Porta-voz da PM que atacou repórter do EXTRA e do Globo será exonerada, diz governo


O governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, anunciou que a porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Gabryela Dantas, será exonerada do cargo, que ocupa desde o início de outubro. Gabryela atacou o repórter Rafael Soares, do EXTRA e do Globo, autor de uma reportagem sobre o aumento do número de descarte de munição usada por policiais do 15º BPM (Caxias). A oficial afirmava, em vídeo publicado na noite da última terça-feira nas redes sociais da corporação, que o jornalista agiu de “forma maldosa” e que se aproveitou “da comoção nacional (uma referência à morte de duas meninas em Caxias, por bala perdida) para colocar a população contra a Polícia Militar”.

O vídeo foi apagado na tarde desta quarta-feira pelo perfil oficial da PM. Em nota, a Editora Globo, que publica os dois jornais, repudiou o vídeo em que a porta-voz classifica o jornalista como inimigo da corporação e ainda incentiva a população a divulgar a gravação. Afirma que “faz parte da prática jornalística diária lidar com críticas, contestações e pedidos de reparação de alguma informação”. Acrescentou, no entanto, que “não é papel de uma instituição de Estado atacar pessoalmente um profissional nem incitar a população contra ele”.

Os dados da reportagem criticada pela PM constam de documento produzido pelo próprio batalhão da PM de Caxias. O jornalista, amparado em tais documentos, ouviu e registrou a versão da Polícia Militar sobre os números.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou o vídeo. “Incitar a população contra o jornalista mostra não só falta de respeito à liberdade de imprensa, mas claro objetivo de intimidar o repórter”. A Abraji também questionou afirmações feitas pela tenente-coronel no vídeo, e relatou um “linchamento virtual” ao repórter nesta quarta-feira:

“Nos últimos segundos do vídeo, a tenente-coronel dá a entender que o trabalho do repórter – que “ao longo dos anos” teria tentado rotular as tropas da corporação – poderia ter evitado a morte do cabo Derinaldo Cardoso dos Santos, baleado em Mesquita, também na Baixada Fluminense. Mas a oficial não detalha como o trabalho crítico da imprensa poderia interferir na morte de policiais durante um assalto.

A convocação para divulgar de forma massiva o vídeo teve efeito imediato. Em menos de uma hora, Rafael Soares foi obrigado a fechar suas redes sociais devido a centenas de notificações de ofensas, inclusive pedindo a prisão dele.

O linchamento virtual continuou nas últimas horas. A deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ), PM reformada, escreveu: “Que a classe jornalística entenda o recado e comporte-se com ética. É só o começo”. Outros parlamentares do mesmo partido também convocaram seus apoiadores, como o deputado estadual Anderson Moraes (PSL-RJ), que chamou Rafael e os jornalistas de “vermes defensores de vagabundos”. Dois deputados oriundos da PM do Rio também ecoaram as hostilidades”.

Investigação

Policiais do 15º BPM são investigados pelas mortes das meninas Emilly, de 4 anos; e Rebecca Santos, de 7, atingidas por um tiro de fuzil quando brincavam na porta de casa, na última sexta-feira, em Caxias. A PM nega que os cinco policiais que estavam de plantão no dia do crime tenham feito disparos, mas os fuzis e as pistolas que eles usavam foram apreendidos e enviados para perícia. Parentes das meninas afirmam que o tiro que as matou foi disparado por um policial militar. Um projétil encontrado no corpo de umas vítimas pode ajudar a esclarecer de que arma partiu a bala.

As primas Rebecca, de 7 anos, e Emilly, de 4
As primas Rebecca, de 7 anos, e Emilly, de 4 Foto: Reprodução



Fonte: Fonte: Jornal Extra