A pandemia escancarou problemas que já eram realidade na vida de muitos profissionais. O grande exemplo foi a mudança de paradigma em relação à síndrome de burnout, ou a síndrome do esgotamento profissional. Em 2022, ela começou a ser encarada como doença ocupacional, depois de ser incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essa doença provoca um estresse crônico, como resultado do excesso de atividades profissionais. A consequência é o esgotamento físico e mental, com grande perda de interesse no trabalho, além de ansiedade e depressão.
Há aqueles que acham que nunca vão enfrentar algo do tipo ou que isso só acontece com outros. Eu também já estive nessa situação. Por exemplo, houve época que me julgava blindado às circunstâncias que levaram muitos colegas a desistir no meio do caminho ou a recolher-se à aposentadoria precoce. Até então não conseguia compreender por que as pessoas desistiam do enfrentamento da crise.
Da desconfiança alheia, tornei-me observador próximo e, depois, vítima da síndrome de burnout. Primeiro, vi essa doença atingir alguém que considerava como executivo ímpar e exemplar. E mais, alguém com quem tanto aprendi.
Continuei vivendo a vida com a mesma determinação e vontade, achando que nunca passaria por tal situação. Que ilusão! O mais doloroso dos desenganos é o autoengano.
Em certo momento, comecei a perceber a presença desse tipo de sentimento em minha vida, com o esgotamento físico e psicológico, pelo burnout, pela aversão e pelo desprazer de realizar o que sempre fiz com tanto gosto. Eu, logo eu, era a nova vítima!
Essa síndrome tornou-se uma verdadeira epidemia nas organizações e na sociedade, antes mesmo da pandemia da covid-19. A síndrome de pânico, por exemplo, é apenas uma de suas variações globalizadas mais conhecidas.
Não é de hoje que muitas empresas desumanizam o ambiente de trabalho de acordo com a necessidade obstinada do “cumprimento de metas”. Ao invés de explorar melhor as receitas, focam somente na “redução de despesas” com corte de pessoal e sobrecarga de atividades.
Vale ressaltar que todas as pessoas são suscetíveis de sofrer de esgotamento físico e psicológico. É evidente que algumas com mais facilidades do que outras. Mas são os executivos ou líderes os que geralmente mais se recusam a admitir que eles também têm limites. Muitas vezes, ao resistirem, são os que mais aprofundam as sequelas e a gravidade desta doença que devasta e transforma os seres humanos modernos. Então, todos sofrem: a família, os amigos, os colegas, igualmente vítimas da contaminação da fadiga psicológica.
É preciso encarar a síndrome de burnout como algo sério. O fato da OMS classificar como doença ocupacional já é um passo significativo. Que gestores e executivos possam enxergar melhor a raiz do problema e buscar soluções para que os ambientes de trabalho sejam tão produtivos quanto saudáveis.
(*) Wagner Siqueira é consultor de organização, diretor-geral da UCAdm – Universidade Corporativa do Administrador e conselheiro federal junto ao CFA. Autor dos livros “Estratégias de Intervenção em Consultoria de Organização” (de 2021, publicado pela Amazon); “As Organizações São Morais?” (de 2014, Editora Qualitymark), “As Seitas Organizacionais” (de 2005, Editora Fundo de Cultura) entre outros.
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