PM que matou a irmã alegou ‘problemas de relacionamento’ e disse ter sido alvo de ‘diversos xingamentos’

Ouvida na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) pouco depois de abrir fogo contra a própria irmã, a soldado Rhaillayne Oliveira de Mello, presa em flagrante pelo próprio marido — o também PM Leonardo de Paiva Barbosa —, contou que “já tinha diversos problemas de relacionamento” com a comerciante Rhayna Oliveira de Mello. O crime aconteceu na manhã do último sábado, em um posto de gasolina no bairro Camarão, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.

Reação: Após matar a irmã, PM bateu com algemas na testa e arrancou as próprias unhas; laudo cita ‘estado pós-traumático’

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No auto de prisão em flagrante, assinado pelo delegado-adjunto Wilson Luiz Palermo Ferreira, consta que, “mesmo ciente dos seus direitos constitucionais e legais, dentre os quais o de permanecer em silêncio, a autora narrou sua versão dos fatos, corroborando o que já havia sido dito pelo próprio companheiro”. No documento ao qual O GLOBO teve acesso, Rhaillayne também relata que “no momento dos fatos foi vítima de diversos xingamentos” por parte da irmã.

Ao prestar depoimento na DHNSGI, a PM chegou a aparentar descontrole em diversos momentos. Do lado de fora da especializada, era possível ouvir gritos de Rhaillayne : “Quero a minha irmã de volta”, repetia ela. Também ouvido na especializada, Leonardo contou que a esposa vinha se mostrando nervosa e “claramente sem paciência” nos últimos tempos.

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Após ser presa, Rhaillayne “bateu com as algemas na própria testa” repetidas vezes. Segundo o laudo de exame de corpo delito, ao qual O GLOBO também teve acesso, a mulher “arrancou as unhas dos dedos mínimos das mãos”. O documento assinado pelo perito Celso Eduardo Jandre Boechat atesta ainda que a soldado apresentou “comportamento sugerindo psicose ou estado pós-traumático” ao ser examinada no Posto Regional de Polícia Técnica e Científica (PRPTC) de São Gonçalo na tarde de sábado, passadas cerca de dez horas do crime. Na avaliação do profissional, Rhaillayne encontrava-se “apática com os fatos relatados”.

Irmã da PM, Rhayna tinha 23 anos, e deixa um filho de 3
Irmã da PM, Rhayna tinha 23 anos, e deixa um filho de 3 Foto: Reprodução

Na análise, o perito afirma também que a policial apresentou hematomas “condizentes com a autolesão relatada”. O profissional enumerou, então, os machucados sofridos por Rhaillayne: “Tumefação frontal, equimose e tumefação em terço distal do antebraço esquerdo, face antero-medial, ausência da unha do 5º dedo da mão esquerda”.

Assinado pelo mesmo perito legista, o laudo de exame de necropsia realizado no cadáver de Rhayna mostrou que ela morreu em decorrência de um disparo de arma de fogo no tórax. No documento do Instituto Médico-Legal (IML), é apontado que ela sofreu hemorragia interna, além de lesões pulmonar e vascular após ser baleada pela irmã. O documento aponta que o projétil da pistola ponto 40 pertencente à Secretaria de Polícia Militar foi encontrado na região dorsal direita da vítima.

Rhaillayne só conseguiu ingressar na Polícia Militar por força de decisões judiciais. Após prestar concurso em 2014, a aspirante a PM acabou reprovada na etapa de Exame Social e Documental, também chamada de “pesquisa social”, quando aspectos da vida pregressa do candidato são avaliados. Um documento de 2018 do Centro de Recrutamento e Seleção de Praças obtido pelo GLOBO indica que a própria Rhaillayne informou que “já fez uso de substância tóxica por três vezes em festas rave”, situações nas quais teria ingerido “maconha, LSD, ecstasy e MD“.

Após ser impedida de integrar as fileiras da corporação, Rhaillayne entrou com uma ação na Justiça contra a decisão. “Em relação à alegação de uso de substâncias entorpecentes, a autora agiu de forma totalmente transparente e honesta ao responder a pergunta realizada pelo pesquisador, momento em que afirmou ter feito uso de substâncias entorpecentes POR APENAS TRÊS VEZES NO ANO DE 2013”, pondera a petição apresentada pelos advogados da candidata. “Tal posicionamento de expor o ocorrido anteriormente demostra o seu caráter, o sentimento de agir com a verdade e retidão com o que preceitua, acreditando-se que não estaria devendo nada à Justiça ou a qualquer outro órgão”, prossegue a defesa, cuja tese acabou prevalecendo nos tribunais.

Fonte: Fonte: Jornal Extra