Bando de Rogério Andrade tentou expandir exploração de jogos de azar para áreas de milícia


Conversas extraídas do telefone de Márcio Garcia da Silva, o Mug, apontam que o contraventor Rogério Andrade queria levar os jogos de azar para áreas de atuação da milícia. Em diálogos de 2017, reproduzidos na denúncia da Operação Calígula, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MP-RJ) na última terça-feira, o responsável por parte da produtividade financeira do bicheiro tratou com outro integrante da quadrilha — de nome Marcelo e não identificado pelos agentes — sobre a possibilidade da expansão territorial.

Na troca de mensagens, os dois chegam a falar na possibilidade de pagar taxas para grupos paramilitares que ainda não exploravam as máquinas de caça-níquel. Os criminosos ainda sugerem que, caso milicianos do bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, se opusessem ao acordo, eles deveriam ser informados de que a região era de domínio de Andrade.

No dia 24 de outubro de 2017, pouco depois das 15h, Marcelo enviou um áudio para o interlocutor: “Mug, me responde aí… A comunidade Santa Maria, lá no ‘Pau da Fome’, depois de onde era a Gama Filho, é nosso? Como é que é a situação lá? Comunidade lá, cara… Uma milícia. Lá eu tenho um esquema bom. Dá pra botar um monte lá… Fala comigo aí!”

Em seguida, Mug respondeu: “Parceiro, não é nosso, não. Pau da Fome é Cascadura, ali, né? Tem que ver o bairro. Vê o bairro direitinho e vê se tem alguma coisa. Se não tiver e o cara da milícia quiser, a gente põe”, disse.

Segundo o MP-RJ, “do diálogo se verifica com clareza que Marcelo, em virtude da posição hierarquicamente superior ocupada por Mug, vai até tal denunciado buscar informações sobre a possibilidade de expansão dos negócios ilícitos para um determinado território, identificado como “comunidade Santa Maria – Pau da Fome”. Na denúncia, os promotores destacam que, inicialmente, por não compreender com clareza a localização geográfica da área, Mug pediu que fosse verificado o bairro de referência, para avaliar o domínio (ou não) da organização criminosa no local. O texto frisa ainda que o criminoso já antecipava que, caso não fosse uma área controlada pelo bando e houvesse interesse dos milicianos, existiria a disposição de explorar ali as atividades ilegais.

Quase dois anos depois, em 28 de setembro de 2019, os dois voltaram a conversar. “Pau da Fome. Onde era a Gama Filho, em Jacarepaguá. Vila Olímpica”, escreveu Marcelo, que desta vez recebeu uma resposta mais assertiva de Mug: “Ali pode sim, tranquilo”, disse o comparsa de Rogério Andrade, autorizando a instalação das máquinas no local.

Marcelo, então, questionou como seria “o desenrolo com a milícia” e se haveria a necessidade de pagar uma porcentagem do faturamento aos paramilitares da região. necessário o pagamento de uma porcentagem para o paramilitares da região. “Não sei ao certo. Mas acho que não se paga nada não. Tenho que consultar. Até porque Jacarepaguá é nossa”, esclareceu Mug.

O criminoso, então, orienta sobre como o interlocutor deveria proceder se surgisse resistência por parte dos milicianos. “E se perguntarem para quem você trabalha? Fala o nome do R”, disse Mug. A letra, de acordo com os promotores, é uma referência direta a Rogério Andrade, que, ainda segundo o Gaeco, domina a exploração dos jogos de azar em Jacarepaguá, na Muzema, no Recreio dos Bandeirantes e na Tijuca, entre outros bairros.



Fonte: Fonte: Jornal Extra