Dezoito dias após ser abordada por dois homens ao sair de uma agência bancária na Rua do Catete, Zona Sul do Rio, e ser colocada em uma ambulância, uma idosa de 65 anos diz estar traumatizada com os dias que esteve longe de casa. Nesse período, ela foi internada à força em duas clínicas psiquiátricas em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. Sua filha, Patrícia de Paiva, e seu genro, Raphael Machado Costa Neves, foram presos em flagrante pelo crime.
— Foram dias de muitas tensões, ainda estou muito traumatizada com tudo o que vivi. Nesse tempo, as horas demoraram muito a passar. Na primeira clínica, onde fiquei por dez dias, senti fome, sede e muito calor. Lá, os ventiladores tinham que ser levados pelos familiares, mas minha filha esteve lá para me visitar e não levou — emocionou-se a aposentada, em entrevista exclusiva ao EXTRA.
De acordo com o delegado Felipe Santoro, titular da 9ª DP (Catete), ao longo de 17 dias, apesar de não ter nenhuma doença ou necessidade terapêutica, a vítima foi mantida na unidade particular de saúde a fim de ser coagida a se retratar de uma notícia crime que havia feito denunciando maus-tratos contra os dois netos, de 2 e 9 anos, na Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), dias antes.
As investigações apontam que ao ser abordada, no início da tarde de 6 de fevereiro, a idosa acreditou se tratar de uma “saidinha de banco” ou um sequestro relâmpago, mas logo percebeu que a violência acontecia a mando de sua filha, já que um dos criminosos disse que “era coisa de família”.
Dentro da ambulância, a aposentada narrou ter chorado durante todo o trajeto até Petrópolis e, ao chegar na clínica, teve a bolsa e o celular retirados pelos funcionários, sendo colocada em um quarto sem janela nem ventilação por três dias. No local, ela disse ter sofrido com fome e com sede e gritado diversas vezes por socorro. Depois, a idosa relatou ter sido levada para um espaço coletivo, onde passou a ser obrigada a ingerir medicações.
Em depoimento, a vítima disse ainda que questionava os médicos por sua alta, mas ele passava por ela e não a respondia. Durante o carnaval, ela contou ter recebido a visita de sua filha e do companheiro dela. O casal teria relatado a idosa que tentaria desqualificar o registro feito por ela na DCAV, demonstrando que ela sofria de “desequilíbrio mental”.
Maus-tratos aos netos
Aos policiais, a vítima narrou ainda que ambos os netos, um deles portador de deficiência mental, sofrem maus-tratos, não recebendo alimentação e asseio adequados. Depois de alguns dias internada, a idosa diz ter sido novamente colocada à força em uma ambulância e levada para outra unidade psiquiátrica. No local, ela contou a uma médica o desejo de sua filha em ficar com a integralidade da pensão que ambas dividem.
Na tarde desta quinta-feira, agentes da 9ª DP, após descobrirem o paradeiro da idosa, estiveram na clínica e a libertaram. Ao delegado, ela contou ter escrito diversas cartas no período de internação para “desabafar sua tristeza e seu medo” por estar ali sem sua anuência nem necessidade médica. Patrícia e Raphael foram presos em flagrante e indiciados pelos crimes de sequestro triplamente qualificado e coação no curso do processo. Eles não quiseram prestar depoimento.
— Iniciamos as diligências tão logo recebemos a informação de que uma idosa lúcida e sem nenhuma doença física ou mental estava sendo mantida em privação de liberdade em uma clínica. Após a prisão dos familiares que haviam determinado a internação, iremos investigar a conduta de médicos, enfermeiros e demais funcionários desses estabelecimentos a fim de entender a responsabilidade de cada um nesses crimes — explicou o delegado Felipe Santoro.
Fonte: Fonte: Jornal Extra