‘Mais um dia para fazer a vida dos meus inimigos um inferno’, diz trecho de ‘oração’ de miliciano do grupo de Zinho

Em meio às mensagens em um dos celulares de Rodrigo dos Santos, o miliciano Latrell, a polícia encontrou uma espécie de “oração” no qual ele escreveu por fazer parte do grupo criminoso chefiado por Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho. A milícia, que se tornou a maior do estado do Rio de Janeiro e hoje domina a Zona Oeste da capital, foi alvo da Operação Dinastia, na semana passada, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio (MPRJ), por meio do Grupo de Atuação Especializada do Combate ao Crime Organizado (Gaeco). As informações no aparelho de Latrell foram analisadas e ajudaram a fundamentar a denúncia que deu início à ação.

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Até ser preso, em março deste ano, na cidade de São Paulo, Latrell era considerado o número dois do bando de Zinho. Na época da prisão, o relacionamento entre os dois estava abalada e quase causou um racha na quadrilha entre os seguidores. Em outros momentos, o miliciano demonstrava a gratidão por fazer parte do grupo e por continuar vivo para enfrentar “inimigos”. O bando de Zinho está em constante conflito com a milícia de Danilo Dias Lima, o Tandera, com disputa de controle de territórios como um dos principais motivos.

“Agradeço a Deus por mais um ano de vida. Agradeço por manter de pé, minha alegria é acordar todos os dias e pensar: ganhei mais um dia para fazer a vida dos meus inimigos um inferno, mais um dia para ceifar a vida deles (…). Tenho a consciência de que sou mortal, que um dia vou morrer, mas enquanto esse dia não chegar, sigo cumprindo minha missão (…) gratidão, auto consciência, resiliência e fé”, diz a mensagem escrita por Latrell num aplicativo ao grupo o qual faz parte.

Suspeito preso chega à sede da PF no Rio
Suspeito preso chega à sede da PF no Rio Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Com a prisão de Latrell, o Gaeco acredita que posições na quadrilha teriam mudado. Informações obtidas pelo setor de inteligência da Polícia Federal indicam que o segundo da hierarquia passou a ser Geovane da Silva Motta, conhecido como ‘’GG’’ ou Latranha. Ele foi preso em um hotel de luxo em Gramacho, no Rio Grande do Sul, durante a Operação Dinastia, que prendeu outras sete pessoas.

Os documentos também explicam o que fundamentou a suspeita de que a quadrilha pode ter envolvimento no assassinato do ex-policial civil e ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, no último dia 4, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio. Jerominho foi um dos fundadores da milícia e com o tempo perdeu poder. Latrell teria sido informado por antigos integrantes da quadrilha que Jerominho e seu irmão, o ex-deputado estadual Natalino José Guimarães, estariam planejando matar Zinho para retomar as áreas controladas pelo grupo.

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Em um diálogo entre Latrell e Matheus da Silva Rezende, conhecido como Teteus ou Faustão, — que é sobrinho de Zinho e apontado como possível sucessor —, os dois comentam o caso afirmando ter que “resolver esses velhos logo”, “praga do crl”. Para o Gaeco, isso indicava uma conspiração para matar Jerominho e o irmão Natalino.

Ainda segundo a investigação, Latrell e Allan Ribeiro Soares, o Malvadão, que também faz parte do bando, coordenavam a rede de informantes da quadrilha, formada, entre outros, por policiais militares corruptos. Também fariam parte do primeiro escalão Domício Barbosa de Souza, o Dom, e Vitor Eduardo Cordeiro Duarte, o Pardal ou Tabinha, ambos responsáveis pela gestão financeira da quadrilha.

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Já a rede de informações sob o comando de Latrell contaria, entre os principais nomes, com Alexandre Silva de Almeida, o Solinha, responsável por reunir os dados colhidos pelos informantes sobre a milícia de Tandera e alertar o grupo sobre possíveis riscos de ataques; Douglas de Medeiros Aves Rosa, o Doug, que repassava informações sobre policiais civis e militares que atuavam contra Zinho; um homem identificado apenas como Filé com Fritas, responsável por recrutar policiais para a milícia; e ainda Jean Carlos Candido de Oliveira e um outro conhecido apenas como Bigode.

Fonte: Fonte: Jornal Extra