Polícia Civil interdita ferro-velho onde perito foi baleado e sequestrado por militares da Marinha


A 18ª DP (Praça da Bandeira) interditou na manhã desta segunda-feira (16) o ferro-velho da Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio, de propriedade do empresário Lourival Ferreira de Lima, pai do militar da Marinha Bruno Santos de Lima. Os dois estão presos por sequestrar, matar e esconder o corpo de um policial civil do Rio, o perito papiloscopista Renato Couto, de 41 anos, na última sexta-feira (13). O corpo da vítima foi encontrado nesta segunda, no Rio Guandu, em Japeri, na Baixada Fluminense.

A vítima teria ido ao local para confirmar se materiais de uma obra que estava fazendo tinham sido furtados por usuários de crack e levados para o estabelecimento para serem vendidos. De acordo com o delegado Adriano Marcelo Firmo França, titular da 18ª DP, o espaço foi interditado “em virtude de local de crime” e por não ter “nenhuma licença para funcionamento”.

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Além da interdição do local, o delegado “determinou ainda a afixação do presente edital, comunicando a todos que lerem ou dele tomarem conhecimento que sua inutilização, total ou parcial, sem autorização legal”.

Perito papiloscopista Renato Couto, de 41 anos, foi capturado, em uma viatura da Marinha, após procurar o empresário Lourival Ferreira de Lima.
Perito papiloscopista Renato Couto, de 41 anos, foi capturado, em uma viatura da Marinha, após procurar o empresário Lourival Ferreira de Lima. Foto: Arquivo

No momento do fechamento do estabelecimento, Vitor Santos de Lima — filho de Lourival e irmão de Bruno — trabalhava e recebia material. De acordo com a Polícia Civil, o homem tem anotação pelo artigo 180, que é adquirir produto roubado.

No início da tarde desta segunda, a perícia confirmou que Renato estava vivo quando foi jogado no Rio Guandu. De acordo com exames feitos no cadáver, o policial civil foi morto por hemorragia decorrente dos disparos de arma de fogo e ainda por asfixia mecânica provocada pelo afogamento.

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Vídeo de discussão antes do crime

Uma testemunha que estava no prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), da Praça da Bandeira, registrou uma discussão que seria entre Renato Couto e Lourival Ferreira de Lima e um dos militares envolvidos, horas antes do crime. No vídeo que circula nas redes, e ainda será analisado pela polícia, é possível ver o homem que seria a vítima batendo num outro, que seria o dono do estabelecimento.

Parte da briga foi gravada na manhã de sexta-feira e o vídeo passou a circular nas redes sociais na manhã desta segunda.

Uma outra testemunha deu detalhes da emboscada contra o papiloscopista. Segundo a pessoa, o perito foi algemado por militares, apanhou do dono do ferro-velho quando já tinha desmaiado e foi arrastado até a van da Marinha. Os algozes do homem percorreram quase 80 quilômetros até arremessar seu corpo no Rio Guandu.

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Na gravação, Renato, de verde, aponta uma arma e grita para Lourival, de cinza. Em alguns momentos, é possível ver que o papiloscopista bate no dono do ferro-velho.

De acordo com as investigações, o policial tinha encontrado peças furtadas de uma obra sua no estabelecimento de Lourival e foi cobrar a devolução ou o ressarcimento.

“Ajoelha, c*ralho”, gritava Renato. “Não pode comprar produto roubado! Você me respeita!”, mostra trecho da gravação.

Depois dessa discussão, ainda de acordo com a polícia, Lourival falou com o filho, o primeiro-sargento da Marinha Bruno Santos de Lima, para revolver a situação. Segundo os investigadores, a partir daí, pai e filho arquitetaram uma emboscada.

Os dois foram presos junto com os também militares do 1º Distrito Naval Manoel Vitor Silva Soares e Daris Fidelis Motta por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. De acordo com o termo de declaração do militar, ao qual O EXTRA teve acesso, Bruno afirmou que o grupo “não combinou nada específico” sobre onde colocar o corpo. Em depoimento prestado na 18ª DP (Praça da Bandeira), o militar relatou que, somente após deixarem a Avenida Radial Oeste, onde deu tiros e colocou o policial civil dentro de uma viatura da Marinha, e estarem “em via pública”, no sentido Baixada Fluminense, “avistou um grande rio”, o Guandu, em que sugeriu que a vítima fosse deixada, não sabendo precisar se ela apresentava sinais vitais quando foi arremessada por cima da mureta do viaduto. A perícia comprovou que o policial ainda estava vivo.

Bombeiros fazem busca pelo corpo do perito da Polícia Civil Renato Couto no Rio Guandu
Bombeiros fazem busca pelo corpo do perito da Polícia Civil Renato Couto no Rio Guandu Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo



Fonte: Fonte: Jornal Extra