Juíza que negou aborto para menina estuprada deixa caso após ser promovida

Juíza que negou aborto para menina estuprada deixa caso após ser promovidaO Tribunal de Justiça de Santa Catarina confirmou que a juíza Joana Ribeiro Zimmer não é mais a responsável pelo caso da menina de 11 anos grávida após um estupro — e que teve o pedido de aborto legal negado pela Justiça. Segundo informações confirmadas pela assessoria de imprensa do órgão a Universa, Zimmer não estava mais como titular da Vara Cível da comarca de Tijuca desde a última sexta-feira (17).

No dia 15 de junho, ela foi promovida em uma sessão do Órgão Especial, que faz a gestão de carreiras dos magistrados. Por isso, ela foi transferida para a comarca de Brusque, no Vale do Itajaí. A assessoria do órgão ressaltou que a mudança ocorreu antes da repercussão do caso.

Quem assume o cargo da cidade é a juíza Monike Silva Povoas Nogueira, que deve ser a responsável pelo caso com a saída de Zimmer. No entanto, a informação ainda não foi confirmada pelo TJ-SC. Nesta segunda-feira (20), o Tribunal de Justiça de Santa Catarina divulgou que a Corregedoria-Geral do órgão vai investigar e analisar a conduta de Zimmer.

A menina de 11 anos estava sob custódia em uma instituição após medida protetiva do Ministério Público catarinense. Nesta terça-feira (21), a Justiça de Santa Catarina autorizou a saída do abrigo para onde havia sido levada após decisão judicial, há um mês.

A desembargadora Cláudia Lambert de Faria, que assina a decisão, afirma ainda que “com a companhia e os cuidados da mãe, no aconchego do lar, a agravante [menina vítima do estupro] terá melhores condições psicológicas para enfrentar este momento tão delicado de sua vida”.

A menina está grávida de 29 semanas. Faria explica que sua decisão não tem relação com autorizar ou não o aborto solicitado pela mãe da garota, “porque constitui temática que compete ao juízo criminal”. Cita, porém, uma medida cautelar que autoriza a interrupção da gravidez, mas que teria de ser estudada a possibilidade de antecipação do parto para salvaguardar a vida da menina e do bebê.

ENTENDA O CASO

A juíza Joana Ribeiro Zimmer, da Justiça estadual de Santa Catarina, induziu, em audiência, a menina de 11 anos, vítima de estupro, a desistir de fazer um aborto legal. A história foi revelada na segunda-feira (20), em reportagem publicada pelo The Intercept Brasil e pelo Portal Catarinas.

Em áudios publicados pela reportagem, a juíza tenta convencer a menina a seguir com a gravidez, mesmo com respostas claras da vítima de que ela não queria. Ela chegou a falar para a criança que a gravidez precisaria continuar para que o bebê fosse colocado para adoção.

A mãe procurou apoio médico quando descobriu a gestação da filha, no momento em que completava 22 semanas. No hospital, a afirmação foi de que seria necessária uma autorização judicial. Ao procurar a Justiça, tanto o aborto foi negado como a menina foi afastada da família e colocada em um abrigo, fazendo com que o procedimento não fosse realizado. Zimmer chegou a afirmar que o aborto após esse prazo “seria uma autorização para homicídio”.

Após o caso vir à tona, o TJ-SC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) divulgou, por meio de nota, que a Corregedoria-Geral do órgão instaurou um pedido de análise da conduta de Zimmer.

O acesso ao aborto legal é autorizado no Brasil em três situações: quando a gestação é decorrente de estupro, quando oferece risco de vida à gestante e em caso de anencefalia do feto —essa última adicionada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2012.

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