Gaeco/MPRJ e Polícia Civil apreendem mais de 50 armas em casa na Zona Norte que seriam da maior facção do estado


Agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) e do do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do estado apreenderam, na tarde desta terça-feira, 55 armas em uma casa vazia no Grajaú, na Zona Norte do Rio. Ao todo, foram recolhidos 26 fuzis, três carabinas, 21 pistolas, dois revólveres, uma espingarda calibre 12, um rifle 22 e um mosquetão. De acordo com a Polícia Civil e o MP, o armamento pertence a criminosos da maior facção do estado.

As armas estavam no imóvel de um casal que foi preso nesta segunda-feira em Goiás: Vitor Furtado Rebolal Lopez e Paula Cristine Pinheiro Labuto. A promotora Roberta Dias Laplace disse que os dois compraram milhares de peças de munição naquele estado:

— Uma das nossas equipes do Gaeco começou a investigar esses fornecedores. Eles não atendiam só o Jardim Catarina e sim toda comunidade dessa facção. Ao todo, 21 pessoas foram denunciadas. Três deles eram responsáveis por munições e armas. Um casal comprou milhares de munições no estado de Goiás. O MP de lá entrou em contato com a gente e conseguimos pedir um mandado de prisão com a Comarca de São Gonçalo, e encontramos na casa do Vitor. Ele era colecionador e caçador e se valia disso para comprar essas armas e vender — detalhou Roberta Laplace.

O promotor do Gaeco Romulo Santos Silva disse que esse núcleo era responsável por comprar e vender essa munição:

— Oferecemos essa denúncia no ano passado e conseguimos fazer os mandados do casal ontem e hoje conseguimos encontrar esse farto armamento. Dez mil peças de munição foram apreendidas ontem. Esse casal atua desde 2018 com essa facção. Essa investigação começou tímida e hoje encontramos elementos. Ele forneceria munições e armas para o tráfico de drogas.

Uma terceira pessoa é alvo das investigações e faz parte do esquema, fazendo o elo entre o colecionador e os traficantes. Seu nome não foi divulgado. Para a Polícia Civil, a quadrilha atuava em uma zona cinzenta da legislação. Eles usavam a autorização para comprar os materiais e começaram a chamar a atenção pela grande compra de carregadores, munição e armas.

— Vitor era responsável pela aquisição com licitude, e um terceiro elemento fazia o elo. Existe comprovação. Eles tinham ciência dessa venda. Ele atuava de 2018 a 2019. Não temos como saber a quantidade. Em um momento, ele fez o fornecimento de cinco mil munições. Queremos entender por que ele comprava em Goiás. Existe uma investigação sobre isso. Ontem ficou caracterizado que ele mesmo fazia o transporte porque ele tem autorização legal. Ele ia de carro até Goiás — destalhou Rômulo Santos Silva.

Os documentos referentes às armas, apreendidos em Goiás
Os documentos referentes às armas, apreendidos em Goiás Foto: Reprodução

Para o delegado Pedro Bittencourt, titular da Delegacia de Defesa do Serviço Delegado (DDSD), as aquisições de Vitor chamaram a atenção da Polícia e do MP:

— Chamou atenção por que normalmente essas pessoas com autorização para adquirir armas têm um perfil. O colecionador tem condições de ter muitas armas, mas não faz sentido uma pessoa ter vários fuzis do mesmo modelo — avaliou Bittencourt.

O promotor Rômulo Santos Silva ressaltou ainda que Vitor Lopez não tem condições financeiras de comprar legalmente as armas:

— Numa conta rápida, só nesses fuzis, são R$ 3 milhões. Ele não tem condições para isso — destacou o promotor.

Vitor vai responder por associação para o tráfico e também poderá responder por tráfico de armas.

Investigação tem três anos

Os agentes encontraram o material escondido no sótão da casa, que fica nos fundos de uma vila. Segundo o delegado Felipe Curi, titular do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), a investigação começou há 3 anos contra uma quadrilha internacional que fornecia armas para a maior facção criminosa do estado.

— Essa ação é fruto de uma investigação com o Gaeco, desde 2018. Eu ainda era titular da Decod. Após sairmos, outros delegados e o Gaeco deram continuidade. Desde então, algumas prisões já foram feitas. Esse é um grande golpe nessa facção. Os responsáveis por esse armamento já foram presos durante a investigação. Esses criminosos vendiam armas para essa facção — destacou.

Segundo o delegado Pedro Bittencourt Brasil, da Delegacia de Serviços Delegados (DDSD), a investigação começou na comunidade do Salgueiro e eles descobriram que fornecedores de armas alimentavam várias comunidades da facção.

— Foi um trabalho denso e longo. Essa investigação vai continuar — disse.

Caixa com milhares de peças de munição apreendidas com o casal em Goiás
Caixa com milhares de peças de munição apreendidas com o casal em Goiás Foto: Reprodução

O delegado titular da Desarme, Gustavo Rodrigues, afirmou que os investigadores buscam a origem das armas e da munição:

— Conseguimos localizar quatro endereços do casal e num deles encontramos esse farto material. Essas armas serão enviadas para a perícia para identificar sua origem. Vamos refazer as rotas para as empresas para saber quem alimenta essa facção criminosa. Já existem indícios que outras armas de Vitor foram encaminhadas para o mercado negro. Ele usa o registro de caçador para alimentar essa facção criminosa. Queremos chegar à origem dessas armas e munições — explica Gustavo Rodrigues.

Os fuzis são do modelo AR e custam, em média, no mercado paralelo R$ 70 mil cada.

O governador Cláudio Castro parabenizou a Polícia Civil em seu perfil no Twitter e disse que soube da apreensão pelo secretário de Polícia Civil. “Acabo de receber um telefonema do secretário Allan Turnowski informando que a @PCERJ encontrou um arsenal com 27 fuzis dentro de uma casa no Grajaú. Parabéns Polícia Civil por impedir que essas armas de guerra chegassem às mãos de criminosos. Investigação, inteligência e ação!”, diz a postagem.

Em 2020, uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu um arsenal que estava sendo transportado, de carro, do Paraguai para a Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. Foram encontrados 22 fuzis – 21 de calibre 556 e outro de calibre 762, com uma mira de precisão -, 21 pistolas, todas com mira a laser e pelo menos 300 quilos de maconha.



Fonte: Fonte: Jornal Extra