Dois jovens são mortos em ação da PM no Chapadão e familiares acusam policiais


Gabryel (à esquerda) e Guilherme (direita) foram mortos em operação da Polícia Militar no Chapadão
Foto: Reprodução

Dois jovens morreram durante uma operação da Polícia Militar na favela Gogó da Ema, no Complexo do Chapadão, Zona Norte do Rio, na noite dessa quinta-feira. Familiares acusam os PMs que participaram da ação de terem atirado contra os rapazes. Outros dois jovens também foram baleados, mas sobreviveram e estão internados no Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes. A PM informou que ambos estão presos sob custódia na unidade de saúde.

Flávio Erasmo de Oliveira, de 44 anos, pai de um dos jovens mortos – Guilherme Martins de Oliveira, de 20 anos -, acusa os policiais de terem atirado no seu filho e nos amigos, que, segundo ele, não têm envolvimento com o tráfico de drogas. De acordo com a assessoria de imprensa da PM, um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto para apurar as denúncias feitas pelos familiares dos rapazes.

– Eles (policiais) atiraram em cima do meu filho e dos amigos. Eles não tinham envolvimento com nada de errado. Mas preto e pobre dentro de comunidade, para eles, é bandido – afirma Flávio.

O pai de Guilherme conta que o filho saiu de casa em Irajá, no início da noite de quinta, para encontrar com três amigos que também foram baleados. Eles estavam em uma praça no Gogó da Ema quando a polícia chegou. Um dos rapazes era morador da comunidade. Segundo Flávio, o filho levou dois tiros, um nas costas e outro, na perna.

O outro rapaz morto foi identificado como Gabryel Marques de Oliveira. Um dos rapazes que sobreviveu aos tiros chama-se João Vitor, segundo familiares de Guilherme. Os parentes afirmam não saber o nome do outro amigo que continua internado.

– Meu filho levou dois tiros, então não podem dizer que foi bala perdida. Quiseram atirar nele. Mas ele não tinha envolvimento com nada. Agora, eu que preciso provar que meu filho não é bandido. Mas o ônus da prova é de quem acusa – lamenta.

Questionada sobre o caso, a PM limitou-se a informar que dois suspeitos estão sob custódia e que um IPM foi aberto. No Twitter da corporação, foi feita uma postagem com a ocorrência no Gogó da Ema no qual a corporação afirma que houve confronto. “Uma pistola, uma granada, rádio transmissor, munição e drogas: esse foi o saldo do confronto dos policiais do 41º BPM com criminosos do Morro do Gogó (Chapadão). Não deixando de mencionar que três indivíduos foram encontrados ao solo e socorridos ao HECC”, informa o texto da rede social.

A postagem da PM no Twitter
A postagem da PM no Twitter

Jovem começaria a trabalhar na segunda-feira

Ao EXTRA, Flavio contou que o filho começaria em um novo emprego na segunda-feira. Segundo ele, o rapaz havia cumprido o serviço militar obrigatório no Colégio Militar, na Tijuca, até três semanas atrás. No início da próxima semana, ele retornaria para trabalhar no local, mas dessa vez como civil. De acordo com o pai, Guilherme pretendia seguir carreira na área de Educação Física. Flávio relata que João Vitor, um dos rapazes baleado, também serviu no Colégio Militar com seu filho.

– Ontem (quarta-feira) ele recebeu a confirmação de que voltaria para o quartel como civil na segunda-feira. Ele estava muito feliz porque tinha preocupações normais de adolescente.Não sabia se eu teria condições de pagar uma faculdade para ele, e ainda queria ter o dinheiro dele para sair com a namorada. Meu filho tinha muitos sonhos – lamenta.

Flávio lamentou ainda que não tenha sido realizado exame para atestar se havia vestígio de pólvora nas mãos de seu filho. O pai de Guilherme afirma que esteve na 31ª DP (Ricardo de Albuquerque), onde o caso foi registrado, para solicitar a realização do exame.

– Eu queria que fizessem o exame porque comprovaria que meu filho não estava armado. Não tinha arma nenhuma com ele. Mas não atenderam ao meu pedido – lamenta.

Procurada, a Polícia Civil ainda não respondeu aos questionamentos feitos pelo EXTRA.

Namorada de Gabryel faz homenagem

Assim como Guilherme, Gabryel também prestou o serviço militar obrigatório. Em seu Instagram, há fotos dele fardado, junto com outros amigos. A namorada do rapaz fez uma homenagem na rede social na tarde dessa sexta-feira.

“Te amo, minha vida. Você foi o melhor amigo que eu poderia ter. Eu te amo para sempre, meu amor, como a gente prometeu. Pena que o nosso para sempre não durou o mesmo tempo.Eu sinto por não poder mais falar o quanto eu te amo, sentir seu cheiro, te abraçar e puxar a sua orelha. Muito obrigada por tudo que você já fez por mim. Você não tem noção do quanto fará falta na minha vida”, escreveu.

No Instagram, a academia onde Gabryel fazia Jiu-Jitsu também fez uma postagem em sua homenagem e anunciou que por causa da morte do rapaz, as aulas estavam suspensas.



Fonte: Fonte: Jornal Extra