Gestores da marca Senna buscam expansão da imagem dele nos EUA – 30/04/2024 – Esporte


Ayrton Senna viveu boa parte de sua vida desafiando o cronômetro. Tornou-se umas das lendas da F1 pela busca contínua pelos melhores tempos nas pistas. Sua obsessão o colocou em uma posição de destaque entre os recordistas de poles e vitórias na principal categoria do automobilismo. Mas não foi apenas como piloto que ele transcendeu o tempo.

O valor da imagem do ícone brasileiro superou o passar os anos. Exatas três décadas após o trágico acidente no GP de San Marino, em Ímola, na Itália, Senna continua a quebrar barreiras, com a longevidade de seu legado através das marcas Senna e Senninha.

Ambas foram idealizadas para transmitirem as principais virtudes atribuídas ao piloto, mas de uma forma que elas não dependam necessariamente dos feitos dele nas pistas para se manterem relevantes para os fãs que acompanharam sua trajetória, assim como para aqueles que a conhecem somente pelas histórias sobre o tricampeão mundial.

Bianca Senna, sobrinha de Ayrton e CEO da Senna Brands, empresa responsável pela gestão das marcas que levam o nome do ídolo, afirma que os valores de seu tio são atemporais, porém a forma como eles são apresentados ao público “se adapta conforme o mundo vai mudando”.

“Nosso objetivo enquanto grupo que gerencia e maximiza os ativos vinculados ao Ayrton é perpetuar a história e o legado dele, ao mesmo tempo em que encaramos a missão de construir uma marca que não dependa exclusivamente da imagem do Ayrton para continuar crescendo”, diz Bianca à Folha.

Atualmente, ela vive nos Estados Unidos, de onde lidera o processo de expansão das marcas, que tem no mercado norte-americano sua principal ambição.

A ideia é aproveitar a onda gerada pela série Drive to Survive, da Netflix, que desde o lançamento de sua primeira temporada, em 2019, tem tido papel no crescimento da F1 nos EUA nos últimos anos anos, algo que a categoria buscou por décadas.

A produção sobre os bastidores da categoria se tornou um importante elo entre os pilotos do grid com novos públicos, sobretudo os jovens e as mulheres, além de despertar um interesse pelas lendas da categoria, incluindo Senna, que também terá sua história contada pela Netflix.

“O Ayrton é uma figura global e pesquisas encomendadas por nós em 2023 indicam que ele desperta mais interesse nas pessoas do que o próprio automobilismo em si”, diz Bianca.

A série biográfica sobre o piloto, com o ator Gabriel Leone no papel do ídolo, será lançada no final do ano e é uma iniciativa da Senna Entertainment, responsável por parcerias da marca para a obras de audiovisual, uma das dez áreas de negócios em que o nome do piloto é atrelado.

“A série traz o Ayrton homem”, diz Thiago Fernandes, COO da Senna Brands. “É o Ayrton com a família, o Beco [apelido dele] brincalhão, a intimidade como ser humano, tudo o que fazia dele tão especial”.

“O interesse por F1 aumentou exponencialmente por conta da série Drive to Survive e, com isso, sentimos um momento de oportunidade para estarmos mais presentes nos EUA”, acrescenta Bianca.

Para marcar o plano de ações voltado ao mercado norte-americano, nesta quarta-feira (1º), data em que a morte de Ayrton Senna completará exatos 30 anos, o icônico capacete amarelo do piloto será projetado na Sphere, um espaço futurista inaugurado em 2023 em Las Vegas, palco de uma das três corridas da F1 nos EUA nesta temporada —o Mundial passará, ainda, por Miami e Austin.

A ação é promovida pela Senna Brands em parceria com o Guaraná Antarctica e será divulgada nas redes sociais das duas marcas a partir das 13h (de Brasília).

De acordo com Bianca Senna, produtos ligados ao brasileiro estão chegando neste ano ao mercado dos EUA. Um deles, a réplica de um carro da McLaren pilotada pelo ídolo, tem sido um sucesso de vendas. “A Lego [empresa responsável pela miniatura] ficou até surpresa com a procura. Quase não se acha mais nas lojas”, afirma.

Também à venda no Brasil, a réplica faz parte de uma série de produtos e ações voltados para conquistar o público mais jovem, que não necessariamente viu o Senna correr ou gosta de automobilismo.

Disponível no catálogo da Netflix, o desenho animado Senninha é um exemplo disso. O personagem criado publicitário Rogério Martins apresenta uma versão infantil do piloto, mas com as mesmas virtudes do ídolo.

Para o público adolescente, o foco são os jogos de vídeo game. Em 2021, a Codemasters e a EA Sports apresentaram a versão oficial do jogo da F1 com a reprodução do tricampeão brasileiro. Na mesma linha, a franquia Gran Turismo buscou a Senna Entertainment para expansões dentro da plataforma.

“Precisamos reconhecer que a marca Senna tem uma elasticidade que poucas marcas possuem. Isso nos abre um leque de possibilidades grande e nos permite afirmar que a meta para o futuro é a expansão, em várias frentes”, explica Bianca Senna.

Segundo dados fornecidos pela Senna Brands, ao longo de 30 anos, a marca Ayrton Senna já movimentou US$ 1,2 bilhão (R$ 6,2 bilhões) em retail value, termo que indica o quanto foi movimentado em vendas no varejo.

Para o professor de marketing esportivo Ivan Martinho, há no Brasil uma memória coletiva muito positiva em relação a Senna, fundamental para que a marca consiga atravessar gerações. “As ações e o cuidado com a marca cristalizam essa imagem sempre associada a orgulho, vitória, disciplina e Brasil que dá certo”, ele explica.

Renê Salviano, especialista em marketing esportivo destaca que, mesmo ele sendo um ídolo, não é tarefa fácil manter o reconhecimento da marca pelo fato de o automobilismo não ser o esporte preferido do país. “De fora, a gente enxerga uma gestão profissional da família Senna”, diz. “Além disso, Senna é um ícone mundial.”

Em 2023, a empresa que cuida das marcas Senna e Senninha realizou uma pesquisa global em parceria com a Opinion Box, empresa especialista em pesquisa de mercado, que ouviu mais de quatro mil pessoas em 11 países. A apontou que que Senna é conhecido por 92% dos brasileiros, 65% dos europeus e 72% dos japoneses.

Além disso, ele é visto como uma “referência no esporte” para 98% dos entrevistados no Brasil; 88% no México; 87% na Argentina; 79% na Europa; 70% nos Estados Unidos; e 59% no Japão.

Além da idolatria pelo ídolo passada, principalmente, de pais para filhos, parte do conhecimento dentro do país se deve a atuação do Instituto Ayrton Senna, organização sem fins lucrativos dedicada à melhoria da educação de crianças e jovens, fundada em novembro de 1994, seis meses após a morte de Senna.

De acordo com o mais recente relatório anual da entidade disponível para consulta no site oficial, referente a 2022, em três décadas de atuação, 36 milhões de crianças foram impactadas por algum dos projetos do instituto, como o licenciamento de programas de estudo para escolas, além da oferta de cursos livres para professores.

A entidade tem como presidente Viviane Senna, irmã do piloto, e responsável por idealizar toda a atuação do instituto.



Folha de S.Paulo