Homem morre atingido por bala perdida em Jacarepaguá; moradores acusam PMs


Um homem foi baleado e morreu atingido por uma bala perdida, na Avenida Edgard Werneck, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, na manhã desta segunda-feira. Marcelo Guimarães, de 38 anos, passava de moto quando foi atingido. De acordo com a Polícia Militar havia um confronto no local — moradores da Cidade de Deus, perto dali, negam essa versão e dizem ter ouvido apenas um tiro. A perícia da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada. O Centro de Operações Rio (COR) publicou um alerta em suas redes sociais para que a região seja evitada por causa. No início da tarde, moradores fecharam a Linha Amarela, no sentido Fundão, com pedaços de madeira e de móveis em protesto contra a morte de Marcelo. No sentido oposto, foram feitos bloqueios.

De acordo com a versão da PM, o confronto começou quando equipes do 18º BPM que faziam um patrulhamento na Edgard Werneck e foram alvos de disparos feitos por bandidos que estavam na Cidade de Deus. Os agentes, segundo a corporação, revidaram.

— Não houve operação da PM no local. Marginais rechaçaram com disparos nosso blindado, que vem sendo posicionado no local para dissuadir possíveis investidas. Nesse contexto foi atingido um motociclista que vinha saindo da comunidade e, pela posição dos disparos, é improvável que tenha sido vitimado pelas guarnições da PM — disse o coronel André Silveira, comandante do 18º BPM.

Marcelo trabalhava numa marmoraria
Marcelo trabalhava numa marmoraria Foto: Reprodução

O clima ficou tenso no lugar onde ocorreu o confronto, de acordo com relatos em redes sociais. Policiais ficaram no local para impedir que um grupo de pessoas fechasse ruas para protestar contra a morte de Marcelo, que morava na Gardênia Azul, também na Zona Oeste, e trabalhava numa marmoraria. Parentes, amigos e colegas de trabalho da vítima estão no local. Por volta das 11h20, quando o corpo foi retirado por um veículo da Defesa Civil para ser levado até o Instituto Médico-Legal (IML), algumas pessoas gritaram: “não foi confronto, foi covardia”.

— Ele era um homem honesto, do bem. Nunca fez mal a ninguém. Hoje, mal começou 2021, e mais um morador de favela morre no Rio, injustamente. Agora, quem sofre somos nós — desabafou uma amiga de Marcelo, que não quis se identificar.

Em nota, a PM informou que, além das investigações da DHC, serái aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da morte de Marcelo. A nota completa da corporação:

“A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na manhã desta segunda-feira (4/1), equipes do 18º BPM (Jacarepaguá), que reforçam o policiamento nas imediações da Comunidade Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, foram atacadas por disparos de arma de fogo realizados por criminosos de dentro da comunidade quando baseadas na Av. Edgard Werneck. Os policiais reagiram à injusta agressão e cessaram o ataque. No momento da ação, um motociclista que passava pelo local foi atingido. Infelizmente, a vítima não resistiu aos ferimentos.
Ressaltamos que o policiamento já vem sendo reforçado na região, inclusive com emprego de um veículo blindado, desde a semana passada, visando estabilizar o perímetro por conta de um conflito entre grupos de criminosos rivais pelo controle territorial. Nestes dias, as equipes policiais já foram alvo de outros ataques armados por parte destes criminosos.
No momento, equipes do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA) reforçam o policiamento em toda a região em apoio ao 18º BPM.
Um Inquérito Policial Militar (IPM) será aberto para apurar as circunstâncias do fato. Paralelamente, a Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso”.

Vítima deixou filho em escolinha de futebol

Marcelo foi ferido após deixar o filho mais novo, de 5 anos, na escolinha de futebol, na Gardênia Azul. Era o primeiro dia do menino na atividade. Os dois estavam empolgados com a novidade. Na última semana, Marcelo tinha ido comprar a chuteira do menino. Eles chegaram a registrar o momento com uma foto nesta manhã.

— Mais um homem de bem que se vai, mais uma família que chora a perda de alguém. Até quando isso vai acontecer, meu Deus — lamenta a auxiliar administrativa Carla Roberta da Silva Cruz, de 35 anos, mulher de Marcelo.

Além do menino de 5 anos, Marcelo deixa outra filha, de 19.

Segundo testemunhas, apenas um tiro foi disparado, por volta das 8h30. Pedestres que estavam no local chegaram a questionar o motivo do disparo, alegando que crianças costumam brincar no terreno ao lado e que alguém poderia ser atingido. Segundos depois eles viram Marcelo caído no chão. Ainda de acordo com as testemunhas, neste momento, os policiais militares entraram no blindado que, há quatro dias, fica posicionado no local.

— Ele era um cara trabalhador, construiu a casa dele na dificuldade, ralando todo dia. Foi uma covardia. Já perdi meu filho. Mas sei que outras mães ainda vão perder seus filhos, inclusive neste mesmo local – afirma a dona de casa Angélica Francisca Guimarães, de 59 anos, mãe de Marcelo. — Para que eles se prepararam? Para acabar com a vida do outro?

Angélica, que mora há mais de 20 anos na Cidade de Deus, pensa agora em abandonar a casa:

— Não quero mais morar aqui. Não vou conseguir.

Ocorrência policial provoca interdições no trânsito

Por causa do tiroteio, trechos da Edgard Werneck foram interditados na altura da Cidade de Deus. Há interdição tamém no acesso da Estrada do Gabinal para a Avenida Ayrton Senna. Motoristas devem acessar o desvio no Giro do Cebolinha e retornar para Jacarepaguá. Já o Giro do Cebolinha tem interdições no retorno da Avenida Ayrton Senna, no sentido orla em direção à Linha Amarela. Motoristas devem seguir pela Via Sesc e fazer o retorno na Avenida Embaixador Abelardo Bueno.

Segundo o COR, o trânsito está congestionado em Jacarepaguá e nos acessos à Barra da Tijuca. As opções para os motoristas são a Estrada dos Bandeirantes e, depois, Estrada Coronel Pedro Corrêa e Avenida Embaixador Abelardo Bueno.



Fonte: Fonte: Jornal Extra