após reprodução simulada, representante da OAB diz que versão de PMs é ‘incompatível com a perícia’


Policiais da Delegacia de Homicídios da Capital realizaram, nesta quarta-feira, a reprodução simulada da morte da designer de interiores Kathlen Romeu, de 24 anos. Ela estava grávida e foi morta por uma bala perdida, no dia 8 de junho, na Rua Araújo Leitão, no Lins de Vasconcelos, a uma distância de aproximadamente 200 metros da quadra da Escola de Samba Unidos do Cabuçu, na Zona Norte do Rio. Na ocasião, policiais militares faziam uma operação na comunidade do Lins.

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Rodrigo Mondego, representante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil-RJ, disse, logo após o término da reprodução simulada, que a versão apresentada por PMs dando conta de que o tiro partiu de bandidos, e não de um beco onde os militares estavam, é incompatível com o apurado pelos policiais durante a realização da perícia. De acordo com Mondego, os PMs disseram que o disparo partiu de um ponto da Rua Araújo Leitão onde estavam traficantes da comunidade. Ainda na mesma versão, a vítima, que estava de costas, teria feito um movimento brusco para se virar quando foi ferida.

— A versão dos PMs é incompatível com o que a avó afirma e há indícios claros de que é incompatível também com a perícia. A gente confia no trabalho da Polícia Civil e da Delegacia de Homicídios. A partir do que eles viram, vão conseguir confirmar a versão da avó e da família da Kathelen — afirmou o procurador da OAB-RJ.

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Segundo a família da designer, o tiro que matou a jovem veio do Beco 14, local que fica em frente ao ponto onde a jovem caiu. Grávida de quatro meses, ele estava ao lado da avó Sayonara de Fátima, a caminho da casa de uma tia onde iria entregar uma quentinha, quando foi atingida por um disparo. A reprodução simulada desta quarta-feira foi feita justamente para verificar o conflito de versões para o caso.

A família da jovem acompanhou a ação, segundo o viúvo Marcelo Ramos, em busca de uma solução para o caso:

— Viemos mostrar que queremos uma solução para o caso. Emociona muito voltar ao local onde a Kathlen foi baleada. A avó dela passou mal ao lembrar tudo que aconteceu — disse o tatuador Marcelo Ramos, de 26 anos.

A perícia durou cerca de três horas. Além de Sayonara, pelo menos seis PMs que estavam na operação que resultou na morte de Kathelen também participaram da reprodução simulada. Dois deles, ao prestar depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital, admitiram ter feito disparos. Ao todo, 12 PMs participaram da operação. Vinte e uma armas foram apreendidas pela Polícia Civil.

Além da OAB e de parentes, esteve presente na perícia o promotor Alexandre Murilo Graça, da 3ª Promotoria Penal da Capital. Moradores e amigos de Kathelen também acompanharam o trabalho da polícia. Em um muro de uma igreja , moradores pintaram uma cruz vermelha com o nome da jovem. Um banner com a foto da designer também foi colocado por moradores a poucos metros do local onde a jovem foi atingida por um disparo.

— A gente já tem uma ideia do que aconteceu. A reprodução é para gente saber e tentar identificar quem efetuou o disparo — disse o promotor Alexandre Graça, ainda antes do início da reprodução simulada.

A Secretaria estadual de Vitimados também acompanhou a reprodução simulada da morte de Kathlen Romeu. Segundo o órgão, a equipe psicológica da pasta “vem oferecendo atendimento para a família da jovem desde o dia do crime”.

Já a assessoria de imprensa da Secretaria de Polícia Militar informou que “o procedimento apuratório interno referente ao caso citado está em andamento”. Paralelamente, segundo a PM, “há a investigação da Polícia Civil”. O texto prossegue: “As armas utilizadas pela equipe foram apresentadas às autoridades investigativas, e os policiais militares estão afastados do serviço nas ruas”.

