Delegado citou tuíte para indicar ligação entre show de Belo e chefe do tráfico: ‘Gestão inteligente do mano’


No documento remetido à Justiça em que pedia a prisão do cantor Belo, o delegado Gustavo de Mello de Castro, titular da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), usou uma mensagem postada no Twitter para atestar a ligação entre o show do artista no Parque União, no Complexo da Maré, e Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, chefe do tráfico na comunidade. O evento ocorreu na madrugada do dia 13 de fevereiro, sábado de carnaval, dentro de uma escola estadual situada na favela, sem qualquer autorização da Secretaria de Educação.

O tuíte citado pelo delegado
O tuíte citado pelo delegado Foto: Reprodução

Segundo a DCOD, policiais do setor de inteligência da especializada localizaram um tuíte em que um usuário chamado “Trem Bala”, que usaria bandeiras vermelhas no perfil para fazer alusão à maior facção criminosa do estado, fez a seguinte postagem na data da apresentação de Belo: “Mais tarde, Belo aqui no PU (Parque União). Maior paz. Gestão inteligente do Mano”. “Verifica-se que o cenário fático desenhado é um dos mais absurdos possíveis, na medida em que o ‘evento contagioso’ não foi autorizado pelo Estado, mas sim pelo chefe criminoso local, os quais (chefes) são intitulados como ‘mano’ por seus seguidores.”, escreveu o delegado no pedido de prisão.

No texto, o policial também frisa o risco associado ao show, que gerou aglomeração e descumpriu uma série de medidas relativas ao combate à Covid-19. “A realização de um evento de alta complexidade (luz, som, ingressos a preços elevados), com um grande número de espectadores, aglomerados, serviu ainda mais para a propagação da pandemia, além de afrontar os atos normativos municipais e estaduais que proíbem tais eventos”, afirmou Mello de Castro.

Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, chefe do tráfico no Parque União
Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, chefe do tráfico no Parque União Foto: Reprodução

Além de Marcelo Pires Vieira, o Belo, também foram presos Celio Caetano e Joaquim Henrique Marques Oliveira, sócios da empresa Série Gold Som e Iluminação, responsável pela organização da apresentação do artista. Os três, bem como o endereço da firma, foram alvo de mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça, que determinou também a suspensão das atividades da empresa e o bloqueio das contas pessoais de todos os envolvidos. Já Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, permanece foragido.

Celio Caetano: preso
Celio Caetano: preso Foto: Reprodução

Ao acionar a Justiça, a DCOD solicitou a prisão temporária por 30 dias do músico, de dois produtores do evento e do próprio traficante. A juíza plantonista Angelica dos Santos Costa, porém, optou por decretar a prisão preventiva dos envolvidos. Na decisão, a magistrada frisa que a medida “se impõe como forma de garantir a ordem pública a fim de evitar outros eventos desta natureza em plena pandemia”.

Joaquim Henrique Marques Oliveira: preso
Joaquim Henrique Marques Oliveira: preso Foto: Reprodução

A apresentação de Belo aconteceu no pátio do Ciep Professor César Pernetta. Filmado pelo próprio público e com registros em diversas postagens nas redes sociais, o show teve milhares de pessoas aglomeradas, sem uso de máscaras ou cumprimento de outras medidas impostas pelas autoridades por conta da pandemia da Covid-19. Na ocasião, a Secretaria estadual de Educação (Seeduc) informou que não houve qualquer pedido de liberação do pátio do Ciep para a realização do evento.

Evento do Belo no Parque União, na Maré, reuniu muita gente em pátio de Ciep
Evento do Belo no Parque União, na Maré, reuniu muita gente em pátio de Ciep Foto: Reprodução / TV Globo

“Os investigados e a sociedade empresária realizaram evento em contrariedade ao interesse público, violando decretos municipais e estaduais que buscam controlar a epidemia em que vivemos, bem como invadiram uma escola estadual, inexoravelmente, causando danos ao erário”, aponta a juíza Angelica dos Santos Costa na decisão. No texto, ela também cita o temor de que os acusados possam causar “dificuldades às investigações em curso”, como, por exemplo, tentando influenciar testemunhas que ainda irão depor, em especial servidores da Secretaria estadual de Educação (Seeduc).



Fonte: Fonte: Jornal Extra