Cinco são presos em operação que mira suspeitos de falsificar alvarás de soltura, no Rio


Duas advogadas e um agente da Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap) foram presos, nesta terça-feira, durante uma operação que mira suspeitos de falsificar alvarás de soltura. Agentes da Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter) e da Seap cumpriram cinco mandados de prisão temporária. Há outros 16 de busca e apreensão. A ação fpoi chamada de Resposta Imediata. De acordo com as investigações, o grupo falsificou alvarás de soltura de pelo menos três criminosos que cumpriam pena no sistema penitenciário estadual.

João Felipe Cordeiro Barbieri, enteado de Frederick Barbieri, conhecido como o “Senhor das Armas”, e João Victor Silva Roza — apontado como integrante da mesma quadrilha — e Gilmara Monique de Oliveira Amorim deixaram as cadeias em que estavam graças a documentação falsa, expedida em nome da Justiça Federal. As liberações deles ocorreram entre os meses de outubro e novembro do ano passado, sendo que as fraudes foram descobertas no início de fevereiro deste ano.

João Filipe Barbieri deixou a cadeia em novembro do ano passado e está foragido
João Filipe Barbieri deixou a cadeia em novembro do ano passado e está foragido Foto: Reprodução

A investigação comprovou que cinco suspeitos atuaram nas falsificações e cumprimentos dos alvarás de soltura. As advogadas Débora Albernaz de Souza e Angélica Coutinho Rodrigues Malaquias Campos e o agente da Seap Fábio Luis da Silva Polidoro foram presos no início da manhã. Já Arlesio Luiz Pereira Santos e Joseha Antonio da Silva foram capturados depois, quando passavam pela Avenida Brasil. A via expressa foi momentaneamente fechada para a realização da prisão. Todos foram levados para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, Zona Norte do Rio.

Pente-fino em documentos

Depois que a informação de que presos saíram das cadeias da Seap com alvarás falsos veio à tona, a pasta resolveu fazer um pente-fino em autorizações de liberdades emitidos pela Justiça do Rio. A Secretaria decidiu investigar 45 documentos — emitidos entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021. Segundo o secretário Raphael Montenegro, apenas três alvarás falsificados foram localizados. Foram os de Barbieri, Roza e Gilmara. Esta última se entregou há mais de uma semana. Os outros dois seguem foragidos. A Seap decidiu criar uma resolução para analisar alvarás enviados pela internet.

Além dos três presos, há outras duas pessoas contra quem foram expedidos mandados de prisão, pela 1ª Vara Criminal de Bangu: Arlesio Luiz Pereira Santos, um ex-preso, e sua esposa, Josefa Antônio da Silva. eles também estão foragidos.

Arlesio, segundo as investigações, se passava pelo oficial de Justiça que encaminhava os alvarás falsos à Seap. Ele, segundo as investigações, seria integrante de uma facção criminosa que atua na Bahia, em Goiás e no Distrito Federal cometendo estelionatos.

Encontro na véspera de expedição de alvará falso

Segundo as investigações, no ano passado a advogada Débora Albernaz passou a defender o traficante João Filipi Cordeiro Barbieri. Ela fez uma entrevista com ele na véspera da expedição do falso alvará de soltura. “Na véspera do envio do falso alvará de soltura, mais precisamente em 10.11.2020, a Dra. Débora Albernaz de Souza faz entrevista com o foragido João Felipe Barbieri, novamente ingressando no Complexo Penitenciário de Gericinó por meio de veículo conduzido pela nacional Josefa Antônio da Silva, que vem a ser companheira de Arlesio Luiz Pereira Santos, estelionatário profissional”, diz trecho do documento da Seap.

A investigação afirma ainda que Arlesio, Débora e Angélica se juntaram para produzir alvarás falsos, se valendo do sistema frágil da Seap. De acordo com a Secretaria, o inspetor Fábio Luis da Silva Polidoro — ex-coordenador de classificação (setor responsável por checagem dos alvarás) — tinha a atribuição de conferir se os alvarás estavam corretos). Ela estava afastado desde quando o escândalo veio à tona. A Seap abriu uma investigação interna para apurar sua conduta.

— Fizemos uma análise desses documentos e entregamos ao Ministério Público Federal (MPF). Desse total, encontramos apenas três alvarás falsos, com os quais os presos conseguiram sair. No entanto, encontramos muitos outros alvarás que tinham inconsistência. Mas esses presos não foram liberados — disse Raphael Montenegro.

Resolução para evitar alvarás falsos

Segundo o secretário, após a reportagem do “RJTV”, da TV Globo, mostrar as fragilidades do sistema, ele determinou que uma comissão fosse criada para analisar os alvarás emitidos eletronicamente.

— Criamos uma resolução, dois dias após a divulgação (da reportagem, sobre a saída dos presos com alvarás falsos), para evitar novas fraudes. Agora, só será possível a liberação de um apenado com um documento seguindo critérios. Não será permitido (o uso de) e-mail pessoal, só funcional. É preciso ter a identificação do oficial, como nome completo, matrícula e identificação funcional. Além disso, antes do preso ser liberado, o alvará eletrônico será analisado por três pessoas e todas terão que dar um “OK” — garante o secretário da Seap.

Quem expediu os mandados de prisões preventivas nesta manhã foi o juiz Alex Quaresma Ravache. Segundo a Polícia Civil, as investigações que começaram há pelo menos 15 dias, terá um desdobramento e novas pessoas poderão ser presas.

— Foi um trabalho em conjunto com a Seap desde quando foi noticiada (a fuga) até hoje. Arrecadamos elementos que corroboram com a ação e poderá ter desdobramento — disse o delegado Filipe Curi, diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE).

Todos os presos serão indiciados por associação criminosa.



Fonte: Fonte: Jornal Extra