Posicionamento da Igreja Católica pode ajudar na preservação da Amazônia, dizem indigenistas



Papa Francisco usa adorno indígena em encontro informal durante o Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia

Vatican Media/AFP

Indigenistas brasileiros receberam com alívio e emoção trechos do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia que tratam sobre a proteção dos povos tradicionais. O encontro dos bispos católicos sobre temas ambientais terminou neste domingo (27), no Vaticano, com destaque especial à proteção dos povos isolados da Amazônia.

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O documento final do Sínodo afirma, por exemplo, que é importante respeitar a livre decisão dos indígenas sobre o tipo de relações que eles querem estabelecer com a sociedade moderna. “Em todo momento se deve garantir o respeito à sua autodeterminação e à sua livre decisão sobre o tipo de relações que querem estabelecer com outros grupos”, diz o texto.

“Será preciso que todo o povo de Deus – em especial às populações vizinhas aos territórios dos povos indígenas em isolamento e os povos indígenas em contato inicial – seja sensibilizado sobre a importância da inviolabilidade [desses] territórios”, afirma o documento.

Entre as diretrizes que nortearam a reunião do Sínodo deste ano, estão questões relacionadas ao modelo de desenvolvimento da Amazônia, como a exploração internacional dos recursos naturais, o extrativismo ilegal, o desmatamento e a conivência de governos com projetos econômicos que prejudicam o meio ambiente.

Como informou o blog, o governo Jair Bolsonaro prepara um projeto de lei para regulamentar a exploração de recursos hídricos, potenciais energéticos, pesquisa e lavra das riquezas minerais em terras indígenas. A proposta deverá ser apresentada ainda este ano à Câmara e ao Senado.

Na avaliação de indigenistas ouvidos pelo blog, o firme posicionamento da Igreja Católica pela proteção dos indígenas e suas tradições terá algum impacto, podendo frear o posicionamento de integrantes da gestão Bolsonaro sobre a forma da exploração das terras indígenas.

Isolamento

No documento final do Sínodo, os bispos afirmaram que, em busca de proteção a abusos e violações sofridas no passado, muitos indígenas acabaram por migrar para regiões mais inacessíveis, evitando relações com a sociedade moderna justamente para preservar sua autonomia.

De acordo com o texto dos líderes religiosos, atualmente esses povos continuam ameaçados pela invasão de seus territórios. “[Os índios] ficam expostos à limpeza étnica e ao desaparecimento”, afirmam.

Na opinião dos bispos, a “igreja local” tem a responsabilidade de cobrar do governo à defesa dos direitos dos povos indígenas, mediante uma garantia legal e inviolável dos territórios ocupados por povos tradicionais. “A igreja opta pela defesa da vida, da terra e das culturas originárias amazônicas.”

Autoridades do governo brasileiro já haviam demonstrado preocupação com o Sínodo. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, comandado pelo general Augusto Heleno, admitiu o incômodo com “alguns pontos da pauta”, incluindo questões de “soberania nacional”.

Participaram “Sínodo dos Bispos” líderes católicos de nove países que abrangem a Amazônia para debater os problemas da região. Apesar de ser uma reunião de autoridades católicas com o Papa, o Sínodo também toca em pontos mais abrangentes, como cultura, política, economia e problemas sociais e ambientais.