Pesquisadores monitoram budião-azul em Arraial do Cabo para preservar espécie


Levado à beira da extinção pela pesca e acuado pela poluição do mar, o budião-azul, uma das espécies de maior beleza e importância do país, ganha uma esperança para continuar a existir em águas do Estado do Rio de Janeiro. Também chamado de peixe-papagaio, o budião era tão facilmente encontrado nos mares fluminense que comerciantes o vendiam como se fosse badejo, um dos peixes de carne mais nobre da costa do país, numa trapaça que ficou no passado. Ele agora está quase extinto nas águas do Estado e, por isso, se tornou o primeiro peixe do Brasil a ser monitorado por telemetria, com chips e tecnologia de GPS.

Pesquisadores acompanham seus hábitos no litoral de Arraial do Cabo, onde ainda se refugia junto a alguns pontos dos costões. A meta é identificar que áreas são prioritárias para sua conservação. Arraial reúne condições únicas no litoral devido à combinação de costões com o fenômeno da ressurgência, quando as águas ricas em nutrientes sobem à superfície. O resultado é uma enorme biodiversidade e o aumento da produção pesqueira. Parte dessa diversidade depende do budião. Ele é conhecido como o jardineiro dos mares. Herbívoro, se alimenta de algas e ajuda a mantê-las sob controle em recifes e costões, permitindo que outros peixes e criaturas marinhas se estabeleçam.

De hábitos sedentários para um peixe, ele costuma viver sempre junto ao seu jardim. Esse hábito o torna presa fácil da pesca de arpão. A denominação budião, na verdade, é usada para designar popularmente nove espécies semelhantes. Em comum, o tamanho (chegam a um metro) e a beleza. Ele é também um dos mais cobiçados por sua carne. A pesca está proibida, mas isso não tem inibido a prática. O estudo para salvar a espécie faz parte do Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira no Rio de Janeiro, financiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade ( Funbio ).

— Temos uma janela de tempo estreita para evitar que ele desapareça de vez. Hoje, não se encontram mais animais maiores e mais velhos, como há cerca de 20 anos. A pesca predatória impede isso — explica o coordenador do subprojeto Costão Rochoso, Carlos Eduardo Ferreira Leite, da Universidade Federal Fluminense ( UFF ). Ele também afirma que Arraial é estratégica para a preservação do peixe porque, além da pesca, há um intenso e crescente turismo.

— Por não ter manejo, o turismo se torna predatório e causa danos severos à biodiversidade e aos serviços que ela nos presta — diz Leite. O subprojeto que ele coordena tem pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro ( UFRJ ), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Rio Grande (Furg), além da Unicamp. Os estudos se concentram na Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo e a meta é oferecer informações para o uso sustentável dos recursos pesqueiros da região. Acompanhar peixes não é trivial. Principalmente quando eles têm hábitos noturnos, como o budião-azul.

Para capturá-los e acoplar o transmissor de dados por telemetria, os cientistas precisam mergulhar à noite. Cada transmissor custa US$ 300, e não há margem para erros. Os animais são capturados com puçás, operados no barco da equipe e devolvidos ao mar. Sessenta peixes já estão sendo acompanhados. A meta é não só conhecer seus hábitos como fazer um censo e o zoneamento das áreas estratégicas. — O zoneamento, com manejo do uso por turismo e pesca, pode salvar o budião — afirma Leite.