Família Bolsonaro testa limites da democracia; reação contundente mostra que instituições estão vigilantes



O deputado Eduardo Bolsonaro e o presidente Jair Bolsonaro, em imagem de arquivo

Lúcio Bernardo Jr/Câmara dos Deputados

De forma gradativa, integrantes da família Bolsonaro testam os limites da democracia brasileira. A fala do deputado Eduardo Bolsonaro (SP) sobre a possibilidade de “um novo AI-5” em caso de a esquerda “radicalizar” não foi a primeira declaração desse tipo e não será a última.

Eduardo Bolsonaro é filho do presidente Jair Bolsonaro, atualmente exerce a função de líder do PSL na Câmara dos Deputados e presidente do PSL-SP.

A entrevista de Eduardo Bolsonaro foi concedida a uma jornalista quando o presidente ainda estava em viagem ao exterior. Recentemente, quando Bolsonaro estava internado, um outro filho dele, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), chegou a afirmar que o país não terá transformação rápida “por vias democráticas”.

Diante da reação generalizada nesta quinta-feira, o próprio presidente Bolsonaro lamentou a declaração de Eduardo e disse que está “sonhando” quem fala em AI-5.

A desaprovação de Bolsonaro, contudo, foi vista com cautela por parlamentares de diversas legendas justamente em razão do histórico de declarações semelhantes de toda a família, inclusive por parte do presidente.

“Os filhos relativizam a democracia de forma permanente”, advertiu um integrante da cúpula do Congresso.

De forma unânime, parlamentares ouvidos pelo blog nesta quinta-feira reagiram com perplexidade à fala de Eduardo Bolsonaro. Integrantes da ala militar do governo também explicitaram desaprovação em conversas reservadas e classificaram como “temeridade” a defesa explícita do AI-5.

O AI-5 é considerado um dos atos de maior poder repressivo tomados durante a ditadura, pois resultou na cassação mandatos políticos e na suspensão de garantias constitucionais.

A constatação no Congresso e entre integrantes do Supremo Tribunal Federal é que o clã Bolsonaro faz de forma intencional e pensada declarações que relativizam a democracia para, aos poucos, sentir a reação da sociedade e das instituições.

No Congresso, também há um estranhamento permanente pelo fato do próprio Bolsonaro não buscar criar um ambiente de governabilidade. Pelo contrário.

“Quando a família Bolsonaro começa a fazer um movimento para esvaziar os partidos políticos e não ter qualquer preocupação com uma base parlamentar, é um sinal de que o clã não descarta recursos autoritários”, advertiu ao Blog um influente parlamentar.

Mas se há um aspecto positivo em todo este episódio é que – a reação contundente de integrantes de todos os poderes – mostra que as instituições estão vigilantes para qualquer tentativa de retrocesso democrático.

Um senador experiente próximo ao presidente Bolsonaro chegou a alertar ao Blog que não faz sentido atacar a esquerda para justificar a defesa do AI-5. Inclusive porque, até aqui, a oposição tem demonstrado um desempenho sofrível no Congresso Nacional.

“A família Bolsonaro está em busca de um pretexto. Sabe que é real a possibilidade do ex-presidente Lula sair da prisão, com a sinalização do Supremo (Tribunal Federal) derrubar a prisão a partir da condenação em segunda instância”, observou.

Esse senador também ressaltou que Bolsonaro vai utilizar a eventual liberdade de Lula para resgatar o ambiente de polarização na sociedade. “Bolsonaro se alimenta do antagonismo ao PT e ao ex-presidente Lula. E quer manter esse ambiente de polarização permanente”, completou. “Mas esse movimento da família Bolsonaro de testar a democracia é de uma ousadia



Fonte: Plantão dos Lagos