Militar da Marinha preso por morte de perito é denunciado por receptação de peças em ferro-velho

O Ministério Público do Rio denunciou o primeiro-sargento da Marinha Bruno Santos de Lima, seu pai, o empresário Lourival Ferreira de Lima, além de Adriano Jeronimo, sócio de ambos, pelo crime de receptação qualificada, por manterem, em um ferro-velho na Zona Norte do Rio, cinco baús de motocicletas da Guarda Municipal. As peças foram encontradas, por policiais da 18a DP (Praça da Bandeira) após a morte do papiloscopista Renato Couto, de 41 anos, pela qual os dois primeiros, além dos também militares Manoel Vitor Silva Soares e Daris Fidelis Motta, estão presos e são réus.

Jogado de viaduto: Corpo encontrado no Rio Guandu é de perito morto por militares da Marinha

Na denúncia, a qual O GLOBO teve acesso, o promotor Rodrigo Octavio de Arvellos Espínola, da 3a Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da Área Méier e Tijuca do Núcleo Rio de Janeiro, destaca que, na manhã de 25 de janeiro, no interior do ferro-velho, os três mantinham em deposito o material, que sabiam ser produto de crime, para fins de comercialização.

Agente estava ferido: Policial civil sequestrado e baleado por militares estava vivo quando foi arremessado em rio

Na ocasião, uma equipe da Guarda Municipal realizou uma operação de fiscalização local, identificando os baús descartados em um canto, no chão do estabelecimento. Na delegacia, Lourival prestou esclarecimentos informando ser o proprietário do ferro-velho e disse que os objetos arrecadados foram descartados por um suposto morador de rua, não identificado, que retornaria para pegá-los.

Na Praça da Bandeira: Polícia Civil interdita ferro-velho onde perito foi baleado e sequestrado por militares da Marinha

Ainda segundo o Ministério Público, as investigações policiais demonstraram que a motivação para o cometimento do homicídio qualificado de Renato envolveu o estabelecimento em questão, apontando Bruno como proprietário e que, utilizando-se de sua posição militar, abriu caminho para recebimento de materiais descartados de diversos órgãos públicos, incluindo as Forças armadas e hospitais.

Durante fechamento de ferro-velho onde o perito Renato Couto foi baleado e agredido, equipes encontraram uma roupa camuflada
Durante fechamento de ferro-velho onde o perito Renato Couto foi baleado e agredido, equipes encontraram uma roupa camuflada Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

De acordo com o inquérito presidido pelo delegado Adriano França, titular da 18a DP, Lourival atuava da mesma forma que Bruno, com quem dividia os lucros da atividade, restando configurada, ainda, a atuação de Adriano. Foi possível constatar, que o ferro-velho não recebia somente materiais oriundos de doações, mas também todo tipo de material apresentado por “indivíduos de má índole e de procedência duvidosa, quais sejam, os baús da Guarda Municipal e parte do material furtado da obra do policial civil morto”.

Equipes da Comlurb e da Seop estão removendo os materiais do ferro-velho onde o perito Renato Couto foi agredido e baleado
Equipes da Comlurb e da Seop estão removendo os materiais do ferro-velho onde o perito Renato Couto foi agredido e baleado Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Há duas semanas, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, do II Tribunal do Júri, manteve a prisão preventiva dos quatro homens – entre os quais Lourival e Bruno – pela morte de Renato Couto, de 41 anos. O perito foi sequestrado pelo grupo, em uma viatura da Marinha, após procurar o pai de um deles para checar se materiais de uma obra tinham sido furtados por usuários de crack e levados para o ferro-velho deles. Seu corpo foi encontrado no dia seguinte, as margens do Rio Guandu, na altura de Japeri, na Baixada Fluminense.


Perito papiloscopista Renato Couto, de 41 anos, foi capturado, em uma viatura da Marinha, após procurar o empresário Lourival Ferreira de Lima Arquivo Pessoal
Perito papiloscopista Renato Couto, de 41 anos, foi capturado, em uma viatura da Marinha, após procurar o empresário Lourival Ferreira de Lima Arquivo Pessoal Foto: Arquivo Pessoal

Na decisão, o magistrado pontuou que “a instrução criminal nem sequer começou, sendo indispensável que os depoimentos sejam revestidos da isenção de ânimo necessário ao relato verídico dos fatos, o que se colocará em risco com a liberdade dos acusados”. 


“Analisei o pleito acostado pelas empenhadas Defesas e, inobstante respeite os argumentos tecidos, ousarei divergir por entender que os elementos elencados em nada desmerecem os pressupostos indicados na motivação da recentíssima decisão prolatada nos autos. Primeiramente verifico que a defesa não trouxe aos autos nenhum elemento novo, de sorte que o conteúdo mantido no édito segregatório em nada foi desmerecido”, escreveu Alexandre Abrahão no despacho.


Truculência: Gravata, chutes e tiro de misericórdia: Polícia diz que militar pretendia vender arma de perito morto

Renato Couto teria conseguido recuperar parte dos objetos furtados em outro ferro-velho próximo ao Morro da Mangueira, em maio. Em seguida, ele encontrou uma esquadria de alumínio e outras peças da obra na loja de Lourival. Após uma discussão, o empresário prometeu que devolveria o valor do restante dos produtos receptados e ligou para Bruno, supervisor do Setor de Transportes do 1º Distrito Naval.


‘Aplica logo esse’: Cabo da Marinha insistia com sargento sobre disparo em perito da Polícia Civil

Ao chegar no local com uma Fiat Ducato da Marinha, Bruno deu uma mata-leão e efetuou disparos contra policial civil e o jogou no carro. Ele estava acompanhado dos militares Manoel Vitor Silva Soares e Daris Fidelis Motta. Por volta de 17h, após serem acionados por transeuntes, policiais militares do 6º BPM (Tijuca) estiveram na 18ª DP para registrar que um homem foi baleado e colocado em uma van, na Avenida Radial Oeste.


Ainda segundo as investigações, a viatura descaracterizada, com os três militares e Renato Couto, seguiu para a Baixada Fluminense, pelo Arco Metropolitano. No carro, o policial civil levou pelo menos mais um tiro na barriga. Após jogarem o corpo dele no Rio Guandu, eles pararam em um lava-jato, em Nova Iguaçu, e limparam o veículo com cloro também dentro do quartel da Marinha, na Praça Mauá.

Uma perícia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), no entanto, identificou resíduos de sangue dentro da viatura e ainda na mureta próxima ao Rio Guandu. Levados para a delegacia, Bruno Santos de Lima, Lourival Ferreira de Lima, Manoel Vitor Silva Soares e Daris Fidelis Motta foram reconhecidos por testemunhas, confessaram o crime e foram presos em flagrante por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.

Fonte: Fonte: Jornal Extra