Chefe da maior milícia do Rio ataca ex-aliado, aterrorizando oito comunidades


Investigações da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) revelam o que está por trás de uma disputa por territórios que envolve dois grupos paramilitares e duas facções do tráfico. Os confrontos ocorrem em oito comunidades localizadas nos bairros de Quintino, Praça Seca e Jacarepaguá, nas zonas Norte e Oeste do Rio. De acordo com a Polícia Civil, a prisão de três bandidos do Morro do São Carlos, no Estácio, foi o estopim para a guerra entre as quadrilhas.

LEIA TAMBÉM:

MPF investiga soltura de traficante internacional de armas

Veja quem é o PM reformado que teria mandado matar contraventor

Os três homens, ligados ao tráfico, apoiavam a milícia de Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, em um confronto com integrantes da maior facção criminosa do Rio. Ao lado de paramilitares e outros traficantes, o trio tentava impedir uma invasão do Morro da Barão, na Praça Seca. O grupo do Estácio acabou sendo pego por policiais quando deixava a comunidade, no dia 5 de janeiro.

Os traficantes foram levados para a penitenciária Bangu 9, onde estão integrantes da maior milícia da Zona Oeste. Houve, dentro do presídio, uma “votação”, na qual ficou decidido que os três deveriam ser alvos de represálias assim que outros detentos tivessem uma oportunidade. Por conta do risco imposto por detentos paramilitares, eles acabaram sendo transferidos.

A partir daí, segundo investigações, houve um briga entre a milícia de Macaquinho, que havia “contratado” o trio, e a chefiada por Wellington da Silva Braga, o Ecko, a maior do Estado do Rio. Até então, eram aliados — Ecko cedia homens e armas para as ações planejadas por Macaquinho. Mas o que aconteceu em Bangu 9 não foi aceito pelo bandido que recorreu à quadrilha do Estácio para garantir seu domínio sobre o Morro da Barão.

Ecko não quis saber de insatisfação. Com o racha, ordenou, no mês passado, uma invasão na Gardênia Azul, na Zona Oeste, comunidade que Macaquinho havia conseguido tomar do tráfico. Dezenas de homens armados entraram e expulsaram os rivais. Parte da ação foi registrada por câmeras de segurança. Os integrantes da maior milícia do Rio avisaram a comerciantes que, a partir daquele momento, as taxas de segurança deveriam ser pagas a eles.

Sabendo que o grupo de Macaquinho planejava retomar a Gardênia Azul, a Polícia Civil interferiu na guerra, para tentar evitar novos tiroteios e um possível banho de sangue. No último dia 3, equipes coordenadas pelo Departamento Geral de Polícia Especializada realizaram uma operação. Catorze suspeitos foram presos.

Fragilizado após a briga com Ecko, Macaquinho também perdeu, em janeiro, o controle dos Morros da Caixa D’Água e do Saçu, em Quintino. As duas comunidades foram invadidas por traficantes da maior facção criminosa do Rio, que usaram o Morro do Dezoito, localizado no mesmo bairro, como base para os ataques. No dia 3, a PM realizou uma operação em comunidades da região. Houve confrontos e dez suspeitos acabaram sendo mortos.

Confrontos ganham outro protagonista

Não é só a briga entre Ecko e Macaquinho que vem aterrorizando moradores de vários bairros do Rio. A polícia tem informações de que Danilo Dias Lima, o Tandera, também teria se desentendido com o chefe da maior milícia do estado, de quem era o braço direito. Tandero era o encarregado dos negócios da quadrilha em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Relatos dão conta de que Tandera, que é ligado a Macaquinho, recusou-se a devolver fuzis que haviam sido emprestados por Ecko. Mas, de acordo com o secretário de Polícia Civil, delegado Allan Turnowski, ainda não há qualquer comprovação do motivo que provocou o desentendimento:

—Teria sido um motivo pessoal. Não temos qualquer comprovação de que o episódio dos fuzis de fato ocorreu.

A polícia já sabe que Tandera também ajudou Macaquinho em confrontos ocorridos em Quintino, na Zona Norte. No último, que aconteceu em 28 de janeiro, quatro milicianos que haviam trocado tiros com traficantes foram abordados por PMs em uma das ruas que dá acesso ao Morro da Caixa D’Água, quando deixavam a comunidade. Eles estavam com um carro roubado, três fuzis e duas pistolas.

De acordo com a polícia, o quarteto saiu da Baixada para ajudar a quadrilha de Macaquinho. Eles teriam se perdido de outros integrantes de um “bonde” logo após a troca de tiros.

Macaquinho ainda controla as comunidades Bateau Mouche, Chacrinha e Morro da Barão, na Praça Seca, além do Fubá, em Campinho. Ele tem três mandados de prisão expedidos pela Tribunal de Justiça do Rio. O Disque Denúncia (2253-1177) oferece recompensa de R$ 5 mil por informações que levem à sua captura.

Tandera e Ecko também são foragidos. Informações sobre o paradeiro do primeiro valem uma recompensa de mil reais em caso de prisão; já a ajuda para a captura do segundo vale R$ 10 mil.

Na foto, os cabelos de uma mulher que, segundo moradores, seria informante de uma quadrilha rival
Na foto, os cabelos de uma mulher que, segundo moradores, seria informante de uma quadrilha rival Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo

Em jogo, faturamentos milionários

A Draco vem investigando os negócios milionários que são disputados pelas quadrilhas de Ecko e Macaquinho. Um inquérito aponta que, somente com a cobrança de taxas junto ao transporte alternativo, paramilitares recolhem mais de R$ 1 milhão por mês em Santa Cruz e Campo Grande.

Policiais de outras delegacias que também investigam as milícias estimam que a maior delas arrecada, a cada mês, entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões com negócios irregulares, incluindo venda de sinal clandestino de TV e comércio irregular de botijões de gás.

Atualmente, as comunidades da Praça Seca rendem um lucro de R$ 1,5 milhão por semana, dizem investigadores. O temor de perder essa fortuna faz com que milicianos ataquem moradores que não contam com sua confiança. No ano passado, por exemplo, bandidos arrancaram os cabelos de uma mulher, por suspeita de que ela passava informações a uma quadrilha rival.



Fonte: Fonte: Jornal Extra