Andréa Cabral Pinheiro, de 37 anos, e Maria Eduarda Fernandes, de 12, estavam abraçadas quando foram mortas na última semana, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, segundo o irmão da mulher, José Carlos Cabral. Ele conta também que Andréa tratava a enteada como se fosse sua própria filha e a protegia. As duas morreram após serem dopadas e levarem tiros quando estavam apartamento da família. Além delas, o bebê Matheus, de 11 meses, filho de Andréa também foi morto, asfixiado. Alexander da Silva, pai das crianças e marido de Andréa, foi preso por triplo homicídio.
— Ela dizia sempre “não vou abandonar a minha filha”, se referindo a Maria Eduarda, que, na verdade, era sua enteada. A Andréa voltou para o Alexander porque ele fazia chantagem, dizendo que, se fosse embora, não deixaria as duas se verem. Elas morreram abraçadas — contou o irmão.
Segundo a família de Andréa, o motivo pelo qual ela não deixou Alexander foi a menina. Primo da mulher, Willian Araújo, de 43 anos, diz que ela aguardava Maria Eduarda completar a maioridade para poder falar na Justiça sobre o que passava com o pai. O avô da jovem tenta sua guarda desde que a mãe da menina morreu de câncer, há cerca de 10 anos.
— As pessoas ficam se perguntando porque que a Andréa aturou esse relacionamento, mas sabemos que ela continuou casada porque esperava a enteada (Maria Eduarda) completar a idade de poder falar ao juiz no processo que o avô dela movia por sua guarda. Ela fez isso para protegê-la, porque queria deixar a menina em segurança com o avô e tinha medo que o agressor (Alexander) a maltratasse — disse o professor durante o enterro de sua prima.
A perícia feita após os corpos das três vítimas serem encontrados constatou que elas foram dopadas com melatonina, uma substância cuja finalidade é provocar sono. Segundo o delegado Wilson Palermo, da Delegacia de Homicídios da Capital, ao ser preso, Alexander não demonstrou arrependimento. Em depoimento à polícia, na tarde de sexta-feira, ele negou que tenha matado a família.
‘A Justiça falhou’
Síndica do condomínio onde a família foi morta, localizado na Avenida das Américas, na altura do Recreio, Ana Paula Cardoso, de 41 anos, afirma que o condomínio fez o que podia se feito, mas que houve falha por parte da Justiça.
— O que a gente podia fazer no condomínio, a gente fez. Quem tinha que ter feito mesmo era a Justiça, não a gente que tinha que fazer o trabalho dela. A Justiça falhou duas vezes nisso: na primeira vez, em 2009, quando ele matou uma mulher e até hoje não teve julgamento; e a segunda vez, por não ter dado a guarda para o avô que lutou tanto e tinha condições financeiras muito melhores para prover a Maria Eduarda — relatou.
Réu por homicídio
Alexander da Silva, de 49 anos, é réu em um processo pelo homicídio, em 2009, de outra vítima, uma jovem que era sua noiva. De acordo com a denúncia do Ministério Público, na ocasião, ele teria golpeado Tatiana Rosa de França, de 27 anos, com um objeto cortante no pescoço, por não aceitar o término do relacionamento amoroso. Até o momento, no entanto, ele não foi levado a júri popular pelo crime.
Segundo o inquérito da 16ª DP (Barra da Tijuca), uma prima de Tatiana procurou a 32ª DP (Taquara) para registrar o desaparecimento da jovem, em julho de 2009. Na delegacia, contou que ela teria saído de casa no dia anterior e informado a mãe que logo voltaria. Parentes começaram então a perguntar a vizinhos e até a Alexander sobre a localização da moça, mas esse negou saber e informou já estar deitado, pronto para dormir.
Ao depor na distrital, Alexander contou que iniciou o namoro com Tatiana, em 2008, e que até então os dois mantinham uma “relação normal”, mas, como todos os casais, discutiam por assuntos triviais, como divergências de opiniões. Nos últimos meses, ele narrou que a companheira estava depressiva, devido à morte do pai, e estaria recusando seus convites para sair para restaurantes e cinemas.
Segundo o laudo do exame de necropsia realizado no corpo de Tatiana, ela levou golpes no pescoço, na altura da tireoide. Fotos do exame feito no local onde o cadáver foi encontrado, no entroncamento da Avenida Salvador Allende e Rua da Light, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, mostram que ela foi morta anteriormente e depois jogada ali.
*Estagiária sob supervisão de Paolla Serra
Fonte: Fonte: Jornal Extra