Baleado com três tiros, perito teria sobrevivido se tivesse sido socorrido, atesta IML


Apesar de ter sido baleado por três disparos de arma de fogo nas duas pernas e na barriga, o papiloscopista Renato Couto teria sobrevivido se tivesse sido socorrido antes de ser arremessado por militares do 1º Distrito Naval no Rio Guandu, na Baixada Fluminense. De acordo com o laudo de exame de necropsia feito no corpo do policial civil por peritos do Instituto Médico-Legal (IML), a lesão da coxa esquerda foi a mais grave, mas o sangramento acabou contido por tecidos do entorno, formando coágulos e diminuindo a hemorragia externa, não havendo, assim, morte imediata — o que permitiria tempo hábil para a vítima receber o “atendimento emergencial necessário”.

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Segundo o documento, assinado pelo legista Cláudio Amorim Simões e ao qual o EXTRA teve acesso, o cadáver do perito apresentava três feridas de entrada de tiros de pistola, com duas saídas, uma vez que um projétil foi removido da região do glúteo esquerdo. O laudo aponta, pelos hematomas, que os disparos nos membros inferiores foram anteriores ao que atingiu a cavidade abdominal.

A lesão da coxa esquerda, conforme descrição do profissional, que manteve trajeto oblíquo e descendente, causando ferimento externo oriundo de lesão vascular cerebral, ocasionou ainda fratura completa do colo do fêmur, o que impediria a vítima de andar, “diminuindo sua capacidade de resistência e evasão”.

Documento foi assinado pelo legista Cláudio Amorim Simões
Documento foi assinado pelo legista Cláudio Amorim Simões Foto: Reprodução

No documento, é apresentado ainda “vestígios de putrefação” do corpo do papiloscopista e da “maceração da pele” em razão da submersão no rio e também de “asfixia mecânica pelo afogamento”, inclusive contendo areia e lama nas vias aéreas.“Os vestígios apontam para uma vítima na água, ainda viva, em anemia aguda. A morte ocorreu devido ferimentos do abdome e membros inferiores por projéteis de arma de fogo, com subsequente asfixia mecânica pelo afogamento”, concluiu Cláudio Amorim Simões.

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Professor titular Medicina Legal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o perito Nelson Massini garante que, de acordo com o laudo de exame de necropsia, não restam dúvidas de que Renato Couto ainda apresentava sinais vitais mesmo após percorrer ferido os mais de 60 quilômetros que separam a Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio, a Japeri.

— Muito embora a vítima tenha sido atingida por disparos de arma de fogo em áreas nobres, como abdome, o que mais lhe resultou em perda de sangue foi o que atingiu a artéria femural, no entanto, a hemorragia acabou por ser contida com uma resposta do próprio organismo. Por isso, houve uma sobrevida importante e, mesmo considerando o tempo de deslocamento de, ao menos, 50 minutos, ela ainda estava respirando quando foi jogada no rio e aspirou água para os pulmões, provocando seu afogamento. Chama atenção o tempo de agonia e sofrimento e a falta de socorro médico, que lhe garantiria uma grande chance de ter a vida salva — afirma.

Na foto, o perito Renato Couto de Mendonça, morto após discussão
Na foto, o perito Renato Couto de Mendonça, morto após discussão Foto: Reprodução

Imagens obtidas pelo EXTRA mostram o momento em que o policial civil é imobilizado e colocado em uma van por militares da Marinha em um ponto próximo à Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio. O vídeo teria sido gravado na sexta-feira da semana passada, na última ocasião em que o perito papiloscopista foi visto com vida. O corpo de Renato foi encontrado em uma das margens do Rio Guandu, na altura de Japeri, na Baixada Fluminense. O primeiro-sargento Bruno Santos de Lima — preso com o pai, o empresário Lourival Ferreira de Lima — e os também militares do 1º Distrito Naval Manoel Vitor Silva Soares e Daris Fidelis Motta são acusados do homicídio triplamente qualificado do agente, bem como por ocultação de cadáver.

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Na gravação, registrada à distância, pelo menos três homens aparecem imobilizando uma quarta pessoa que, em dado momento, parece estar sendo agredida. Em outro trecho, a vítima recebe uma espécie de chave de braço, o que condiz com o conteúdo dos depoimentos prestados à Polícia Civil. Mais à frente, o vídeo, de pouco menos de dois minutos, mostra todo o grupo entrando no carro e deixando o local rapidamente.

Militares da Marinha são presos pela morte de perito da Polícia Civil
Militares da Marinha são presos pela morte de perito da Polícia Civil Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

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Fonte: Fonte: Jornal Extra