“A sensação foi de morte. Ver aquilo me cortou o coração. Era uma uma facada no meu coração. Uma sensação de impotência, de não poder salvar o meu filho”. Foi assim que a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, de 43 anos, mãe do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24, espancado até a morte num quiosque da Barra da Tijuca, na semana passada, descreveu sua dor após assistir às imagens de vídeo que flagraram a barbárie com seu filho. Desde o momento em que ela viu a gravação, divulgada pelo EXTRA, Ivone não consegue dormir. Na manhã desta quarta-feira, o estudante Djodjo Baraka Kabagambe, de 21 anos, irmão do imigrante, contou sobre os sentimentos que tomaram a família. A vítima havia se refugiado no Brasil em 2011, fugindo dos conflitos armados que assolam a República Democrática do Congo há décadas.
— A sensação (ao ver o vídeo) é de estarem matando o meu irmão mais uma vez — disse o rapaz. — Ver aquilo cortou o meu coração. Eu me sinto impotente, por não conseguir ajudar o meu irmão. Dói muito. A minha mãe fez um duro desabafo ontem. Agora, queremos a prisão dos outros criminosos, porque não foram só os três (presos até agora). Foram mais.
Veja fotos do caso Moïse Kabagambe, congolês espancado até a morte na Barra da Tijuca
O assassinato foi registrado por câmeras de segurança do local, onde o rapaz trabalhava. O crime teria tido início após a cobrança pelo pagamento atrasado. As imagens gravadas mostram três homens espancando até a morte Moïse, na noite do dia 24 de janeiro. As imagens, obtidas pelo EXTRA, flagram os agressores dando socos, chutes e até golpes com pedaços de pau no estrangeiro.
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O congolês sofreu traumatismo do tórax, com contusão pulmonar, provocado por ação contundente, de acordo com laudo do Instituto Médico-Legal (IML). Moïse agonizou por dez minutos antes de morrer, avaliou um perito.
— O laudo e o vídeo demonstram que trata-se de uma vítima fatal de espancamento, com vários hematomas pelo corpo, e com uma repercussão grave das agressões no pulmão, o que causou uma hemorragia. Nesses casos, a aspiração do sangue leva a dificuldade respiratória, como em uma asfixia, e a morte não se dá de maneira imediata. Estima-se em dez minutos o tempo de sofrimento respiratório que o fez agonizar antes de morrer — explica o perito Nelson Massini, professor titular Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
A Justiça decretou as prisões temporárias dos três suspeitos pelo espancamento. Fábio Pirineus da Silva, o Belo, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, e Brendon Alexander Luz da Silva, conhecido como Tota, estão detidos desde terça-feira na Delegacia de Homicídios da capital (DHC).
O trio de agressores foi identificado pelo proprietário do Tropicalia através de apelidos. O proprietário, que não estava no local no momento das agressões, cedeu as imagens de câmeras de segurança para a polícia e não teve participação no crime, de acordo com os investigadores.
Fonte: Fonte: Jornal Extra