“R$ 20 milhões é uma quantia exacerbada e alta. Mas não é uma quantia que você possa afirmar que é oriunda de prática criminosa. Ganhar dinheiro, ter R$ 20 milhões em casa, isso por si só não é um crime”, afirmou Thiago Minagé.
O dono da GAS Consultoria Bitcoin era o principal alvo da Operação Kryptos, que investiga uma suspeita de pirâmide financeira disfarçada de investimento em criptomoedas. A PF afirma se tratar de uma fraude que movimentou “cifras bilionárias”.
O defensor acrescentou que a prisão foi uma surpresa.
“Não esperávamos isso, não tínhamos conhecimento de algum tipo de procedimento ou investigação que pudesse levar a tal situação”, declarou o advogado.
Agentes saíram para cumprir nove mandados de prisão e 15 de busca e apreensão no RJ, São Paulo, Ceará e Distrito Federal. Até a última atualização desta reportagem, além de Glaidson, Tunay Pereira havia sido preso no Aeroporto de Guarulhos (SP), tentando fugir para Punta Cana, na República Dominicana. Em Cabo Frio, outro operador foi preso.
Mandados de prisão preventiva:
- Felipe José Silva Novais
- Glaidson Acácio dos Santos (preso)
- Kamila Martins Novais
- Marcia Pinto dos Anjos
- Mirelis Yoseline Diaz Zerpa, mulher e sócia de Glaidson
- Tunay Pereria Lima (preso)
- Vicente Gadelha Rocha Neto
Mandados de prisão temporária:
- Arthur dos Santos Leite
- Guilherme Silva de Almeida
O Fantástico desta semana mostrou que a GAS era investigada há dois anos pelo esquema, mas se disfarçava de consultoria em bitcoins, uma moeda digital (relembre abaixo)
Em resposta ao Fantástico, Minagé tinha informado estar à disposição das autoridades para todo e qualquer esclarecimento. “A GAS de Glaidson Acácio, que atua no ramo de tecnologia e consultoria financeira em criptomoedas, não compactua com ilegalidades e preza pela licitude de todas as suas operações”, declarou.
BITCOIN E PIRÂMIDE FINANCEIRA
Lucro ‘fácil’ em ‘criptomoedas’
Glaidson prometia lucros de 10% ao mês nos investimentos em bitcoins, mas a força-tarefa afirma que a GAS nem sequer reaplicava os aportes em criptomoedas, enganando duplamente os clientes.
A empresa de Glaidson tinha muitos investidores em Cabo Frio, na Região dos Lagos fluminense, que se tornou um paraíso dos golpes do tipo pirâmide financeira e ganhou até o apelido de Novo Egito, como o Fantástico mostrou há duas semanas.
“Nos últimos seis anos, a movimentação financeira das empresas envolvidas nas fraudes apresentou cifras bilionárias, sendo certo que aproximadamente 50% dessa movimentação ocorreu nos últimos 12 meses”, informou a PF.
A GAS não tinha site nem perfis em redes sociais, e o telefone disponível na Receita Federal não funcionava.
Os mandados foram expedidos pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio. Também fazem parte da força-tarefa o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPF) e a Procuradoria de Fazenda Nacional.
Um registro do Ministério do Trabalho mostra que até 2014 Glaidson recebia pouco mais de R$ 800 por mês como garçom.
Em fevereiro deste ano, Glaidson fez uma festa de aniversário com direito a show do cantor João Gabriel. Dois meses depois, mais de R$ 7 milhões foram apreendidos em um helicóptero. O dinheiro estava em três malas e, segundo as investigações, seria levado para São Paulo por um casal que trabalhava para a GAS Consultoria Bitcoin.
Anteriormente, em um depoimento à polícia, Glaidson negou negociar criptomoedas. Alegou que atuava com “inteligência artificial, tecnologia da informação e produção de softwares”. Já para os clientes, o empresário dizia que investia no ramo das criptomoedas havia nove anos.
Além da GAS Consultoria Bitcoin, pelo menos dez empresas que oferecem investimentos com lucro alto e rápido na cidade são alvo de investigação.
O que são pirâmides financeiras?
Pirâmides, ou esquemas de Ponzi, consistem em uma rede onde entrantes precisam pagar uma taxa a membros antigos. Para começar a receber, esses novos filiados devem atrair mais gente. Mas chega um ponto em que a pirâmide não se paga e desaba, deixando a base no prejuízo. Quem está no topo sai ganhando.
Recentemente, golpistas passaram a montar pirâmides prometendo altos rendimentos no curto prazo. A economista Myrian Lund, da Fundação Getúlio Vargas, alerta para aplicações desse tipo.
“Qual é a característica da pirâmide? Entra dinheiro, e esse dinheiro serve para pagar as pessoas. Ele se retroalimenta. No momento em que parar a entrada de dinheiro, aquilo acabou naquele momento. Se você recebeu, ótimo. Se não recebeu, não vai ter mais nada de volta”, diz.
Fonte: G1