Pai de bebê de grávida morta a tiros em Campos é investigado pelo crime; segundo suspeito é preso

Após a morte da grávida Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, alvo de tiros na rua em que morava em Campos dos Goytacazes na última quinta-feira, o pai da criança, o professor de Química Diogo Viola de Nadai, é investigado formalmente pelo envolvimento na morte da mãe de seu filho. A 134ª DP (Campos), à frente da investigação, trabalha com a hipótese de motivação passional para o crime. Nesta tarde, o segundo suspeito de fazer a emboscada foi preso na cidade do Norte Fluminense.

Morta na noite de quinta-feira, Letycia dirigia o carro da empresa em que trabalhava como gerente. No momento do crime, a gestante de oito meses trazia a tia Simone Fonseca — que tem síndrome de Down — de um passeio e a deixava na rua Simeão Schremeth, mesma via em que morava.

Depois de encostar o carro, dois homens em uma moto se aproximaram do veículo conduzido por Letycia e o garupa disparou contra a motorista. A tia, que estava no banco do carona, não foi atingida, mas agora lida com o trauma de ter presenciado a cena e ficado coberta pelo sangue da sobrinha.

Neste sábado, um dos ocupantes da moto usada na execução de Letycia foi preso em Campos, depois de diligências da Polícia Civil pelas comunidades do município. Na tarde desta segunda-feira, o segundo suspeito também foi levado à delegacia.

Também investigado pela Civil, o pai da criança, Diogo é professor do Instituto Federal Fluminense desde 2008 e, de acordo com o Portal da Transparência, trabalha em jornada de dedicação exclusiva. Na folha de pagamento de janeiro deste ano, a mais recente disponível no sistema, o servidor público aparece com uma remuneração bruta de R$ 18.663,64.

Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, morreu na noite de quinta-feira, após ser alvo de tiros na rua em que morava em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense; ela estava grávida de oito meses
Letycia Peixoto Fonseca, de 31 anos, morreu na noite de quinta-feira, após ser alvo de tiros na rua em que morava em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense; ela estava grávida de oito meses Foto: Reprodução / arquivo pessoal

A instituição é a mesma em que Letycia Fonseca se formou como técnica em eletrônica em 2014 e foi onde, segundo pessoas próximas, o casal teria se conhecido. Pai de Hugo Peixoto Fonseca, o bebê que Letycia esperava, Diogo vivia um relacionamento com a jovem, no que um parente chama de “relação estranha”: o empresário aparecia “de vez em quando” e não gostava de aparecer em fotos.

— Ele é um cara de poucas palavras, a Letycia também era uma pessoa reservada — justifica um familiar, que não sabe dar muitos detalhes sobre a relação de Letycia e Diogo. — No dia do crime, ele dormiu na casa da Cintia (mãe de Letycia) e, durante o enterro (no dia seguinte), chegou a dormir.

As investigações, segundo balanço da delegada à frente do caso, Natália Patrão, titular da 134ª DP (Campos), caminham para o crime ter motivação passional.

— Eu representei pedindo o recolhimento do passaporte do pai, como uma forma de resguardar ao final do processo a aplicação da lei penal. Uma medida cautelar de prevenção. Mais diligências externas foram feitas, provas produzidas e testemunhas ouvidas. Vou resguardar o sigilo para garantir o sucesso da investigação, estamos em um caminho muito bom — declarou Natália durante este fim de semana.

Em um dos poucos registros que a família tem conhecimento, o pai da criança aparece sem camisa ao lado de Letycia. Abraçado à grávida, ambos estão com as mãos sobre as próprias barrigas.

Empresário, seu nome consta no quadro societário de uma loja de calçados de Campos dos Goytacazes. Natural do Espírito Santo, a família de Letycia aponta que ele fazia muitas viagens.

No ano passado, Diogo participou do campeonato brasileiro de pôquer (o BSOP), em São Paulo. Na ocasião, a página de notícias do site oficial do evento destacou a participação de Diogo, já que, na categoria em que disputou, “ninguém juntou mais fichas” do que ele.

A matéria, de novembro de 2022, destaca que, de 160 inscritos, apenas 15 sobreviveram àquela etapa do torneio, inclusive Diogo. Na mesa final, Diogo figurou na sexta colocação.

A reportagem procurou Diogo de Nadai, mas não conseguiu contato.

‘Excelente aluna’

O pequeno Hugo Peixoto Fonseca, que chegou a nascer com vida, mas morreu no dia seguinte à morte de Letycia, foi enterrado com a mãe na noite de sexta-feira, em Campos. No velório, que atrasou pois a família aguardava a liberação do corpo do bebê, o pai da criança esteve presente e segurou o caixão do filho.

Engenheira de Produção com bacharel e mestrado, Letycia Peixoto Fonseca foi lembrada pelas instituições em que estudou como uma estudante de destaque.

A Universidade Candido Mendes — faculdade em que cursou a graduação — divulgou em seu site uma nota de falecimento com “profunda tristeza e consternação”.

“Letycia era uma excelente aluna na graduação em Engenharia de Produção e por isso continuou os estudos cursando mestrado na mesma área na UENF”, relembra a Candido Mendes. “Infelizmente, nos deixou precocemente, vítima de um crime bárbaro ocorrido na noite do dia 02/03, que chocou a sociedade campista e está sob investigação.”

Já a Universidade estadual do Norte Fluminense informa que Letycia concluiu seu mestrado em Engenharia de Produção na instituição no segundo período de 2019, mas que só publica notas de falecimento de estudantes com matrículas ativas, ou de servidores (ativos e aposentados).

A direção-geral do campus Guarus (Campos dos Goytacazes) do Instituto Federal Fluminense, por sua vez, manifestou sua solidariedade aos familiares e amigos da ex-aluna por meio das redes sociais.

Fonte: Fonte: Jornal Extra