Documentos apreendidos na casa de Rogério de Andrade na serra de Petrópolis, há três semanas, levaram o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), a mudar de posição e revogar as liminares que haviam suspendido dois pedidos de prisão preventiva contra o bicheiro. Na decisão, o ministro alegou que as buscas na casa demonstraram a existência de documentos “que dão fortes indícios de reiterada prática criminosa apontada ao ora reclamante (Rogério), o que afasta a alegação defensiva de ausência de fato novo que alterasse o quadro processual já examinado”.
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Rogério e seu filho, Gustavo de Andrade, foram presos pela Polícia Federal, em ação conjunta com o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio, em Araras, localidade de Petrópolis, no dia 4. Na casa, agentes arrecadaram provas de que o bicheiro não apenas mantinha as operações de jogo ilegal, como promovia um sistema de corrupção de agentes públicos.
Um manuscrito apreendido, por exemplo, continha os seguintes dizeres: “Xiquinho me passou que tem duas DPs que estão cobrando a merenda que não seguiu”Deam Centro e Deam Camp Grande” são provas de que a organização pagava propina regular para integrantes da Polícia Civil do Rio. Outro manuscrito, com nove itens, registra que “Xiquinho me passou que Deac Centro, Deac Especializadas e Deam Centro querem o retorno da merenda deles (tinha parado por pedido das próprias unidades)”.
No mesmo documento, anexado ao pedido de prisão, aparecem itens que, segundo o Gaeco, comprovam que as casas de apostas de Rogério continuam ativas. “Faltam vir os envelopes Paraíba e Primo para junho e faltou Primo mês de julho” seriam frases alusivas à arrecadação do esquema com casas de apostas, jogo do bicho e caça-níqueis.
Relator de uma reclamação ajuizada pelos advogados do bicheiro, Nunes Marques faz parte da 2ª Turma do STF. Em fevereiro, seguindo o voto de Nunes Marques, esta turma revogou a prisão de Rogério de Andrade pela acusação de ter sido o mandante da morte de Fernando Iggnácio, bicheiro rival. Os ministros entenderam que não havia justa causa que justificasse o pedido de prisão — Edson Fachin foi o único a votar contra.
Em 1º de agosto, Nunes Marques novamente atendeu a um pedido da defesa do bicheiro e revogou novo pedido de prisão, desta vez por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro. O ministro alegou que as provas contra o bicheiro foram extraídas de celular apreendido em 2019, portanto sem contemporaneidade.
Porém, o conteúdo dos documentos apreendidos na casa do bicheiro na serra, três dias depois, convenceu o ministro da atualidade das provas. “Dessa forma, entendo inexistir demonstração de desrespeito à decisão tomada pela 2ª Turma do Supremo nos autos do HC, tornando sem efeito a decisão anterior”, fundamentou.
A princípio, o alvo da operação mais recente era o filho do bicheiro, Gustavo, foragido desde a Operação Calígula, deflagrada em maio. Rogério estava favorecido pela liminar do Supremo. Porém, ao encontrar os documentos, o Gaeco pediu nova prisão e foi atendido pela 1ª Vara Especializada em Crime Organizado do Tribunal de Justiça do Rio. Procurados, os advogados de Rogério disseram que não se manifestarão.
Fonte: Fonte: Jornal Extra