Polícia Civil faz operação contra servidores do Ipem por extorsão a comerciantes na Baixada


A Polícia Civil faz na manhã desta segunda-feira uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão nas casas de oito ex-servidores do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), acusados de montarem uma organização criminosa para extorquir dinheiro de empresários da Baixada Fluminense. Os funcionários públicos se passavam por policiais civis para cobrar propina de comerciantes, muitos deles estrangeiros.

Entre os alvos da ação da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), está o servidor comissionado Fábio Mathias Bullos, ex-chefe de gabinete do então presidente da autarquia Luís Machado dos Santos e também ex-chefe de gabinete do deputado estadual Renato Costa de Oliveira, o Renato Zaca (Solidariedade). Todos os alvos da operação desta segunda-feira já estão presos desde 7 de agosto por formação de quadrilha, extorsão e corrupção. Boullos mora em um apartamento de luxo na Rua Geminiano Gois, na Freguesia, Zona Oeste do Rio.

Além da casa de Bullos, policiais vão a endereços ligados aos fiscais: Tancredo Antunes Xavier, Tiago Lira Gonçalves, Leandro Macedo Peixoto, Marcelo Leite Ribeiro, Mário Jorge Lima de Carvalho e Jorge Oliveira Duarte Júnior. Todos já estavam presos. Os investigadores estão em diversos bairros do Rio, como Recreio dos Bandeirantes, Freguesia e Realengo, ambos na Zona Oeste. Além de Ramos, Engenho de Dentro, Brás de Pina e Penha, na Zona Norte, todos ligados aos suspeitos.

Os mandados foram expedidos pela juíza Viviane Tovar de Mattos Abrahão, da 1ª Vara Criminal de Nova Iguaçu.

A investigação que culminou na prisão dos servidores e que agora resulta em buscas e apreensões começou no fim de julho quando a DRCPIM descobriu que os funcionários públicos estavam se passando por investigadores da especializada para extorquir comerciantes na Baixada para que eles não fossem alvos de fiscalizações e de multas ou não tivessem as mercadorias confiscadas.

Para os investigadores, o chefe da organização criminosa é Fábio Mathias Bullos. Já o servidor público concursado Mário Jorge era o responsável por recolher o dinheiro da quadrilha, de acordo com a Polícia Civil. Na manhã desta segunda-feira os agentes estiveram na casa dele no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio.

No carro de Bullos os investigadores encontraram diversos autos de infração escondidos. Além disso, acharam dezenas de anotações que indicavam o recebimento e pagamento de propina à servidores.

Para o delegado Mauricio Demétrio Afonso Alves, titular da DRCPIM, outros servidores podem estar envolvidos no esquema.

— Isso é a continuidade das investigações para identificar possíveis membros da quadrilha que ainda estão soltos — afirmou.

Parte do material apreendido nesta manhã são provas de identificação de outros membros da quadrilha ainda não investigados. O caso segue em segredo de Justiça.

Além de se passarem por policiais para praticar as extorsões, nem todos os integrantes da quadrilha eram fiscias do órgão, conta o delegado Demétrio.

— Fiscal de fato, na quadrilha só eram dois. O resto eram motoristas e terceirizados participando de fiscalizações. O chefe de gabinete dele (de Luis Machado) estava comandando uma suposta operação. São coisas que com essa operação vamos conseguir solucionar.

Após a denúncia, o grupo começou a ser monitorado e no dia 7 de agosto e foi preso em uma falsa operação que para extorquir dinheiro de empresários. No momento das prisões, os policiais encontraram cerca de R$ 4 mil com os funcionários.

Três dias após a prisão, em 10 de agosto, o governador afastado Wilson Witzel (PSC) exonerou o presidente do órgão, o engenheiro Luís Machado dos Santos que ocupava a cadeira há apenas dois meses. Desde então, a autarquia está sem comando.

Nos bastidores, há a informação de que a nomeação de Luís Machado ao cargo faria parte de uma articulação de Witzel para tentar barrar o impeachment na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Ele seria indicado pelo deputado Renato Zaca.

A Polícia Civil apura se Luís Machado tinha conhecimento da prática criminosa. Em depoimento na Cidade da Polícia, no Jacaré, no mês passado, o então comandante do órgão negou.

Em nota, a assessoria de imprensa do deputado estadual Renato Zaca negou que Fábio Bullos tenha sido chefe de gabinete do parlamentar. Segundo Zaca, Bullos foi seu assessor parlamentar, cuja exoneração a pedido foi publicada no dia 15 de junho de 2020 em Diário Oficial.

Ainda de acordo com Zaca, “suas reivindicações ao Estado nunca foram relacionadas a cargos”. Por fim, o parlamentar disse que “sobre as prisões relacionadas ao Ipem, defende que os fatos sejam apurados e sigam o rito previsto na lei”.

O EXTRA ainda não conseguiu falar com a defesa dos citados.

O governo do estado ainda não se pronunciou sobre a falta de um presidente no Ipem.

Empresários confirmam pagamento de propina

Nos últimos dias, a DRCPIM ouviu mais de 50 comerciantes, muitos deles com boxes no Feirão das Malhas, em Duque de Caxias. Aos investigadores, as vítimas contaram que o bando liderado por Bullos intimidava principalmente empresários que não falam português e não sabem das legislações brasileiras.

À Polícia Civil, uma testemunha ligada à direção do Centro Comercial contou que os funcionários exigiam R$ 100 de cada lojista, por semana, “para que eles funcionassem sem problemas”. Além disso, a direção do espaço tinha que pagar mais R$ 1 mil.

Vários alvos da quadirlha

Existem pelo menos 20 casos envolvendo essa quadrilha sendo investigados em diversas delegacias. Entre os alvos do bando, estão postos de gasolinas, supermercados, centros comerciais e até shoppings da Baixada Fluminense e de outros municípios.



Fonte: Fonte: Jornal Extra