Moradores protestam no Tanque após morte durante operação policial

Um protesto de moradores da comunidade do Covanca, no Tanque, Zona Oeste do Rio, fechou na tarde desta segunda-feira parte da Avenida Geremário Dantas. O protesto ocorreu após uma operação da Polícia Militar na comunidade. Um homem teria morrido durante a ação da PM.

Procurada, a PM afirma que neste domingo equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) atuavam na favela, quando policiais se depararam com suspeitos. Teria tido confronto e os homens conseguiram fugir. Uma pistola, munições e uma granada foram apreendidas após varredura.

“Dois indivíduos feridos deram entrada em unidades de saúde da região (UPA da Taquara e Hospital Municipal Lourenço Jorge) As ocorrências foram encaminhadas para a 32ª DP, 41ª DP e Delegacia de Homicídios”, diz nota da PM.

‘Não é porque mora em favela que é bandido’, diz pai de jovem morto na Kelson’s

O pai do jovem Alex Souza de Araújo Santos, de 19 anos, baleado nas costas, no último sábado, na comunidade Kelson´s, na Penha, chamou os policiais de despreparados, os comparou a um grupo de extermínio e disse que a morte do filho foi uma execução. Parentes afirmam que policiais militares efetuaram o disparo contra o estudante a uma distância de cerca de dez metros. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e pela Corregedoria da Polícia Militar. O corpo de Alex foi enterrado por volta das 16h desta segunda-feira, em Irajá.

— Acabei de ver o corpo do meu filho dentro de um caixão. Os policiais despreparados. Na verdade, é um grupo de extermínio — disse o pai do jovem, Robson de Araújo. — Falar que tinha arma e droga é fácil, quero ver provar. Cadê? Quem é pago para defender, mata mais do que defende. Nem se fosse bandido merecia morrer do jeito que morreu. Não é porque mora na favela que é bandido.

Robson de Araújo segura a camisa de futebol do filho, Alex Souza de Araújo Santos, de 19 anos, morto após ser baleado na Kelson's
Robson de Araújo segura a camisa de futebol do filho, Alex Souza de Araújo Santos, de 19 anos, morto após ser baleado na Kelson’s Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

O jovem estava a caminho da casa da avó quando foi morto no último sábado.
— Agora a mãe chora lá. Amanhã é aniversário dela. Esse é o presente? — questionou o pai. — Ele foi morto perto de casa. Não posso dizer para onde ia, mas estava no caminho da casa do avô. A última que teve contato com ele naquele momento foi a tia. Todos estão muito abalados.

Confronto no sábado: Base da PM pega fogo na comunidade Kelson’s após ataque e morador é morto

Segundo a Polícia Militar, agentes foram atacados por criminosos armados no interior da favela. Alex teria sido atingido durante um confronto. A corporação afirma que com ele foram apreendidos um simulacro de pistola, dois radiocomunicadores e drogas. Robson nega que o filho tivesse qualquer envolvimento com o crime.
— Disseram isso, mas cadê? Por que eles não apresentaram nada? Meu filho nunca teve nenhuma passagem. Foi uma execução. Um tiro pelas costas sem ter nada. É um momento difícil, mas a gente vai buscar. Quero que não morram mais pessoas, crianças, moradores, da forma que ele morreu.

No momento em que o corpo de Alex foi enterrado, parentes e amigos se emocionaram. Cerca de 200 pessoas acompanharam a cerimônia. Alguns se desesperaram, como a avó do jovem, que gritava que o neto não merecia ter morrido. Houve ainda choro, palmas e pedidos por justiça por quem acompanhava a despedida.

A morte do jovem causou reações entre amigos e vizinhos, que atearam fogo na base da corporação na região, no sábado. Pessoas da região reforçavam a tese de que Alex não tinha envolvimento com o tráfico. Ele cursava o 3º ano do Ensino Médio e iria começar a trabalhar como auxiliar de pedreiro com um tio nos próximos dias. O jovem jogava futebol em categoria de base e sonhava com carreira militar.

‘O menino não tinha nada’

Uma moradora da Favela da Kelson’s estava em casa no momento em que Alex foi baleado. Ela mora próximo ao lugar onde ele foi ferido. Segundo a mulher, o jovem não carregava nenhum tipo de armas, rádios ou drogas, diferente do que afirmam os policiais militares envolvidos na ocorrência.

— Escutei um estrondo na hora. Até pensei que meu filho tinha derrubado alguma coisa, então gritei o nome dele e botei a cabeça para fora da janela. Já vi o rapaz caído com sangue. Gritei pro meu marido que alguém tinha tomado um tiro. Vi os policiais no cantinho da parede com a arma apontada — afirmou a moradora — O menino tentava se virar com o ferimento. Não tinha nada com ele. Nós vimos, fomos nós da comunidade que socorremos.

Investigação: PMs envolvidos em morte de jovem na Zona Norte tiveram armas apreendidas

A mulher reforça ainda que outros moradores também estavam no local, e que ninguém confirma a versão dos agentes.

— Não tinha nada com o menino. Ninguém viu nada, isso é mentira — assegura a moradora, que se diz horrorizada com o crime. — Conheço a família há anos, crescemos juntos. Não consigo dormir desde sábado, fiquei em prantos com tudo isso.

Em nota, a Polícia Militar afirma que os agentes “envolvidos na ocorrência” utilizavam câmeras operacionais portáteis e que as imagens são analisadas pela Corregedoria da corporação.

Veja a nota da Polícia Militar na íntegra:

“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, no fim da tarde de sábado (4/3), de acordo com policiais militares do 16ºBPM que participaram da ação, a equipe da unidade foi atacada a tiros por criminosos armados na Comunidade Kelson, e houve confronto. Após cessarem os disparos, os policiais encontraram um indivíduo ferido. Ainda de acordo com os agentes, o homem portava um simulacro de pistola, dois rádios comunicadores e drogas. Os militares tentaram socorrer o indivíduo, mas, neste momento, populares atiraram pedras e outros objetos na equipe, que foi atacada novamente por criminosos armados. Em seguida, um homem socorreu o indivíduo ferido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas ele não resistiu. A ocorrência foi registrada na 22ªDP.

Posteriormente, a base policial da Comunidade Kelson foi atacada por moradores da região, sendo necessário reforço policial de outras unidades, incluindo equipes de Rondas Especiais e Controle de Multidão (RECOM) e Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE) para estabilizar a região, que segue ocupada pela Polícia Militar.

Ressaltamos que o policiamento continua intensificado em toda a comunidade.

De acordo com o comando do 16ºBPM, os policiais envolvidos na ocorrência foram ouvidos e foi aberto um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do fato. A SEPM informa que os policiais envolvidos na ocorrência citada usavam câmeras operacionais portáteis. As imagens estão sendo analisadas pela Corregedoria Geral da Polícia Militar”.

Fonte: Fonte: Jornal Extra