‘Eu quero justiça e que isso não aconteça com mais ninguém’, diz mãe de jovem morto na Barreira do Vasco


Neste domingo de Dia das Mães, Bianca Limão vive a dor de sepultar um filho, o jovem Ruan do Nascimento, de 26 anos, morto por um tiro nas costas na Barreira do Vasco na última sexta-feira (8). Com uma camisa com a foto dos netos e dos filhos, inclusive do rapaz, ela lamentou não poder comemorar a data e pediu por justiça pela morte de Ruan. A família diz que o disparo partiu de policiais militares que estavam descaracterizados.

— Eu, no dia de hoje, quero desejar um Dia das Mães perfeito pra todas com muita honra e glória e louvor pra todas, já que me tiraram esse direito de hoje estar comemorando este dia. Não é 100% quando a gente perde uma mãe e piorou agora que a gente perdeu um filho — disse Bianca.

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Neste domingo, o velório começou às 9h e o sepultamento está marcado para as 14h no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. O jovem morreu ao ser atingido por um tiro. A PM informou que abriu um procedimento interno para apurar as circunstâncias da morte. Segundo moradores, policiais entraram na comunidade à paisana, num carro descaracterizado da cor vermelha, e fizeram os disparos. Nesse momento, houve correria e o jovem, que tinha deficiência intelectual, foi ferido.

Jovem com deficiência intelectual é morto na Barreira do Vasco
Jovem com deficiência intelectual é morto na Barreira do Vasco

— Não tem como trazer ele de volta, mas pelo menos a justiça. Eu sei que hoje eu estou chorando, mas muitas mães também estão chorando por esse mesmo motivo. Então eu quero justiça e que isso não aconteça com mais ninguém. Não desejo isso para ninguém. Espero que façam um bom trabalho e que coloquem os verdadeiros culpados atrás das grades. É isso que eu quero. Todos eles presos. Não quero dinheiro, não quero fama. Não quero nada. Tenho certeza que dinheiro nenhum vai pagar a vida do meu filho. Não vai me trazer de volta. Eu não quero um “cala a boca”. Eu quero é justiça — cobrou a mãe de Ruan.

Bianca disse que na última vez em que estiveram juntos, o rapaz disse que precisava cortar o cabelo para comemorar o dia de hoje com ela:

— A última vez que eu estive com ele, eu falei: “vamos pro Lins, vai ficar aqui fazendo o quê?”. E ele disse: “amanhã eu tenho que ir no salão, mãe, porque tenho que cortar o cabelo, ficar bonito pro teu dia, pro Dia das Mães”. Eu falei: “e tu vai me dar o que?”. Ele disse: “eu” — lembra.

Segundo a família, o jovem, que tinha deficiência intelectual, faria 27 anos no próximo dia 19. De acordo com Renan Limão, irmão de Ruan, ele tinha dificuldade para falar.

— Meu irmão era maravilhoso. Nunca fez mal a ninguém. É um sentimento de tristeza junto com revolta. Ele não fazia nada de errado. Falaram que ele estava com uma granada e um radinho. O garoto nem falava. O apelido dele é “I”, porque basicamente 90% da fala dele era “I”. O apelido dele em toda a comunidade, todo mundo conhecia ele como “I”, porque era isso o que ele falava. A gente entendia porque conviveu com ele a vida toda, mas pra qualquer outra pessoa que ele tentasse falar alguma coisa, a pessoa não ia entender. Basicamente não falava — afirmou Renan.

Sem operação no momento dos disparos

Na saída do Instituo Médico-Legal (IML) no sábado, Renan, falou sobre o irmão Ruan, uma pessoa alegre e querida por todos na comunidade:

— Ele conhecia todo mundo. Se você for lá agora e perguntar por ele, todo mundo vai saber, porque era um tipo de pessoa que brincava e falava com todo mundo. Se você for ver vídeos dele, era só dançando. Ele gostava muito de dançar e zoar. Era uma pessoa tranquila. Ele gostava de ir ao estádio e entrava sem pagar, porque as pessoas gostavam dele e botavam ele lá dentro. Agora, falar que ele estava armado e deu tiro na polícia é mentira.

A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ estava no IML para entender as circunstâncias do caso e prestar assistência à família. Procuradora do órgão, Mariana Rodrigues disse que a instituição irá acompanhar a família no que precisar, inclusive nos depoimentos da Delegacia de Homicídios da Capital, que investiga o caso.

A Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que policiais militares do 4ºBPM (São Cristóvão) relataram terem ido verificar local de comercialização ilegal de cobre na localidade do Café, próximo à comunidade Barreira do Vasco, em São Cristóvão, na noite desta sexta-feira, 6, onde ocorreu confronto durante a checagem.

A corporação disse que, após a situação se acalmar, houve apreensão de uma granada, um rádio comunicador e 240 papelotes de crack. Afirmou, ainda, que um homem ferido foi encontrado e socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar.

Um procedimento apuratório interno, acrescenta a PM, foi instaurado.

A ocorrência será investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital, que informou que os policiais militares foram ouvidos e tiveram as armas recolhidas para perícia. E acrescentou que diligências estão em andamento para esclarecer todos os fatos.



Fonte: Fonte: Jornal Extra