Amigos e parentes do guia de turismo Daniel Mascarenhas Xavier da Silva realizaram um ato em frente aos Arcos da Lapa, na tarde desta terça-feira, pedindo justiça e segurança. O rapaz estava indo para casa, na madrugada do dia 4, depois de conduzir um grupo de turistas por um roteiro noturno a pé pelos bares e restaurantes da Lapa quando foi abordado por duas mulheres numa moto que anunciaram o assalto. Rafael entregou a bolsa que carregava com pouco mais de R$ 300 que havia ganho com o trabalho da noite, mas reagiu quando uma delas pediu o celular. Na luta ele foi esfaqueado e, sem socorro, morreu em frente ao Hospital Souza Aguiar, na Praça da República.
— O mais triste dessa história toda é que meu filho morreu a poucos metros do hospital. Alguém poderia ter ajudado o Daniel a chegar no hospital e mesmo que os ferimentos o levassem à morte ele teria uma morte mais digna do que morrer no meio da rua, sozinho. Essa é a minha dor mais profunda. Meu filho ficou jogado no meio da rua sozinho esperando a polícia vir buscar. Era um rapaz trabalhador, fiel, honesto e essa parte é muito triste — disse, aos prantos, Denise Mascarenhas, 61, mãe de Daniel.
Entre os amigos do curso técnico de Turismo, encerrado há apenas três meses, o clima era comoção.
— A gente organizou esse ato com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para o quanto a questão da segurança precisa ser prioritária. O Daniel era um cara culto, estudioso, uma pessoa que não deixava ninguém sozinho, estava sempre pronto para ajudar. Difícil acreditar que isso tenha acontecido com ele — disse Jaime Alves, ex-colega de turma de Daniel.
O grupo vestia camisas com a foto de Daniel e empunhava uma faixa com os dizeres “Rafael Mascarenhas, você jamais será esquecido”.
— Meu irmão era uma pessoa reservada, mas muito brincalhão, era alto astral. Gostava de cuidar de plantas, de levar alegria para os outros. Tiraram meu irmão de mim. A gente só pede justiça e segurança para o Rio para que uma coisa como essa, uma dor como essa, não seja vivida por outras pessoas — disse Beatriz Mascarenhas, 29 anos, irmã do guia assassinado.
Representantes da Liga Independente dos Guias de Turismo do Rio (Liguia), que realizavam uma ação na escadaria Selarón, em homenagem ao artista chileno Jorge Selarón, cuja morte completou 10 anos nesta terça-feira, também participaram do ato.
—Os guias de turismo estão nas ruas o tempo todo e isso de certa forma nos torna vulneráveis a essa violência que é um problema crônico que atinge toda a sociedade. Estamos muito expostos. É preciso que haja um olhar das autoridades para nossa atividade — acredita Luana Sotero, secretária Executiva da Liguia.
Acusadas de matar Daniel Mascarenhas foram presas
Na tarde de sexta-feira, pouco mais de 48 horas depois da morte de Daniel Mascarenhas, agentes da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) e da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) prenderam as duas mulheres suspeitas de terem matado o guia de turismo. Elas foram encontradas na casa de parentes em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Segundo a Polícia Civil, Ana Claudia Pires Mazeto e Marcelly Andressa Damasceno de Albuquerque teriam fugido para o local após terem sofrido agressões do tráfico do Morro da Providência, no Centro, onde moram.
Imagens feitas por câmeras de segurança mostram o momento em que as duas mulheres — uma loira, que está pilotando a motocicleta, e outra morena — abordam o guia de turismo na Rua 20 de Abril. A criminosa que está na garupa aponta uma arma para Daniel, que entrega seus pertences. Mas, logo em seguida, ele reage e segura a mão dela, tentando sair da mira da arma. As duas descem da moto e entram em luta corporal com o guia, até que a loira pega uma faca e o esfaqueia diversas vezes.
A violência dura pouco mais de dois minutos. Enquanto Daniel é repetidamente golpeado, um ciclista passa pelo local, olha a cena de perto e se afasta. Ao menos três pedestres também observam, mas não fazem nada. Um taxista chega a dar ré no veículo.
Em depoimento a policiais, testemunhas disseram que as mulheres tentaram incriminar a vítima para confundir as pessoas que passavam pelo local na hora do crime. Marcelly Albuquerque teria gritado: “Tarado, sai de perto dela!” Isso, segundo uma das testemunhas, explicaria o fato de os presentes não terem socorrido Daniel imediatamente após ele ser esfaqueado.
Fonte: Fonte: Jornal Extra