de GPS dos ônibus


O sumiço das linhas, que se agravou durante a pandemia, é um dos principais problemas enfrentados pelos usuários de ônibus no Rio. Segundo a Secretaria Municiipal de Tranportes (SMTR), dos 493 itinerários que deveriam estar sendo operados pelos quatro consórcios que atendem a cidade, 176 não estão circulando. O número corresponde a 35,6% das linhas. A partir de meados de julho a secretaria vai recorrer ao sistema de GPS dos veículos para aplicar multas por inoperância, descumprimento de frota determinada, horários e itinerários. A avaliação ocorrerá em dois momentos do dia: nos picos da manhã e da tarde. A secretária Maína Celidônio acredita que dessa forma poderá ampliar a fiscalização, já que eletronicamente terá acesso a todas as linhas e a toda a frota, além de poder multar até duas vezes por dia. Atualmente, o trabalho presencial é feito por 86 agentes, entre auxiliares e fiscais.

—Agora a gente vai poder multar eletronicamente todas as linhas que não estiverem em conformidade com a frota determinada duas vezes por dia, no pico da manhã e no pico da tarde. Dessa forma a gente consegue ter muito mais controle sobre o sistema e nossos fiscais poderão exercer outras atividades, como avaliação da qualidade dos veículos, por exemplo. A gente sabe hoje na quantidade e intensidade que multa que muitas vezes os operadores preferem a punição do que rodar. Agora vai ser muito mais intensa. Vamos poder multar todas as linhas duas vezes por dia. Vamos partir para um outro patamar de fiscalização e pode ser que surta efeito sim — crê a secretária.

Dados disponibilizados pela SMTR em seu site no começo da tarde segunda-feira, mostrava que dos 7.568 veículos da frota determinada para os quatro consórcios, apenas 2.939 estavam nas ruas, ou seja 39%. A média se manteve durante quase todo o dia. Apenas o descumprimento da frota e a inoperância das linhas resultaram nesse ano, até o momento, em 366 multas aos quatro consórcios, num valor total de R$ 704.252,72, sendo que só quatro já foram pagas, num montante de R$7.707, 28, ou seja pouco mais de 10%.

Maína Celidonio disse também que, paralelamente, serão adotadas medidas que a longo prazo poderão resultar em melhoria no serviço. Entre elas a mudança no sistema de remuneração aos consórcios, que deixará de ser pelo número de passageiros transportados, passado a ser pelo custo. Isso, segundo a secretária, será possível a partir da licitação do novo sistema de bilhetagem, cujo processo está na fase de modelagem, devendo estar pronto em agosto para ser concluído até o fim do ano.

Além disso a prefeitura também vai intensificar a fiscalização ao transporte alternativo irregular e tenta taxar carros por aplicativos, considerados correntes pelo sistema de transporte por ônibus. Enquanto isso não acontece, a SMTR disse que está em conversa com os consórcios para definir qual seria a rede prioritária das linhas de ônibus, ou seja locais em que as pessoas não teriam outra opção. A intenção é se adequarem de forma a rodar nesses itinerários para atender melhor o usuários.

Decreto publicado na semana passada autoriza a aplicação das multas por GPS já a partir do próximo dia 16. Determina ainda que na hora de verificar a possibilidade de multa, a prefeitura não vai considerar em operação os veículos identificados dentro da garagem, parados por mais de 30 minutos no mesmo ponto, ou que estejam realizando um trajeto diferente do determinado para a linha. O texto diz ainda que a frota operante será comparada com a frota determinada do dia da análise, levando-se em consideração a margem tolerável de menos ônibus.

A prefeitura explicou que uma ferramenta desenvolvida pela SMTR consegue monitorar os dados de GPS dos veículos. Por meio de painéis, conhecidos como dashboards, conseguem obter com precisão a localização dos coletivos permitindo aos técnicos da pasta saber se as empresas estão operando com a frota determinada para cada linha no dia a dia. Ainda segundo a prefeitura, a ferramenta permite o acompanhamento e a variação da demanda de passageiros, o que deve ajudar em ajustes da frota em cada linha.

Moradora com abaixo-assinado pedindo volta de linhas que atendiam Vidigal
Moradora com abaixo-assinado pedindo volta de linhas que atendiam Vidigal Foto: Parceiros do Vidiga / Divulgação

Tormento dos passageiros

A desaparecimento das Troncais 4 e 9 levaram os moradores do Vidigal a elaborar um abaixo-assinado que será encaminhado à SMTR assim que atingir 3 mil adesões. Até o momento já foram obtidas mais de 700. A primeira linha liga São Conrado à Rodoviária Novo Rio, passando pela comunidade, enquanto a segunda faz o trajeto Central do Brasil—São Conrado, via Botafogo e Jardim Botânico.

— O morador está reclamando muito pela falta de transporte até Botafogo e Jardim Botânico. A gente está pedindo a volta e que esses ônibus circulem pelo menos até meia-noite para atender quem trabalha nos shoppings e sai tarde do trabalho — apela Daniel Delmiro, administrador da página Amigos do Vidiga e um dos responsáveis pela iniciativa do abaixo-assinado.

Em Cascadura, uma das linhas que mais fazem falta é a 652 (Méier-Cascadura). Assim como a 651, que fazia o mesmo itinerário só que pelo outro lado do bairro e a 311 (Candelária-Cavalcanti), sumiu desde o ano passado. Restaram a 678 (Vila Valqueire-Méier) e 560 (Marechal Hermes – Engenho Novo), mas os passageiros reclamam que circulam com poucos carros levando a uma longa espera nos pontos.

—São intervalos de até uma hora.Já as outras três linhas não voltaram. Chegaram a colocar de volta um carro da 311, mas a demora era de até duas horas. O 651 e 652 são as únicas ligações do bairro com os hospitais do Méier e com a Faetec de Quintino. Os estudantes, por exemplo precisam pegar o 298 que segue pela Rua Herculano Pena até Pilares e lá pegar outro coletivo — reclama o líder comunitário Bruno Jesus.





Fonte: G1