Facção criminosa tem matadores com lista de alvos na Região Serrana do Rio

A maior facção criminosa do Rio passou a contar com um grupo de matadores em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, para executar seus rivais. Os alvos são, principalmente, integrantes da mesma quadrilha que possuem dívidas de drogas e membros de bandos rivais. O grupo conta até mesmo com uma lista com nomes de desafetos a serem executados. A atuação dos matadores ocorre em paralelo a uma disputa da facção para dominar a venda de drogas em todo o município.

Atualmente, apenas a comunidade Independência e o bairro Duarte Silveira são dominados por uma quadrilha rival. No restante da cidade, o tráfico de drogas é comandado pela maior facção do estado. Investigações da 105ª DP (Petrópolis) já encontraram provas da participação do grupo de matadores em três homicídios no ano passado. Pelo menos outros dois são investigados.

A conexão do grupo com integrantes do tráfico no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, ficou clara para os investigadores durante a apuração da morte de um adolescente de 17 anos envolvido com o tráfico na comunidade Chapa 4, em Petrópolis, em novembro do ano passado. Testemunhas relataram aos policiais que após terem matado a vítima, os criminosos picharam no muro da comunidade a frase “Tropa do Urso”, uma alusão a um grupo de criminosos que atua na Penha.

As investigações apontam ainda que um dos integrantes do grupo de matadores, Sérgio Luís Izídio de Oliveira, conhecido como Serginho Capeta, mora atualmente no complexo da Penha e faz parte da “tropa”. Os traficantes do Complexo da Penha são os responsáveis pelo fornecimento das drogas que abastecem a Chapa 4.

O antigo chefe do tráfico local, identificado como Tigrão, devia dinheiro os criminosos da Penha. A polícia concluiu que a dívida foi o motivo para a morte do adolescente de 17 anos no Chapa 4, já que o rapaz assumiu o lugar de Tigrão. Junto com o posto, o adolescente herdou também a dívida.

A reportagem teve acesso a um vídeo que mostra o momento em que o grupo de matadores aborda o adolescente no dia de sua morte. Logo após a abordagem, o rapaz foi assassinado com um tiro na cabeça. Na filmagem, ele aparece com um casaco da marca Fila, acompanhado de outros quatro homens.

Para a polícia, os homens que aparecem no vídeo são Serginho Capeta, Bruno Jardim Quintanilha, o BJ e Adriano Paulo da Conceição Santana. Os investigadores ainda trabalham para identificar o quarto homem que aparece nas imagens.

A ligação do grupo com a o complexo da Penha também foi confirmada aos investigadores pelo homem apontado como motorista do grupo, Luiz Alberto de Jesus Araújo. Em dois depoimentos à polícia, ele negou envolvimento com os outros integrantes da quadrilha. No entanto, ao ser ouvido pela terceira vez, acabou admitindo ter buscado os comparsas no Rio dias antes da morte do adolescente.

Luiz Alberto confessou que buscou Serginho no Complexo da Penha e os outros dois integrantes do grupo – Bruno Jardim, o BJ, e Adriano Paulo – em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Ele relatou ainda que levou todos para Petrópolis e, dias depois, de volta para suas residências. Luiz também admitiu que transportou Serginho, BJ e Adriano para o Chapa 4 no dia da morte do assassinato do adolescente.

Luiz Alberto foi preso por policiais da 105ª DP no último dia 19. Serginho, BJ e Adriano estão foragidos. Informações sobre o paradeiro dos criminosos podem ser repassadas ao Disque-Denúncia pelos números (21) 2253-1177 e (24) 99250-0697.

Lista de vítimas

A presença do grupo de matadores é assunto frequente entre os moradores de comunidades e bairros com venda de drogas em Petrópolis. A Polícia Civil tem informações de inteligência sobre a existência de uma espécie de uma lista com nomes de desafetos do grupo que devem ser mortos na cidade.

Testemunhas relataram à polícia que um dos integrantes do grupo de matadores, Bruno Jardim Quitanilha, o BJ, costuma se vangloriar dos assassinatos cometidos por ele e se utiliza disso para fazer ameaças.

Diante desse cenário, o delegado titular da 105ª DP (Petrópolis), João Valentim, afirma que as investigações de homicídio são prioridade na delegacia. Para ele, o interesse da maior facção do estado em expandir seus domínios explica-se pela rentabilidade do tráfico em Petrópolis.

— Essa facção tem um projeto de hegemonia que não vemos apenas aqui, mas também em outras localidade. Os homicídios são nossa prioridade. Claro que existem outros crimes importantes, mas quando há um assassinato, voltamos todos os nossos esforços para solucioná-lo.

Serginho Capeta e BJ foram indiciados pela Polícia Civil pela morte de Cesar. Outros dois comparsas, Adriano Paulo e Luiz Alberto, apontado como motorista da quadrilha, também foram indiciados pelo crime de homicídio duplamente qualificado.

Além da morte de César, Serginho e BJ serão indiciados ainda por outros dois homicídios. Os três crimes ocorreram em novembro do ano passado. No dia 2 daquele mês, a vítima foi um traficante que vendia drogas na comunidade Independência. No dia seguinte, um rapaz que tinha R$ 12 mil em dívidas por causa da venda de drogas foi assassinado. A participação do grupo em outros dois assassinatos no município, no ano passado, ainda são investigados.

Três homicídios nos primeiros dias de 2021

Logo nos primeiro dias de 2021, mais três homicídios ligados à disputa pelo controle da venda de drogas foram registrados em Petrópolis. No primeiro caso do ano, registrado no dia 3 de janeiro, um homem foi preso pela 105ª DP (Petrópolis) acusado de envolvimento no crime. Os outros casos seguem em apuração, todos sob sigilo para não atrapalhar as investigações.

Segundo informações da polícia, as diferentes comunidades e bairros do município são abastecidos com drogas oriundas de diversas favelas no Ri. Em algumas localidades, apesar de haver esse fornecimento, traficantes locais decidem enfrentar os chefes da facção, fazendo suas vendas “independentes”. Esses também viram alvo dos matadores.

Em 2020, foram registrados 17 homicídios em Petrópolis em todo o ano, mesmo número de crimes ocorridos em 2019 no município. Enquanto o número de homicídios no estado do Rio teve queda de 11,7% no ano passado em relação em 2019, os casos em Petrópolis mantiveram-se estáveis.

Um dos principais integrantes do grupo, Serginho Capeta é considerado evadido do sistema prisional paulista — quando o preso tem um benefício para deixar temporariamente a cadeia, mas não volta — desde 2017.

Ele foi transferido para um presídio em São Paulo sob acusação de fazer parte de uma quadrilha paulista, apesar de ser da maior facção criminosa do Rio.

Já outro integrante, BJ, está fora da cadeia há pouco mais de três meses. Em outubro, o traficante, que estava em regime semiaberto, passou a cumprir pena em casa em razão da pandemia do novo coronavírus. Em todo o Rio, há quase 6 mil presos nessa situação.

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