Pai critica política de segurança

Em uma rede social, o pai de Kathlen fala da reprodução simulada e responsabiliza a política de segurança pela morte da filha
Em uma rede social, o pai de Kathlen fala da reprodução simulada e responsabiliza a política de segurança pela morte da filha Foto: Reprodução

Em uma rede social, o pai de Kathlen, Luciano Gonçalvez, divulgou a realização da reprodução simulada e responsabilizou a política de segurança pela morte da filha. “Não foi confronto. Responsabilizamos o governo de Cláudio Castro e sua política de segurança pública pelo assassinato de Kathlen de Oliveira Romeu”. Procurado, o governo do estado ainda não se manifestou sobre a crítica.

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Em 8 de junho, a jovem visitava a casa da avó, Sayonara, no Complexo do Lins, local de tinha se mudado há um mês por causa da violência. A avó contou que caminhavam tranquilas pela rua, quando um intenso tiroteio começou. Ela tentou proteger a neta, mas Kathlen já tinha sido atingida

Em 8 de junho, a jovem visitava a casa da avó, Sayonara, no Complexo do Lins, local de onde tinha se mudado há um mês por causa da violência. A avó contou que caminhavam tranquilas pela rua, quando um intenso tiroteio começou. Ela tentou proteger a neta, mas Kathlen já tinha sido atingida.

Segundo a família da designer, policiais que participaram da operação estariam no Beco do 14, que fica quase em frente ao local onde a jovem foi baleada. Ela chegou a ser levada para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu aos ferimentos. De acordo com informações da Secretaria municipal de Saúde do Rio, ela já chegou à unidade de saúde sem vida. Ela foi foi atingida por um tiro de fuzil, que transfixou seu tórax.

Kathlen estava grávida de quatro meses
Kathlen estava grávida de quatro meses Foto: Instagram / Reprodução

Segundo a família da designer, policiais que participaram da operação estariam no Beco do 14, que fica quase em frente ao local onde a jovem foi baleada. Ela chegou a ser levada para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu aos ferimentos. De acordo com informações da Secretaria municipal de Saúde do Rio, ela já chegou à unidade de saúde sem vida. Ela foi foi atingida por um tiro de fuzil, que transfixou seu tórax.

A organização Comunidade Black (Amigos da Kathlen Romeu) divulgou um comunicado em que afirma que a reconstituição do crime “é um momento extremamente difícil para família e amigos” da jovem. No texto, o grupo faz um alerta à imprensa sobre o “racismo estrutural no formato das notícias sobre o caso” e sobre o “genocídio do povo negro”. “Nossa amiga e seu bebê não têm responsabilidade sobre atos de terceiros, por isso, solicitamos que a mídia trate o caso como homicídio, respeitando a memória da nossa Kath”, diz a nota.

Abaixo, confira o restante do comunicado:

“Citar eventos alheios à vontade da Kathlen, sua avó Sayonara e moradores da comunidade do Lins justifica a ação violenta e desmedida do Estado? Estado esse que não parece buscar a preservação de vidas quando se está em favelas e bairro predominantemente negros. Isso é RACISMO!

O foco das notícias de hoje precisa ser em apoio à resolução do caso e perguntas aos agentes do Estado que disparam tiros de fuzil em uma área altamente populosa, próximo ao horário de almoço. Como não conseguiram evitar a morte de uma mulher grávida?

Por que políciais estavam escondidos dentro de casas na favela? Que tipo de operação foi essa? Houve legalidade?

Por que há poucas testemunhas até agora? Qual motivo do medo dessas pessoas de falarem?

Para uma prática midiática antirracista, é preciso destacar essas questões e fugir do sensacionalismo, tratando a versão da Polícia não como verdade absoluta, e sim respeitando a investigação em curso e as falas de familiares e amigos.

Acreditamos que a mídia tem papel fundamental para a democracia brasileira, portanto, precisa cobrir este caso tão dramático de forma igualitária e imparcial.”



Fonte: Fonte: Jornal Extra