No adeus a jovem morto por bala perdida no Catumbi, família revela que rapaz sonhava em se mudar por conta da violência


O estudante Caio Gomes Soares, de 23 anos, morto por uma bala perdida dentro de casa, nesta segunda-feira, no Catumbi, quando pegava um refrigerante na geladeira, tinha medo da violência do Rio. De acordo com parentes e amigos presentes no adeus ao rapaz, no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi, nesta terça, o aluno de Educação Física da Uerj costumava sair mais cedo dos eventos que frequentava para não chegar em casa tarde da noite e sonhava em deixar o local. O rapaz vivia com a mãe, no bairro onde ficam os morros da Coroa e do Querosene.

Muita gente esteve presente na cerimônia, na tarde desta terça. Maria José Soares, mãe de Caio, usou a camisa do Flamengo, time de coração do filho, para homenagear o estudante. Emocionada, ela revelou que o sonho do jovem era morar em outro local por conta do medo da violência.

— Caio queria sair por conta de ter que chegar tarde. A gente sempre teve medo da violência. Medo de uma bala achada, medo de tantas coisas. Nós não temos segurança nenhuma — disse.

Logo após enterrar o filho, Carlos Alberto Soares, pai do estudante, fez um desabafo emocionado dirigido ao governo do estado.

— Foi uma morte estúpida? Foi. Pelo amor de Deus, governadores, presidente, alguma coisa façam para parar de sofrer pai e mãe. Eu não estou aguentando mais isso. Chega! Chega disso — disse, chorando.

Caio Gomes Soares foi atingido por um tiro dentro de casa, no Catumbi
Caio Gomes Soares foi atingido por um tiro dentro de casa, no Catumbi Foto: Reprodução / Instagram

Centenas de jovens, a maioria alunos da Uerj, colegas de faculdade de Caio, acompanharam o sepultamento. Descrito como sendo um jovem sorridente que adorava festas e o carnaval, o estudante foi sepultado ao som da bateria do Instituto de Educação Fisica e Desportos da Uerj.

— Caio era uma pessoa de muita luz e muita paz. Fazia de tudo para agradar e ajudar a todos. Ele tocava praticamente tudo na bateria, gostava muito de repinique e surdo — disse Raquel Correa Máximo, também aluna da Uerj.

A morte do estudante está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital, que tenta descobrir de onde teria partido o tiro que o atingiu na manhã de segunda-feira.

Caio foi atingido por um tiro no mesmo horário que PMs e traficantes trocavam tiros no Morro da Coroa, nesta segunda-feira. Os policiais foram até o local para checar uma informação de que um PM teria sido sequestrado e levado para a comunidade. Após o tiroteio, a denúncia acabou não sendo confirmada.

Abaixo, nota da Polícia Militar sobre a operação de segunda-feira.

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, no início da manhã de segunda-feira (19/10), policiais militares do 4º BPM (São Cristóvão) e 5º BPM (Praça da Harmonia) foram acionados pelo Serviço 190 para verificar relato de que um policial militar teria sofrido uma abordagem criminosa e levado para o interior da comunidade do Morro da Coroa, bairro do Catumbi.

Assim que as equipes chegaram às vias de acesso à comunidade, criminosos dispararam tiros do alto do Morro da Coroa em direção aos policiais, que reagiram. Após o confronto, as equipes não confirmaram a informação de que um policial teria sido levado por criminosos.
Ainda durante a manhã, o 5°BPM recebeu um chamado devido a um homem que estaria ferido e em óbito . No local, o fato foi constatado e a área foi isolada para perícia. De acordo com a família o tiro foi disparado do alto do morro e atingiu a vítima enquanto dormia.

Procurada para comentar as declarações do pai do estudante, a assessoria do governador Cláudio Castro emitiu a seguinte nota:

O governador em exercício se solidariza com a família do jovem Caio Gomes Soares, de 23 anos, morto com uma bala perdida dentro de casa, no Catumbi. Ele determinou uma investigação rigorosa da Polícia Civil e solicitou que a Subsecretaria de Vitimados acompanhasse no mesmo dia a família da vítima. Os assistentes sociais ainda estiveram no enterro, na tarde terça-feira, a pedido da família. Nesta quarta-feira (21), a equipe psicossocial da Subsecretaria voltará à casa dos pais de Caio para dar sequência no acompanhamento



Fonte: Fonte: Jornal Extra