Um ano da morte de João Pedro é lembrado em ato da ONG Rio de Paz


Há um ano, durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, morreu após ser atingido por um tiro de fuzil. Hoje, dia 18 de maio, o caso segue sem solução, sem que ninquém tenha sido responsabilizado pela morte. A data foi lembrada nesta manhã num ato da ONG Rio de Paz em parceria com a Change.org, plataforma de petições on-line, com uma manifestação na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio.

João Pedro foi morto na casa dos tios
João Pedro foi morto na casa dos tios Foto: Álbum de família

“Um ano sem respostas para um crime praticado pelo Estado. João Pedro, 14 anos” estava escrito na faixa de dez metros estendida. O ato também teve como propósito cobrar por respostas sobre o que aconteceu na casa onde João Pedro estava brincando com primos e colegas quando foram feitos disparos por três policiais que participavam da operação, que deixaram pelo menos 72 marcas no imóvel da família.

ONG Rio de Paz esteve na casa onde João Pedro foi morto às vésperas do crime completar um ano
ONG Rio de Paz esteve na casa onde João Pedro foi morto às vésperas do crime completar um ano Foto: ONG Rio de Paz / Divulgação

Na tarde desta segunda-feira, dia 17, a ONG Rio de Paz esteve no local do crime também para protestar. Em frente à casa foi estendida uma faixa com a frase “Aqui foi assassinado um inocente. João, Pedro, 14 anos”. Uma foto do menino foi exibida no interior do imóvel, que ainda conserva as marcas dos disparos e raramente é visitado pela família.

Após a reprodução simulada, em outubro do ano passado, o MP enviou as armas apreendidas ao longo do inquérito — tanto a que os policiais portavam quanto às que eles afirmaram terem encontrado no local do crime — para a Polícia Civil de São Paulo para que fosse feita uma contraprova dos exames de balística. A pedido da Defensoria Pública, que representa a família de João Pedro, a promotoria pediu, ainda em 2020, que fossem repetidos os testes com o projétil de fuzil calibre 556 encontrado no corpo do menino. Logo depois do crime, os exames feitos pela Polícia Civil do Rio deram resultado inconclusivo — ou seja, não foi possível concluir se o tiro partiu da arma dos policiais. Na nova perícia, feita em São Paulo, o resultado foi o mesmo.

Policiais participam da reprodução simulada na casa onde João Pedro foi morto
Policiais participam da reprodução simulada na casa onde João Pedro foi morto Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

A Polícia Civil, em nota, afirma que aguarda documentos para a conclusão do procedimento:

“A Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) do Rio de Janeiro esclarece que a reprodução simulada do caso foi realizada de forma conjunta entre peritos da instituição e do Ministério Público (MP). Cada equipe ficou encarregada de elaborar um laudo específico. A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) aguarda o resultado do exame realizado pelo MP para anexar ao inquérito. Além disso, a Defensoria Pública e o Ministério Público Estadual solicitaram à Polícia Civil de São Paulo uma contraperícia de balística nas armas apreendidas durante a ação. A Polícia Civil do Rio de Janeiro também aguarda este último laudo para a conclusão do procedimento policial.”

Histórico de casos

Desde 2007, o Rio de Paz contabiliza casos de mortes de crianças e adolescentes baleadas no estado do Rio. Até agora já são 82 crianças e adolescentes vítimas de armas de fogo, a maioria por balas perdidas. O caso de João Pedro é o 71º. Depois dele, 11 crianças já foram mortas a tiros, das quais quatro apenas este ano.

Na Change.org, plataforma de petições online, há um abaixo-assinado que pede por justiça para o menino. No ano passado, quando o pedido foi divulgado, a atriz americana Viola Davis divulgou a petição em sua conta no Twitter ao lado da hashtag #BlackLivesMatter (“Vidas Negras Importam”, em tradução do inglês). No momento, mais de 3 milhões de pessoas assinaram o pedido.



Fonte: Fonte: Jornal Extra