Testemunhas acusam PMs de recolherem projéteis após morte de menina de 5 anos em Niterói


O cabo da Polícia Militar Bruno Dias Delaroli e os outros dois PMs de sua guarnição foram acusados por moradores do Monan Pequeno, em Pendotiba, Niterói, de terem recolhido estojos de munição que estavam perto do local onde a menina Ana Clara Gomes Machado, de 5 anos, foi baleada na última terça-feira. Levada ao Hospital estadual Azevedo Lima, em Niterói, a criança acabou morrendo. Delaroli foi preso em flagrante, acusado de ter feito o disparo que matou a criança.

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Testemunhas relataram aos investigadores da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), em depoimento, que os policiais envolvidos na ocorrência recolheram estojos de munição na comunidade. O delegado Bruno Reis, da DHNSG, relatou as denúncias feitas por moradores na decisão da prisão em flagrante de Delaroli.

De acordo com Reis, os moradores “acusavam os militares de terem regressado ao local após o socorro da vítima para arrecadar estojos de munição e assim contaminar e fraudar a cena do crime”. Os relatos foram feitos quando a equipe da delegacia chegou à comunidade para realizar a perícia de local. Ainda assim, os policiais civis conseguiram apreender estojos de munição na comunidade. As denúncias dos moradores estão sendo investigadas pela DH.

Ainda segundo o delegado, os moradores também denunciaram à polícia que no Monan Pequeno, atualmente, não há tráfico de drogas e nem a presença de homens armados, informação de vai de encontro com a versão dos PMs de que houve troca de tiros com criminosos na comunidade. Essa informação de que não há tráfico no local foi repetida por testemunhas que prestaram depoimento na especializada.

Conforme revelado nessa quinta-feira pelo EXTRA, não foi encontrado nenhum projétil de arma de fogo no corpo de Ana Clara. No entanto, será feito confronto balístico com os estojos de munição que os investigadores da DH conseguiram recolher do local. Foram localizados estojos de fuzil calibre 5.56, o mesmo usado pelos policiais militares.

Foto de relatório da Polícia Civil mostra entrada da casa de Ana Clara, onde a menina foi atingida por tiro
Foto de relatório da Polícia Civil mostra entrada da casa de Ana Clara, onde a menina foi atingida por tiro Foto: Reprodução

Diferença de versões ‘gritante’

A principal testemunha do caso foi um morador da comunidade, de 24 anos, que presenciou toda a ação dos policiais. Com seu depoimento, o delegado Bruno Reis, responsável pela prisão em flagrante de Delaroli, escreveu, no inquérito, que a diferença entre as versões dos policiais e do morador é “gritante”.

O homem narrou à polícia que estava na localidade conhecida como Pocinho, onde há um poço de água desativado, coberto com concreto, onde os moradores costumam ficar sentados conversando. Segundo ele, a casa de Ana Clara fica perto do local, a cerca de 5 metros.

O jovem relata que num primeiro momento viu um policial na entrada da Travessa Alvorada. Ele afirma que logo em seguida foi surpreendido por outros dois policiais – cabo Delaroli e soldado Trindade – que se aproximaram dele, já no início de uma rampa, fazendo disparos de fuzil. Segundo o jovem, os PMs nada disseram e simplesmente começaram a atirar.

A testemunha contou se escondeu, mas levantou as mãos e avisou ser morador. Um adolescente que conversava com ele saiu correndo por uma escada. Logo em seguida, a mãe de Ana Clara apareceu, dizendo que a filha tinha sido baleada. O soldado Trindade, então, teria dito para o colega de farda: “Que merda você fez, pega ela, leva ela”.

O jovem não relatou a presença de bandidos ou de qualquer tiroteio entre os policiais e criminosos. Além disso, ele contou aos investigadores da DH que Delaroli já tinha ido à comunidade há cerca de três semanas e avisado que da próxima vez que ele chegasse ao local e tivesse alguém sentado no beco da localidade do Pocinho, “ia chegar atirando e não ia dar em nada”.

A testemunha também ressaltou ter ouvido de moradores que os PMs envolvidos na ocorrência retornaram à comunidade depois de terem socorrido a menina para recolher estojos de munição, tendo conseguido recolher algumas.

Em seu depoimento à polícia, cabo Delaroli alegou que ele e os outros dois policiais foram atacados a tiros ao entrarem na Travessa Alvorada. Segundo ele, foi possível ver um grupo de cinco indivíduos, dois deles com pistolas. O PM diz que efetuou cerca de quatro disparos de fuzil, mas alegou acreditar não ser o responsável pelo tiro que atingiu Ana Clara. Delaroli foi preso em flagrante pela morte de Ana Clara.

O PM Bruno Delaroli
O PM Bruno Delaroli Foto: Reprodução



Fonte: Fonte: Jornal Extra