O sepultamento do corpo de Rafaelly da Rocha Viera, de 10 anos, foi marcado por choro, tristeza e pedidos de justiça. Parentes da menina, que morreu após ser atingida por um tiro de fuzil, se reuniram desde as 10h desta sexta-feira, em frente ao Cemitério de Vila Rosali, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O velório, marcado para as 13h30, contou com a presença da família e moradores da comunidade que foram prestar as últimas homenagens.
— Na rua que meus netos brincam, as mães de São João de Meriti choram — desabafou um pastor que conduziu uma corrente de oração.
Abalados, os parentes da menina não quiseram falar com a imprensa. Rafaelly completou 10 anos no último dia 20 e neste sábado comemoraria o aniversário com uma festa num sítio em Nova Iguaçu.
Rafaelly foi atingida por um tiro de fuzil enquanto brincava perto de casa, na Rua Doutor Monteiro de Barros, esquina com a Rua Getúlio de Moura. Na ocasião, testemunhas relataram que homens encapuzados invadiram a rua e começaram a disparar. Segundo o g1, a bala perdida atingiu a criança na altura do tórax.
Na manhã de ontem, a avó materna, Rosa Maria Salgado, esteve no Instituto Médico-Legal (IML) de Duque de Caxias para reconhecer o corpo da neta e embargou a voz ao lembrar dos momentos felizes ao lado da pequena.
— Não tenho palavras, eu só quero a minha Rafa de volta. Ela era minha única netinha. Não tenho palavras para descrevê-la, era uma ótima criança. É um momento muito difícil, ela era só uma criança. Completou 10 aninhos no dia 20, e agora… Cadê a Rafa? Eu só posso pedir forças — desabafou.
Marido de Rosa Maria, Wellington Ladislau está na família há quase 20 anos e acompanhou a avó da criança até a UPA, mas receberam a notícia da morte ainda no caminho.
— A gente vê a violência pela televisão, e hoje quem chora somos nós — lamenta, afirmando que só pode pedir “Justiça a Deus”.
Segundo a Secretaria de Saúde de São João de Meriti, a menina deu entrada na UPA do bairro Jardim Íris às 19h40 de quarta-feira, ainda com vida, “vítima de lesão por arma de fogo”, mas não resistiu aos ferimentos.
Já a Polícia Militar informou que o 21º BPM (São João de Meriti) não fazia operação no local no momento em que Rafaelly foi atingida, mas que prestou auxílio no resgate após uma equipe que fazia patrulhamento no Centro da cidade ter sido abordada pelo condutor de um carro, “o qual informava estar socorrendo uma pessoa ferida por disparo de arma de fogo”.
Após a morte de Rafaelly, o batalhão enviou equipes ao local após relatos de que “indivíduos armados estariam circulando na região”, situação que não foi constatada, mas o patrulhamento permaneceu reforçado, inclusive ontem.
De acordo com a Polícia Civil, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga a morte da menina. Segundo testemunhas ouvidas, “um carro não identificado passou pela rua atirando” e, por isso, a investigação busca imagens de câmeras de segurança, além de realizar outras diligências, para identificar a autoria dos disparos.
Noventa e duas crianças mortas desde 2007
A ONG Rio de Paz compartilhou em sua conta oficial no Twitter que, desde 2007, 92 crianças foram mortas no estado, sendo “a maioria por balas perdidas”.
“Como permitir que isso aconteça com nossas crianças? Como ficam as famílias? Cadê o estado? Quando vão mudar essa política de segurança pública assassina? São perguntas pelas quais esperamos respostas há anos enquanto nossas crianças são mortas”, publicou a ONG.
Na virada do ano, o menino Juan Davi de Souza Faria, de 11 anos, foi atingido por um tiro na cabeça quando subiu em uma cadeira, na varanda da sua casa, em Mesquita, na Baixada Fluminense, para contemplar o espetáculo provocado pela queima de fogos nos primeiros minutos do dia 1° de janeiro.
Em São João de Meriti, também na Baixada Fluminense, Ítalo Augusto de Castro Amorim, de 7 anos, estaria brincando na porta de casa, na Rua Ceci, no Éden, quando foi atingido por um disparo. Ele chegou a ser levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro, mas chegou ao local morto.
A plataforma Fogo Cruzado anunciou em janeiro deste ano que a marca de mil vítimas de bala perdida foi atingida no fim de 2022, em mapeamento da violência armada no Rio, realizado desde julho de 2016.
Fonte: Fonte: Jornal Extra