Miliciano Ecko usava empresas, farmácias e compra de cavalos para ‘lavar’ dinheiro que lucrava com crime


A expansão das áreas de domínio do miliciano Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto no último dia 12, contou com uma série de alianças com diferentes grupos criminosos, o que resultou em lucros vultosos para a quadrilha. A estimativa da Polícia Civil é de que os lucros orbitassem na casa dos R$ 10 milhões por mês. Para esconder o dinheiro ilícito, Ecko contava com um importante braço da quadrilha, o financeiro, capitaneado por seu irmão Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, um dos cotados para substituí-lo no comando do grupo. De acordo com investigações da polícia, para lavagem de dinheiro o grupo contava com duas empresas —uma de saibro e outra de locação de equipamentos — além de uma rede de farmácias e até mesmo a compra de cavalos.

As movimentações financeiras de pessoas e empresas ligadas à quadrilha de Ecko foram o ponto de partida para as investigações da Polícia Civil, em 2017. Um dos principais alvos foi Zinho, sócio da Macla Extração de Comércio e Saibro, empresa de terraplanagem. Em 2016, o irmão de Ecko fez um saque de R$ 200 mil da conta da empresa com a justificativa de que o dinheiro seria usado para pagar funcionários.

Da esquerda para a direita: Ecko, Danilo Dias Lima, o Tandera, seu possível sucessor, e Luiz Antonio da Silva Braga, o Zinho, irmão do milicano morto
Da esquerda para a direita: Ecko, Danilo Dias Lima, o Tandera, seu possível sucessor, e Luiz Antonio da Silva Braga, o Zinho, irmão do milicano morto Foto: Polícia Civil / Divulgação e Reprodução

As movimentações totais ultrapassaram R$ 40 milhões em cinco anos. A Macla foi aberta em dezembro de 2014 e, desde então, era usada na lavagem de dinheiro da milícia. No site da Receita Federal, consta que a empresa está inapta por problemas de documentação, mas continua ativa. A polícia conseguiu, na Justiça, o bloqueio de bens e valores da Macla.

Em outubro de 2015, ao ser preso, Zinho se identificou como empresário e afirmou aos investigadores que era proprietário da Macla. Ele alegou ter cinco funcionários na empresa, que possui capital social de R$ 100 mil. O irmão de Ecko afirmou ainda que antes de abrir o negócio trabalhava como encarregado de obras.

Leia mais: Miliciano Ecko passou a ser procurado pela polícia em 2016, quando teve a prisão decretada pela primeira vez

Na época da prisão, Zinho já era apontado como o principal operador financeiro da quadrilha. Ele foi solto cinco dias após ter sido capturado, ao conseguir um habeas corpus no Plantão Judiciário. Atualmente, há contra ele um mandado de prisão em aberto.

Além da Macla, as investigações da Polícia Civil colocaram sob suspeita a Hessel Locação de Equipamentos, que fez negócios com a empresa. Segundo as investigações, a negociação de uma retroescavadeira por R$ 100 mil foi fictícia, o que os sócios da Hessel negam. O dinheiro supostamente pago pela máquina foi sacado da conta da Macla.

Bens bloqueados

No site da Receita Federal, a Hessel consta como ativa e também teve bens bloqueados. No processo judicial no qual é acusado de lavagem de dinheiro e organização criminosa, o sócio da empresa nega qualquer relação com a milícia. Procurada, a advogada da empresa, Leonella Vieira, afirmou estar impedida de prestar esclarecimentos, uma vez que o processo está em segredo de Justiça. Leonella também atua como advogada de Wallace da Silva Braga, outro irmão de Ecko, preso desde o mês passado.

Leia mais: Caça ao Ecko: investigadores fizeram planta da casa do miliciano e estiveram na região dias antes

Nos últimos dois anos, segundo a polícia, Ecko passou a investir em outro ramo para lavar dinheiro— o de farmácias, presentes principalmente na Zona Oeste do Rio. Um inquérito em andamento na Delegacia do Consumidor (Decon) apura o uso das lojas pelo grupo. Em outubro do ano passado, em uma operação, oito farmácias foram interditadas e diversos documentos, apreendidos. A operação foi crucial para chegar ao paradeiro de Ecko. Os estabelecimentos, no entanto, já voltaram a funcionar, uma vez que os fechamentos ocorreram por questões burocráticas junto ao Conselho Regional de Farmácia do Rio. Por isso, após passarem por processo de regularização, elas foram reabertas.

Paixão por animais

A compra de cavalos pela quadrilha também está na mira da polícia desde 2019. Na ocasião, 15 animais mangalarga do miliciano Danilo Dias Lima, o Tandera, antigo comparsa de Ecko, foram bloqueados na Justiça. Agora, cavalos comprados por Ecko também estão em investigação. A polícia sabe que o miliciano tinha paixão pelos animais e costumava frequentar um rancho em Paciência, na Zona Oeste, área sob seu domínio.

Nos últimos anos, a expansão dos territórios de Ecko, encabeçada principalmente por Tandera, fez os lucros da quadrilha dispararem. Além do aumento dos domínios, com parcerias com outras milícias, os criminosos buscaram lucrar cada vez mais com seus negócios ilícitos. Considerado um dos principais comparsas de Ecko antes de ambos terem rompido, no fim do ano passado, Tandera costurou alianças importantes com outros paramilitares, principalmente na Baixada Fluminense.

Leia mais: Ex-PM que integrou milícia de Ecko virou delator e recebeu ameaças dentro do presídio

Foi pela expansão na região que a quadrilha conseguiu chegar até a Costa Verde, passando por parcerias com as milícias de Itaguaí e de Coroa Grande. De lá, se expandiram para Mangaratiba, onde atualmente há registros de cobranças de taxas por paramilitares.

Tandera também é apontado pela Polícia Civil como um dos prováveis sucessores de Ecko. As movimentações da quadrilha são monitoradas. Dentro do presídio Bangu 9, no Complexo de Gericinó, onde ficam os presos milicianos, a direção impediu o contato entre detentos ligados e Ecko e os ligados a Tandera durante 48 horas. Sem maiores alterações, o banho de sol com todos juntos foi liberado na última quarta-feira.



Fonte: Fonte: Jornal Extra