Motorista de aplicativo levou quatro facadas antes de morrer na porta de hospital


Já passava das 23h quando o motorista de aplicativo Alexandre Jorge Monteiro de Sousa, de 40 anos, terminou sua última corrida, anteontem. Ele teria deixado o passageiro na favela Parque União, perto da Avenida Brasil, em Bonsucesso. Às 23h56, imagens de uma câmera de segurança mostram o carro dele subindo a calçada em frente ao portão do Hospital Federal de Bonsucesso. Uma hora depois, vigilantes da unidade chamam policiais militares que lanchavam a poucos metros dali, e o corpo de Alexandre é encontrado ao volante. Ele levou quatro facadas: no pescoço, no abdômen e outras duas superficiais no ombro.

A família do motorista, que tinha acesso a seus trajetos por meio de GPS, diz que a vítima dirigiu cerca de três quilômetros, já ferida, até o hospital, que está com a emergência fechado desde um incêndio em outubro do ano passado. Laudo do Instituto Médico-Legal (IML) mostra que a causa da morte foi hemorragia interna. A principal hipótese para polícia é de que ele tenha sido vítima de latrocínio (roubo seguido de morte). São procuradas testemunhas para saber como a vítima levou as facadas.

Alexandre chegou ao hospital em seu Fiat Uno acessando a Avenida Londres pela contramão. Ele não conseguiu descer do carro. Em seguida, pelo menos dez pessoas passaram pela calçada, entre o portão e o carro. Até que a mesma câmera de segurança mostra que, à 0h52, um carro da PM entra na rua, também pela contramão, e estaciona na calçada oposta, quase em frente ao Fiat Uno. Os policiais descem e começam a lanchar. Dois minutos depois, dois vigilantes aparecem, saem do hospital, olham para dentro do carro e chamam os policiais.

Muito abalada, a viúva da vítima, a técnica de enfermagem Samila de Souza, de 32 anos, acusou os vigilantes de “negligência”:

— Eu, como profissional da Saúde, me sinto derrotada. A gente faz um juramento, e aqui esse juramento não existiu. Foi negligência. Os seguranças, em vez de abrir o hospital, só chamaram a polícia. Eles poderiam ter salvado o meu marido. Ele era trabalhador. O ladrão está vivo, e ele ali morto. O que faz agora?

O pai de Alexandre, Lourival de Sousa, de 65, reconheceu o corpo do filho no IML:

— Ele deve ter saído do carro para fazer um lanche e devem ter visto que ele estava com cerca de R$ 700 e tentado tirar o dinheiro. Não sei o que fazer. Perdi o meu único filho.

Em nota, a direção do HFB lamentou a morte do motorista e afirmou que ele não chegou a dar entrada na unidade. Acrescentou que, “após liberação da Polícia Federal, iniciou, em 23 de dezembro, reformas do Prédio 1, onde houve um incêndio e no qual funcionavam a emergência, o setor de cirurgias de alta complexidade, enfermarias, o setor de hemodiálise e a área de exames de imagens”. O local ainda está em reforma.

De acordo com relatos dos seguranças, o motorista foi encontrado já sem vida dentro do carro. Mais tarde, o hospital informou que abriu uma sindicância para apurar a conduta dos vigiltantes.

Samila contou que o marido tinha medo da violência nas ruas. Por isso, pediu a ela que monitorasse seus trajetos pelo GPS. Segundo ela, o casal inaugurou no dia do crime uma loja para vender frango assado, em Santíssimo, na Zona Oeste, perto da casa deles. Era um sonho de muito tempo:

— Tínhamos aberto a loja para comprar uma casa. Eu achei estranho a demora naquela noite e fui até a porta do hospital. Ele já estava morto.



Fonte: Fonte: Jornal Extra