Em um de seus últimos registros enviados ao avô, Maria Eduarda Affonso, de 11 anos, morta na semana passada, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, dizia que pediu “tanto a Deus uma mãe”, que ele atendeu aos seus pedidos. A mãe biológica da menina, Fabiola Affonso, morreu quando ela tinha apenas seis meses de vida, devido a um câncer de mama. Há cerca de um ano e meio, Maria Eduarda passou a conviver com Andréa Cabral, de 37, que se tornou esposa de seu pai. A madrasta e seu bebê, Matheus, de 11 meses, também foram assassinados. O pai das crianças e marido de Andréa, Alexander da Silva, foi preso na sexta-feira por triplo homicídio.
“Eu pedi tanto a Deus uma mãe, que ele me deu. Ela me ama e eu amo ela”, disse a menina no vídeo. Em outro momento, Maria Eduarda já se refere a Andréa como “mãe”: “Minha mãe disse que agora eu sou pré-adolescente e que tenho que me vestir como uma mocinha”.
A relação próxima das duas era percebida pelas duas famílias. De um lado, o avô materno, Eduardo Affonso, de 80 anos, afirma que a neta amava a madrasta e a tratava mesmo como uma mãe. Do outro, o irmão de Andréa, José Carlos Cabral, de 41, diz que ela fazia de tudo para proteger a enteada. No enterro da família, no último fim de semana, ele contou, inclusive, que o motivo pelo qual a irmã não terminou o relacionamento com Alexander foi a menina.
— Ela dizia sempre “não vou abandonar a minha filha”, se referindo a Maria Eduarda, que, na verdade, era sua enteada. A Andréa voltou para o Alexander porque ele fazia chantagem, dizendo que, se fosse embora, não deixaria as duas se verem. Elas morreram abraçadas — contou.
Primo de Andréa, Willian Araújo, de 43, conta que ela aguardava os próximos meses para que Maria Eduarda falasse na Justiça o que passava com o pai, já que o avô da jovem tenta sua guarda há anos:
— As pessoas ficam se perguntando porque que a Andréa aturou esse relacionamento, mas sabemos que ela continuou casada porque esperava a enteada (Maria Eduarda) completar a idade de poder falar ao juiz no processo que o avô dela movia por sua guarda. Ela fez isso para protegê-la, porque queria deixar a menina em segurança com o avô e tinha medo que o agressor (Alexander) a maltratasse — disse o professor durante o enterro de sua prima.
‘Vestido que meu avô me deu’
Quatro dias antes de ser encontrada morta a tiros, a menina passeou com o avô num shopping da Barra da Tijuca, também na Zona Oeste. Na ocasião, uma das poucas em que o viu nos últimos anos — já que o pai da menina dificultava a aproximação dos dois —, Maria Eduarda usava um vestido amarelo com desenhos de margaridas, o mesmo que dizia ser o seu favorito: “Vestido que meu avô me deu. Eu amo ele, é meu vestido favorito”, disse a menina em um vídeo.
Segundo o aposentado, naquele domingo a menina demonstrava felicidade em sair e brincar com o avô.
— Ela estava feliz, e eu via no rosto dela que não queria voltar para casa. Esse foi o último momento, além de, infelizmente, depois que faleceu. A gente não vai mais conseguir passar no shopping ou pisar lá, porque vamos lembrar da felicidade dela. Penso até em sair da cidade, não sei se vou conseguir conviver com isso.
Fonte: Fonte: Jornal Extra