‘Se soubesse que minha filha corria risco, eu a levava para longe’


Encontrada morta, nesta quinta-feira, às margens da linha férrea em Deodoro, na Zona Norte do Rio, a manicure Thaysa Campos dos Santos, de 23 anos, comentou com a mãe e psicopedagoga Jaqueline Tavares Campos, dias antes de desaparecer, que havia se envolvido numa briga. Grávida de oito meses e com o parto marcado para outubro, a jovem não deu detalhes nem o nome da pessoa com quem havia entrado em conflito nem relatou ameaças. Mas, durante o último encontro com a mãe, no dia 28 de agosto, ela chorou e disse apenas que não havia apanhado.

Convites do chá de bebê com nome de escolhido para criança
Convites do chá de bebê com nome de escolhido para criança Foto: Reprodução

Moradora de Brasília, a psicopedagoga viera ao Rio no mês passado para tratar da divisão de um imóvel. Após a reunião de família, voltou para a Região Centro-Oeste do país.

— Lembro que ela me abraçou, me beijou e falou “mãe eu não apanhei” . Nós nos abraçamos, e a gente chorou. Não sei por quê, mas a gente chorou. Se eu soubesse que minha filha estava correndo risco, eu havia levado ela para longe comigo. Confio na Justiça de Deus, essa não falta. Não sei quem fez isso com minha filha, quem tirou a vida dela e da minha neta que ela estava esperando. Só quero que os culpados apareçam — disse.

A psicopedagoga Jaqueline Tavares Campos ( ao centro) ao chegar na delegacia
A psicopedagoga Jaqueline Tavares Campos ( ao centro) ao chegar na delegacia Foto: Rafael Nascimento de Souza/ Agência O Globo

Jaqueline Tavares voltou ao Rio, nesta quinta-feira, para prestar depoimento na Delegacia de Descoberta de Paradeiro, que investigava o sumiço da manicure. Logo após ser ouvida, ela soube por parentes que o corpo de Thaysa havia sido localizado.

A psicopedagoga descreve a filha como uma pessoa alegre, brincalhona e que confiava em todo mundo. Uma das hipóteses investigadas pela polícia é a de que a jovem tenha sido vítima de uma emboscada. Ela foi vista com vida pela última vez, ao sair de casa, na noite dia 3 de setembro, também em Deodoro, para pegar uma bolsa de maternidade.

— Minha filha era uma criança no corpo de uma mulher. Não tinha maturidade de uma mulher de 23 anos. Ela confiava em todo mundo. Só posso dizer que era uma jovem alegre, que gostava de ajudar os outros e que era muito brincalhona — disse Jaqueline.

A polícia tem duas linhas de investigação sobre o caso. A primeira é de que o chefe do tráfico de drogas do Triângulo, localidade onde a vítima apareceu morta, esteja envolvido no assassinato. Nesta quinta-feira, a delegada Elen Souto, titular da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) e responsável pela investigação, disse não ter dúvida da participação do tráfico na morte de Thaysa.

— Nenhuma morte ou crime acontece dentro de uma comunidade sem a anuência do tráfico. Por isso, além do homicídio, o gerente do tráfico daquela comunidade será indiciado por homicídio duplamente qualificado e teoria do domínio do fato — destacou Elen. Emocionada, a delegada completou:

— É inaceitável você perder uma filha assim, imagina perder a filha e a neta.

A outra linha seguida pela polícia dá conta da possibilidade do envolvimento do pai do bebê que Thaysa esperava e da mulher dele.

— O pai era um homem casado e, de acordo com os parentes, a mulher do pai do bebê disse que essa criança não viria ao mundo. É uma linha muito forte de investigação, mas há outros lados a serem apurados também e que podem estar ligados — disse a delegada na quinta-feira.

Thaysa sumiu na quinta-feira da semana passada. No domingo, dia 6, ela havia marcado um chá de bebê, que acabou não acontecendo. A criança iria se chamar Isabella. A causa da morte da manicure será conhecida após a conclusão de um exame cadavérico. A previsão é de que a família libere o corpo do Instituto Médico-Legal ainda nesta sexta-feira.

A jovem era mãe de outros dois fillhos. Uma menina e um menino, de 7 e 5 anos respectivamente. As duas crianças moram com a avó paterna.

A manicure não vivia com o pai dos seus dois primeiros filhos. Ela morava em companhia de uma amiga.



Fonte: Fonte: Jornal Extra