Clínica onde jovem de 20 anos morreu após procedimento estético será fiscalizada em BH


A Vigilância Sanitária de Belo Horizonte (MG)vai fazer, nos próximos dias, uma vistoria na Clínica Belíssima Cirurgia Plástica, onde a cabeleireira Edisa de Jesus Soloni, de 20 anos, realizou três procedimentos estéticos e morreu por complicações, no último sábado, dia 12. Segundo a prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, o estabelecimento, que tem como nome registrado Instituto Hospitalar J F H Ltda, possui o alvará de autorização aanitária para realização de cirurgias plásticas e atende os requisitos legais da legislação. O documento é válido até agosto de 2021. Ou seja, está regularizada.

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A Polícia Civil de Belo Horizonte já investiga o caso, que está a cargo da 3ª Delegacia de Polícia Civil Sul de Minas Gerais. Na segunda e na terça-feira, agentes estiveram no estabelecimento para recolher documentos e prontuários médicos. O delegado Wagner Sales, chefe do 1º Departamento da Polícia Civil em BH, disse que o caso é complexo e que familiares e amigos da cabeleireira já estão sendo ouvidos.

— Estamos buscando informações, conversando com parentes e amigos. Já comparemos na clínica e recolhemos documentos importantes para o inquérito. Vamos trabalhar com provas objetivas, com os laudos periciais, com o laudo da necropsia que virá do IML — disse Sales.

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Edisa Soloni sempre foi uma mulher vaidosa e postaga muitas fotos nas redes sociais
Edisa Soloni sempre foi uma mulher vaidosa e postaga muitas fotos nas redes sociais Foto: Reprodução / Instagram

Conforme o delegado, a conclusão do inquérito pode levar até 60 dias e que o médico responsável pelo procedimento pode ser um dos últimos a ser ouvido, justamente para colherem mais informações para o interrogatório.

— É uma investigação que demanda muitas informações apuradas. Acredito que entre 45 e 60 dias vamos ter o inquérito concluído e determinar se houve uma responsabilização criminal, a causa da morte e se houve culpa e qual o tipo. Vamos ouvir os parentes da vítima, amigos, a equipe médica que participou do procedimento e o próprio médico, que deve ser ouvido mais para frente, quando vamos ter elementos para o interrogatório dele — explica o chefe do 1º Departamento da Polícia Civil de BH.

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Jovem tinha mancha no coração

A cabeleireira de 20 anos realizou uma lipoescultura com enxerto (dois procedimentos em um) e uma lipoaspiração de papada na última sexta-feira, dia 11 de setembro, um mês após fazer a sua primeira consulta na Clínica Belíssima. Depois de realizar exames, a jovem os entregou para um cardiologista que não permitiu a cirurgia, porque ela estava com uma infecção urinária. Curada e com novos exames em mãos, a mineira entregou a uma outra cardiologista que aprovou a realização do procedimento, mas com uma ressalva: a jovem tinha uma mancha no coração.

A cabeleireira Edisa de Jesus Soloni tinha apenas 20 anos e morreu por complicações após uma lipoescultura
A cabeleireira Edisa de Jesus Soloni tinha apenas 20 anos e morreu por complicações após uma lipoescultura Foto: Reprodução / Instagram

Essa informação consta no risco cirúrgico, que foi entregue na clínica do dia da cirurgia e, agora, está nas mãos da Polícia Civil, que investiga o caso. O que causou estranheza para família foi que os exames foram devolvidos em uma pasta para Edisa, que foi acompanhada da irmã mais velha, Samea Soloni. Ao EXTRA, a prima Silvana Mota conta que já realizou uma cirurgia plástica e que o documento com o risco-cirúrgico permaneceu no prontuário da clínica.

— Quando ela passou na nova cardiologista, ela autorizou, mas escreveu no risco cirúrgico que ela tinha uma pequena mancha no coração. Isso não impede quaisquer tipo de cirurgia, mas exige que tudo seja feito em um hospital, que tenha estrutura e equipamentos de UTI, caso seja necessário, se houver algum problema. Ela entregou a pasta para secretária, que devolveu tudo, inclusive o documento do risco cirúrgico. Eles não poderiam devolver, isso fica com a clínica no prontuário. Foi a partir daí que comecei a desconfiar e a investigar a clínica — diz.

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Conselho vai apurar o caso

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informou ao EXTRA que vai iniciar os procedimentos regulamentares necessários à apuração dos fatos, após tomar conhecimento por meio da imprensa da morte da paciente ocorrida após cirurgia. A entidade estadual afirmiu que “todas as denúncias recebidas são apuradas de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP), tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório”.

O médico que realizou os procedimentos em Edisa não possui o título de especialista em cirurgia plástica, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia plástica (SBCP). Apesar de ter concluído o estágio (equivalente a residência médica), Joshemar Fernandes Heringer precisava prestar o Exame para Título de Especialista, realizado pela SBCP e pela Associação Médica Brasileira (AMB) e ser aprovado. Assim, teria um Registro de Qualificação de Especialização, que é complementar ao que os Conselhos emitem e que garante que, além de apto a exercer a medicina, o médico também é especialista em alguma área.

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Uma das últimas imagens de Edisa Soloni, antes de realizar a cirurgia estética
Uma das últimas imagens de Edisa Soloni, antes de realizar a cirurgia estética Foto: Reprodução / Instagram

A SBCP confirmou que Heringer é membro aspirante. Segundo a entidade, a lei brasileira afirma que o médico não é obrigado a ter um título de especialista para realizar procedimentos como a cirurgia plástica. No entanto, o profissional assume a responsabilidade pelo procedimento.

De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o médico até pode atuar como especialista mesmo não sendo, porém, não pode dizer que é cirurgião plástico, por exemplo, sem que tenha o título. Ele também não pode assinar como cirurgião plástico.



Fonte: Fonte: Jornal Extra