vítima de ação no Morro dos Macacos dirigia torcida organizada e deixa dois filhos


O montador de andaime Valmir Pereira Cândido tinha completado 42 há exata uma semana quando levou dois tiros perto de casa, no Morro dos Macacos. No sábado (06), ele estava em casa por acaso: a empresa para a qual trabalhava, uma prestadora de serviços da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), concedeu uma folga para que ele começasse as compras da comemoração dos 15 anos da filha mais nova, celebrados em abril. No entanto, ao sair para encontrar um amigo, foi baleado e levado com outras quatro vítimas ao Hospital Federal do Andaraí, depois de um confronto com uma equipe da 5ª UPP/6º BPM-UPP. Segundo a Polícia Militar, os agentes teriam sido atacados por criminosos. Já de acordo com a família, os policiais chegaram atirando. Os projéteis perfuraram o corpo do torcedor do Flamengo e pai de dois filhos, no abdômen e na cabeça.

O caso é mais um em uma semana marcada por tiroteios com vítimas fatais. Na madrugada de sexta-feira, dois jovens perderam a vida na favela Gogó da Ema, no Complexo do Chapadão. Horas mais tarde, o funcionário de supermercado Paulo Roberto Lourenço da Silva foi atingido por uma bala perdida na Vila Kennedy. No dia anterior, a enfermeira Luanna da Silva Pereira, de 28 anos, morreu na porta de casa, na comunidade de Vigário Geral, durante uma operação da Polícia Civil. No domingo, a vítima foi o frentista Arilson Santiago, baleado em Tribobó, São Gonçalo, a caminho do trabalho.

— Meu irmão recebeu os tiros sem saber por quê. Ele é mais uma vítima: morreu inocentemente bebendo na frente de casa — lamenta Walkíria Vieira.

Empregado de uma prestadora da Reduc, Valmir deixou dois filhos
Empregado de uma prestadora da Reduc, Valmir deixou dois filhos

Segundo a funcionária de uma creche filantrópica, Valmir tinha acabado de voltar do dentista quando um amigo o chamou para tomar uma cerveja. O amigo conseguiu correr, escapando do mesmo destino fúnebre.

Casado há 20 anos, e com um filho de 21, o morador da comunidade era conhecido na região. Diretor da torcida Flamacacos, ele organizava eventos para outros rubro-negros poderem assistir às partidas que não eram transmitidas pela TV aberta, com o aluguel de lona e telão. Em sua página em uma rede social, a torcida “chora e em luto eterno (e) convoca em protesto, todas as torcidas organizadas de favelas, que sofrem todos os dias esse verdadeiro extermínio dos nossos jovens, dos nossos sonhos e das nossas famílias!!!”

— Nossos pais são idosos, e estão sob medicação — conta Walkíria — Meu irmão era uma pessoa que ajudava, que acolhia, e sempre protegeu os filhos.

O sepultamento de Valmir deve acontecer na segunda-feira à tarde, e será custeado pela empresa na qual ele trabalhava. A família fará um protesto depois, cobrando respostas e a realização de uma perícia no local, para averiguar a versão defendida pela PM, de um confronto com criminosos.

“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar esclarece que as circunstâncias dos casos citados envolvendo policiais militares são objeto de inquéritos instaurados pela Delegacia de Homicídios. Paralelamente, como é de praxe, a Corporação instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para avaliar a conduta das equipes envolvidas nas ocorrências”, disse a corporação em nota.

A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, por meio da Subsecretaria de Vitimados, informa que esteve com a família de Valmir nesse domingo, no Instituto Médico Legal (IML), e ofereceu atendimento social e psicológico. A equipe psicossocial está acompanhando o caso.



Fonte: Fonte: Jornal Extra