Joelhos femininos serão estudados por 3 anos na Inglaterra – 02/05/2024 – O Mundo É uma Bola


No futebol, o joelho é uma das regiões do corpo bastante afetadas por contusões.

E as mulheres, conforme registros, sofrem mais que os homens (até o sêxtuplo das vezes) a lesão mais temida no local, a ruptura do ligamento cruzado anterior, que resulta em longo afastamento do esporte, de seis a nove meses após cirurgia, em média, podendo chegar a um ano.

Para tentar identificar os motivos de as mulheres boleiras estarem mais sujeitas que os homens à “torn ACL” (o nome da lesão, em inglês), o Fifpro, sindicato global de jogadores de futebol, lançou nesta semana uma iniciativa que terá duração de três anos.

O Projeto ACL terá a participação da Associação de Jogadores Profissionais da Inglaterra (PFA, na sigla em inglês) e da Universidade Leeds Beckett, com apoio da fabricante de material esportivo Nike.

De acordo com a PFA, “os parceiros [do projeto] converterão as descobertas em estratégias para apoiar clubes e jogadores na introdução de práticas relacionadas ao aumento da disponibilidade dos mesmos [para a prática do esporte]”.

O Projeto ACL será implantado inicialmente na Inglaterra, com acompanhamento de cerca de 300 jogadoras de clubes que disputam a WSL (Women’s Super League, a divisão de elite, com 12 equipes). Há a perspectiva de expansão para outros países, como os EUA.

O termo ACL significa “anterior cruciate ligament”. O ligamento cruzado anterior é o tecido localizado no joelho que liga dois ossos, o fêmur (na coxa) e a tíbia (canela).

Em período recente, futebolistas famosas romperam esse ligamento.

Entre elas estão a espanhola Alexia Putellas (duas vezes a melhor do mundo, em 2021 e 2022), as norte-americanas Mia Fishel e Midge Purse, a australiana Sam Kerr e as inglesas Beth Mead e Leah Williamson.

Putellas, 30, joga pelo Barcelona (Espanha); Fishel, 23, e Kerr, 30, pelo Chelsea (Inglaterra); Mead, 28, e Williamson, 27, pelo Arsenal (Inglaterra); Purse, 28, pelo NJ/NY Gotham (EUA). Todas têm passagens pelas seleções de seus países.

A classe política do Reino Unido se manifestou neste ano em relação ao tema.

Relatório de março produzido pelo Parlamento afirma, no contexto das lesões ACL, haver uma “desigualdade sistêmica de gênero nos esportes” e citou a falta de calçados especificamente concebidos para as praticantes –no caso do futebol, chuteiras.

Os mentores do Projeto ACL afirmam que pesquisas mostram que dois terços das lesões de ligamento cruzado anterior do joelho aconteceram sem contato físico, ou seja, em movimento individual, não havendo interferência de um adversário.

“Normalmente a ruptura ocorre com um movimento de torção sobre o joelho com geração de força além da capacidade. Situações como dribles, frenagens bruscas ou corridas rápidas com mudança de direção colocam em risco o ligamento e são comuns no futebol”, escreve em seu site o ortopedista Samuel Lopes, especialista em patologias de joelho.

Entre os homens, tiveram “torn ACL” há menos em um ano jogadores de renome como Neymar (Al Hilal e seleção brasileira), Courtois (Real Madrid e seleção belga), Gavi (Barcelona e seleção espanhola), Éder Militão (Real Madrid e seleção brasileira) e Dudu (Palmeiras).

O novo estudo incluirá fatores de rastreamento relacionados à carga de trabalho (treinamentos físicos, técnicos, táticos e jogos disputados), viagens (quantidade, distância, meio de transporte) e frequência na “zona crítica”: jogar partidas com intervalo de repouso de menos de cinco dias entre elas.

“A investigação do Projecto ACL”, diz Stacey Reymonds, 37, analista de desempenho esportivo na Universidade Leeds Beckett, “observará o panorama geral para considerar os fatores ambientais de gênero que podem influenciar o risco de lesões no futebol profissional feminino.”

Por ora, questões envolvendo a fisiologia (funcionamento do organismo) das atletas serão desconsideradas na investigação. O foco serão os agentes externos.

“Existem potencialmente alguns fatores que contribuem em relação à fisiologia feminina, mas sabemos que há muito mais coisas que podem ser influenciadas por fatores ambientais em que as esportistas se encontram”, declarou Reymonds no site da emissora CBS (EUA).

Espera-se que, com uma análise consistente, minuciosa, prolongada e feita com amostragem considerável, mecanismos para evitar problemas sérios de joelho possam ser encontrados, colocados em prática e, consequentemente, reduzirem a quantidade de lesões.



Folha de S.Paulo