O Rei Leopoldo II e a Amazônia


Leopoldo II foi rei da Bélgica de 1865 a 1909, quando faleceu. Em certo momento de seu reinado, Leopoldo II tentou convencer os belgas que deveriam obter colônias no continente africano, pois lá sabia que existiam grandes riquezas e que seus habitantes seriam facilmente dominados. Eles viviam quase na Idade da Pedra. Sua ideia não foi bem aceita pelo parlamento belga, porém Leopoldo não desistiu.

Rei é rei e tem sempre respeitabilidade, poder e ligações poderosas. Sua irmã era a imperatriz Carlota do México, ele era neto do Rei Luís Felipe I da França, além de primo da Rainha Vitória do Reino Unido — também imperatriz da Índia. Assim, Leopoldo II inventou uma tal de Conferência da África Ocidental, ocorrida em Berlim entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, com a participação das grandes potências da época.

Leopoldo II ganhou o direito de explorar particularmente, sem participação do seu país, uma imensa extensão da África, que chamou de Estado Livre do Congo, tornando-se um dos homens mais ricos do planeta. Para tanto, mentiu, manipulou e enganou, pois as promessas que fez de respeitar os direitos humanos ele sabia que não iria cumprir. Para controlar a exploração das riquezas naturais, madeira, borracha, marfim, ouro e diamantes, Leopoldo II contratou mercenários para escravizar os nativos. Os métodos de controle eram espancamentos, mutilações, assassinatos e estupros.

Para esconder do mundo as atrocidades praticadas, Leopoldo II proibiu o ingresso de estrangeiros em seus domínios. Os registros desses fatos são chocantes. Pessoas com mãos amputadas por se recusarem à escravidão. Não há dados precisos sobre quantas pessoas foram assassinadas e mutiladas naquela região da África sob o domínio do rei belga, porém historiadores e pesquisadores calculam em cerca de 10 milhões de pessoas.

Desde a implementação dos domínios de Leopoldo II na África até os dias atuais, a terra natal do homo sapiens é machada por sangue. Seja em consequência da ganância das potências estrangeiras, seja por guerras sem fim entre os próprios africanos quando ganharam independência, conforme muito bem relata a jornalista portuguesa Felícia Cabrita no seu livro “Massacres em África”, publicado em 2008.

Hoje, não há respaldo político para estrangeiros invadirem um país, saquearem suas riquezas, dominar e escravizar sua população, mesmo que para tal possuam força militar superior. É preciso um novo método, novos argumentos, ameaças veladas. É necessário usar à exaustão o chamado conceito da “janela de Overton” ou “janela do discurso”, conceito criado pelo americano Joseph P. Overton para explicar como se manipula a opinião pública em favor de interesses.

A histeria em torno da Amazônia que hoje assistimos é a concretização desses novos processos de dominação e manipulação. Os interessados em saquear a imensidão de riquezas existentes na Amazônia devem esconder a todo custo suas intenções; porém, para conseguirem o que querem, usam de argumentos emotivos, alertas catastróficos, ameaças, utilizando de todos os meios para convencer a opinião internacional, usando até mesmo uma adolescente autista apresentada em toda a imprensa como um anjo enviado dos céus para alertar sobre a desgraça que se aproxima.

Para os céticos, os que não quiserem receber o diploma de trouxa, bobão, sugiro a leitura do livro “Como a picaretagem conquistou o mundo” do escritor e jornalista inglês Francis Wheen, obra a qual o centenário jornal “Sunday Times” classificou como “magnífico ataque à estupidez contemporânea”, o que parece ser uma grande verdade, pois, mesmo com todo o desenvolvimento intelectual e tecnológico, grande parte dos seres humanos ainda se deixa levar por discursos que escondem interesses escusos.



Fonte: Fonte: Jornal Extra