Produtora é investigada por videoclipes com armas e homenagens a traficantes


A Polícia Civil investiga uma produtora de videoclipes por suspeitas de envolvimento com traficantes do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Nessa terça-feira, policiais da 72 ª DP (São Gonçalo) cumpriram um mandado de busca e apreensão na sede da empresa. Foram apreendidas mídias e equipamentos de filmagem, além do celular do dono da produtora.

São alvo do inquérito dois clipes gravados no Salgueiro, complexo dominado pela maior facção criminosa do Rio. Em ambos, aparecem homens armados com fuzis e pistolas e em carros de luxo. Além disso, são feitas homenagens a traficantes da região. A polícia suspeita que o armamento seja verdadeiro e os veículos, roubados.

De acordo com o delegado titula da 72ª DP, Allan Duarte, um dos objetivos da busca e apreensão era checar se havia armas verdadeiras ou réplicas na produtora, assim como verificar a procedência dos carros que aparecem nos clipes. Durante a operação, não foram encontrados os armamentos e nem qualquer contrato de locação dos mesmos ou dos veículos. O dono da produtora foi até a delegacia, onde prestou depoimento.

Em um dos clipes investigados é feita menção a criminosos do Salgueiro, como o ex-chefe do tráfico no complexo, Schumaker Antonio Rosário, assasinado em abril do ano passado. “Saudade, F1”, diz a música, no momento em que aparece uma foto de Schumaker. O clipe, que tem mais de dois milhões de visualizações, ainda cita outros criminosos da quadrilha que foram mortos.

A polícia investiga se as armas são verdadeiras ou réplicas
A polícia investiga se as armas são verdadeiras ou réplicas Foto: Reprodução

O protagonista do videoclipe ainda faz referência ao apelido Velho, que de acordo com as investigações é o traficante Antonio Ilário Ferreira, Rabicó, considerado o “chefão” do Salgueiro. Rabicó conseguiu liberdade no fim do ano passado, mas sua prisão foi novamente decretada e ele é considerado foragido. “Tropa do Velho, poder paralelo, crime organizado”, diz parte da música do clipe.

Em outra parte da música, o vocalista afirma ser envolvido com o crime. “Eu tô nessa vida desde pequenininho. Peço perdão por ser envolvido, mas que abençoe o menor que trafica comigo”, diz o trecho.

Nos dois videoclipes investigados, são feitas menções à maior facção criminosa do Rio, que domina o Salgueiro. Em um deles, a música diz que a “tropa do G8” pertence à facção e faz provocação aos rivais, chamados de alemães. “A ordem do Velho é não recuar”.

Em outro trecho, o protagonista do videoclipe se refere ao veículo blindado do 7º BPM (São Gonçalo), batalhão responsável pelo patrulhamento da região. Ele afirma que “o caveirão do sete pia na favela”.

Um dos videoclipes já tem mais de 2 milhões de visualizações
Um dos videoclipes já tem mais de 2 milhões de visualizações Foto: Reprodução

Em seu depoimento na 72ª DP, o dono da produtora afirmou não saber se as armas utilizadas nos clipes são reais ou réplicas. Ele também disse desconhecer a origem dos veículos usados. O homem alegou que recebeu R$ 600 e foi responsável apenas pela gravação e edição. Ele afirmou ainda que quando chegou ao local de gravação já estava tudo pronto, inclusive as armas e veículos.

Ainda de acordo com Allan Duarte, a polícia vai identificar as pessoas que aparecem nos dois videoclipes e todas serão chamadas para prestar depoimento. Se for comprovado que o armamento é real e os veículos, roubados ou furtados, os envolvidos serão indiciados por associação para o tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, incitação ou apologia ao crime, além de receptação.

– O papel da Polícia Civil, nesse caso, além de apurar crimes, é social. Nessas comunidades, a maioria esmagadora dos moradores são trabalhadores, pessoas de bem. É preciso acabar com essa visão romanceada do criminoso, que cria uma ideolatria nas crianças. Nosso compromisso é jurídico e social – afirma Duarte.



Fonte: Fonte: Jornal Extra