Fragmentos de bala encontrados no quarto de jovem morto durante operação da polícia serão entregues ao MP


RIO — Fragmentos de bala encontrados no violão do quarto em que o jovem Thiago Santos da Conceição, de 16 anos, foi morto nesta sexta-feira (18) serão entregues pela Defensoria Pública ao Ministério Público junto a outros elementos coletados pelo órgão. Além do jovem, outras três pessoas morreram na operação “Coalizão do Bem”, realizada pela Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar.

“A atuação não é só para atender juridicamente a família, mas também para colaborar na garantia das investigações e preservação das provas, o que inclui o fragmento e outros elementos, que serão entregues ao Ministério Público”, disse o órgão em nota, afirmando que nesta semana irá começar o atendimento jurídico do caso com a família do jovem.

Segundo a família do jovem, que neste sábado tentava liberar o corpo no Instituto Médico Legal, a Polícia Civil ainda não os procurou ou solicitou a entrega dos fragmentos da bala, que poderiam ajudar a elucidar o caso. Procurada, a Polícia Civil não respondeu a reportagem até o momento da publicação.

Thiago Santos da Conceição, de 16 anos, foi uma das quatro pessoas que morreram na operação “Coalizão do Bem”. Segundo seu tio, Giovani Gilson, os policiais sequer socorreram o jovem — um menino tranquilo e religioso, que fazia curso de violão online e gostava de soltar pipa, como hobbie. Como resultado da ação conjunta da polícia, além do adolescente, outros três homens morreram: Douglas Constantino Alves, de 33 anos; Jorge Xavier Quintanilha, de 30 anos; e um não identificado. Gilson conta que, momentos antes de ser baleado, o garoto acordou, saiu do quarto e, indo em direção à janela, foi atingido na testa.

— Ele era muto tranquilo, não tinha envolvimento com nada e não tinha amizades ruins. A polícia não deu nenhuma explicação, muito pelo contrário. Nem socorrer, socorreu ele. O tiro partiu deles, a Polícia Civil era a única força”militar” que estava na comunidade naquele momento — contou o tio.

Projétil de bala encontrado pelos familiares de Thiago, dentro da capa do violão
Projétil de bala encontrado pelos familiares de Thiago, dentro da capa do violão Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

De acordo com o tio, Thiago estudava no colégio estadual Souza Marques e cursava o segundo ano; era evangélico e frequentava encontros de jovens da igreja. Tamém fazia curso de arco e flecha no Recreio e alimentava o sonho de seguir a carreira militar. Em agosto deste ano, faria 17 e já realizava planos para o ano que vem: Thiago almejava tirar sua carteira de habilitação. Ultimamente, contou o tio, Thiago trabalhava no ramo de refrigeração. Gilson relata que, no momento da morte, Thiago havia acabado de levantar da cama, saiu do quarto e fechou a porta sanfonada. Quando vitou, e ia em direção à janela, levou um tiro e caiu no corredor.

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— A bala passou por ele, atravessou a porta sanfonada e acertou o violão, que estava na parede. Ficaram fragmentos de projétil dentro do violão. Ele era o filho do meio e tinha mais dois irmãos.

Violão, que estava na parede do quarto de Thiago, com marcas de tiro
Violão, que estava na parede do quarto de Thiago, com marcas de tiro Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

De acordo com o subsecretário operacional de Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, no local onde Thiago foi baleado não ocorria operação policial:

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— Então, vamos investigar o que houve — disse o subsecretário operacional de Polícia Civil, Rodrigo Oliveira, em coletiva de imprensa nesta sexta-feira na Cidade da Polícia. — Sobre o adolescente baleado, posso afirmar com convicção, que no local não havia nenhum policial. Os agentes perceberam um tumulto e receberam a informação que um adolescente foi baleado e que os parentes socorreram ele por meios próprios. Nesse local não houve embate com traficantes.

Em nota, o Grupo Temático Temporário de Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (GTT-AFPF 635/MPRJ) informa que o plantão institucional recebeu comunicações que noticiaram supostas violações a direitos perpetradas no decorrer da operação referida, entre elas, a morte de um adolescente de 16 anos e a violação de domicílio de morador. Foi instaurada notícia de fato e elaborado relatório preliminar que será encaminhado para a Promotoria de Justiça de Investigação Penal com atribuição para análise. O comunicado Informa também que houve comunicação oficial das forças policiais, conforme previsto em determinação do STF.

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Operação policial

A ação, que mirou uma quadrilha de criminosos escondidos no Rio que teria ordenado ataques em Manaus e movimentado mais de R$ 125 milhões junto à maior facção criminosa fluminense, foi realizada em parceria com policiais civis do Amazonas, Pará e de São Paulo, onde também aconteceram operações. No Rio, uma das principais prisões foi de Marcelo da Silva Nunes, criminoso identificado pelo apelido de Marcelão ou Jogador, apontado como um dos chefes do tráfico no Amazonas, e que teria ordenado os ataques de cerca de duas semanas atrás.

Balanço da operação nos três estados:

  • 8 presos no Rio de Janeiro
  • 2 presos em São Paulo
  • 5 presos no Amazonas
  • Um homem morto em Manaus (o pai de um dos suspeitos, que teria reagido à ação)
  • Dois suspeitos e um adolescente de 16 anos mortos no RJ; um suspeito baleado segue internado
  • R$ 129 milhões bloqueados da quadrilha
  • Uma tonelada de maconha apreendida
  • Um fuzil calibre 7.62 apreendido
  • Munição de calibre .50
  • Granadas
  • Rádio comunicador



Fonte: Fonte: Jornal Extra