Justiça decreta prisão de quatro PMs por mortes de quatro homens em tocaia no Vidigal


A Justiça decretou na quinta-feira a prisão de quatro policiais militares pelos homicídios de quatro homens durante uma tocaia na Favela do Vidigal, na Zona Sul. O caso aconteceu no dia 16 de janeiro deste ano. Foram denunciados pelo Ministério Público do Rio (MPRJ)e já respondem pelos crimes os cabos Pedro Jeremias Lemos Pinheiro, Victor Barcelleiro Batista e Rafael Nascimento Rosa e o sargento Ricardo de Moraes Mattos — todos lotados à época no Grupamento de Intervenção Tática (GIT) da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP). O juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal, recebeu a denúncia e decretou a prisão dos acusados.

Em junho passado, o EXTRA revelou que os quatro homens haviam sido vítimas de uma emboscada: os agentes estavam dentro de um apartamento e atiraram nas vítimas de cima para baixo. No jargão policial, o procedimento é conhecido como “troia” — referência ao cavalo de madeira que abrigava soldados em seu interior construído pelos gregos como estratégia para enganar os troianos e invadir a cidade.

‘Troia’ na favela: inocentes são mortos em tocaias de PMs para emboscar traficantes

A denúncia do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do MP que culminou na prisão confirma que os assassinatos “foram cometidos mediante emboscada, tendo em vista que os denunciados ficaram escondidos no interior de um imóvel posicionando-se em um plano superior ao que se encontravam as vítimas, para subitamente atacá-las, com disparos de cima para baixo”.

Dois dos mortos eram inocentes que somente estavam passando pelo local errado na hora errada: o porteiro Cláudio Henrique Nascimento de Oliveira, de 24 anos, e o entregador de supermercado Marcos Guimarães da Silva, de 51. Parentes dos outros mortos — Ivanildo Moura de Souza, de 22 anos, e Douglas Rafael Barros Assunção, de 18 — admitem o envolvimento de ambos com o tráfico. No entanto, segundo a perícia, os dois estavam comendo quando foram baleados: duas quentinhas foram apreendidas no local.

Vítimas de operação não eram traficantes e foram mortas sem chance de defesa
Vítimas de operação não eram traficantes e foram mortas sem chance de defesa Foto: Reprodução

Os PMs, em depoimento, negaram a emboscada: disseram somente que trocaram tiros com criminosos num beco da favela e encontraram quatro homens feridos em seguida. Todos foram levados ao Hospital Miguel Couto, onde chegaram mortos.

O laudo cadavérico das vítimas, entretanto, chamou a atenção dos investigadores: todas foram atingidas por tiros de fuzil disparados de cima para baixo. O depoimento de uma moradora do Vidigal abriu uma nova frente na investigação que explicaria o padrão dos disparos: a testemunha contou que os PMs invadiram um apartamento exatamente em cima de onde os homens foram mortos ainda na parte da manhã. Segundo a mulher, os agentes “esperaram uma moradora sair de casa e ficaram abrigados no interior da mesma até a hora dos disparos, na parte da tarde”.

Uma perícia feita no local do crime conseguiu precisar o local exato de onde os tiros foram dados: “Os agentes encontravam-se no interior do imóvel e efetuaram os disparos a partir do vão no segundo pavimento da fachada frontal do prédio”, afirma o perito no laudo. A DH concluiu que os agentes prepararam uma emboscada naquele ponto para surpreender traficantes numa boca de fumo que ficava logo abaixo do prédio.



Fonte: Fonte: Jornal Extra