Ação da Polícia Civil no Complexo da Penha prende chefes do tráfico e deixa três mortos, incluindo jovem de 16 anos


Agentes da Polícia Civil do Rio, em parceria com policiais civis do Amazonas, do Pará e de São Paulo deflagraram, na manhã desta sexta-feira, uma operação chamada “Coalizão pelo Bem” para desarticular uma quadrilha de criminosos que movimentou R$ 126 milhões, em um ano e meio, da maior facção criminosa do estado do Rio e que está por trás da onda de ataque a cidades do Amazonas. Pelo menos 500 agentes atuaram em diversos pontos da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. Ao todo, 14 pessoas foram presas até agora: sete no Rio, cinco no Amazonas e duas em São Paulo. Entre eles, está um criminoso conhecido pelo apelido de Marcelão ou Jogador, apontado como chefe do tráfico no Amazonas.

Durante a ação, um adolescente de 16 anos, identificado como Thiago Santos Conceição, foi baleado, socorrido para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas, segundo Secretaria Estadual de Saúde, não resistiu e morreu. As circunstâncias da morte ainda não foram esclarecidas pela polícia. Outros três homens, que seriam suspeitos, também foram feridos. Dois deles morreram e um segue internado no Getúlio Vargas, também de acordo com informações da unidade.

Nas redes sociais, desde cedo, moradores relatam intenso tiroteio na Vila Cruzeiro. Muitos alegam que não estão conseguindo sair de casa para trabalhar. Traficantes atearam fogo em carros de moradores e em barricadas.

De acordo com a Polícia Civil, dos presos no Rio, dois atuam em Manaus, quatro no Pará e um na própria cidade. Na ação, duas pessoas morreram: uma no Rio e outra em Manaus. Cerca de 400 policiais militares ajudam na ação. Cerca de 400 policiais militares, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Choque, do Grupamento Aeromóvel e do Batalhão de Ações com Cães (BAC), ajudam na ação.

Investigações apontaram que, no Complexo da Penha, estariam escondidos os traficantes Sidmar Soares dos Santos, o Bolota; Gabriel Simões dos Santos, CL; Wallace Oliveira Silva, Nego Wallace; Edson Santos Cajado, Safado; Adelson Fonseca Oliveira, Delsinho; Alessandro Barbosa dos Santos. A Polícia Civil diz que eles são integrantes do tráfico de drogas na cidade de Itabuna, na Bahia, e fazem parte de uma célula da maior facção criminosa fluminense.

Carro incendiado na Vila Cruzeiro durante operação policial
Carro incendiado na Vila Cruzeiro durante operação policial Foto: Reprodução

Também com base no Complexo da Penha, mas de origem do Amazonas, estariam escondidos Kaio Wuellington Cardoso dos Santos, vulgo Mano Kaio. Ele seria o responsável pelas ordens dos ataques a Manaus no início do mês, além de gerenciar lavagem de dinheiro da facção; Ednelson Pereira dos Santos; Adalberto Salomão da Silva, o Professor, em referência à série “A Casa de Papel”, que, segundo investigações, atua como elo com os demais países para armas e drogas; Luciana Uchoa Cardoso, a Bibi do Amazonas, com apelido inspirado no personagem interpretado pela atriz Juliana Paes e que seria responsável pela logística de drogas vidas da Colômbia, pela rota fluvial.

Mano Kaio, um dos principais líderes da facção amazonense, teria sido responsável pela ordem para os ataques na cidade de Manaus. Segundo os investigadores, as ordens para os ataques, que duraram três dias no Amazonas e atingiram sete cidades, tiveram participação de chefes do tráfico escondidos em comunidades do Rio. Os agentes já foram a dois endereços do procurado, no Recreio dos Bandeirantes, e não o encontraram.

O Amazonas viveu uma onda de violência entre 6 e 8 de junho. Ônibus, delegacias, viaturas policiais, ambulâncias, prédios públicos e agências bancárias foram atacadas, incendiadas e alvo de tiros. Uma granada chegou a ser lançada contra uma delegacia. Outras nove cidades também foram alvo de ataques. O comércio, as aulas em colégios públicos e particulares e até a vacinação contra a Covid-19 foi suspensa. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, no total 74 pessoas foram presas e dois adolescentes apreendidos desde o início dos ataques. Cento e quarenta e quatro homens da Força Nacional, chegaram ao Amazonas para reforçar a segurança e atuam desde o dia 10 de junho.

Também no Complexo da Penha, mas do estado do Pará, estaria: Carlos Alexandre de Oliveira Rua, o Xande. Já no Complexo do Alemão, estariam os traficantes José Emerson da Silva, o Nem Catenga, que um dos líderes da facção criminosa Fluminense que atua em Alagoas. No Complexo de Manguinhos estaria o traficante Manoaldo Falcão Costa Júnior, o Gordo Paloso, que também atua em Itabuna. Os investigadores dizem ainda que, no Complexo da Maré, está escondido Alexandro Santos, o Sandrinho; Roney Machado, o RRzinho; Johnson Barbosa, o Playboy ou Pequeno. Há informações de que a Bibi do Amazonas também possa se esconder no conjunto de favelas. Já na Rocinha estaria escondido Rafael Corrêa da Costa, Rafinha; Mauri Costa, o Déo; André Sena Barbosa; Júnior HIV. Todos eles são do estado do Pará.

A operação é coordenada pelo Departamento Geral de Combate à Corrupção, Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) e conta com apoio do Departamento de Polícia Especializada, para cumprimento de 18 mandados de prisão temporária, 35 mandados de busca e apreensão, o bloqueio judicial de até R$ 126.984.934,67 nas contas bancárias das empresas, dos suspeitos e o sequestro de bens de alto valor, todos expedidos pela 1ª Vara Especializada do Crime Organizado (TJ-RJ).

As investigações identificaram ligação entre o grupo criminoso do Rio e seu braço no estado do Amazonas, que usava o sistema bancário e de empresas de fachada para a remessa de valores do Rio para o Amazonas. Para os policiais, o dinheiro seria utilizado para “o fortalecimento da facção no Estado do Amazonas, bem como para a aquisição de armas e drogas para o grupo criminoso do Rio de Janeiro, já que a organização criminosa amazonense controla territorialmente uma das principais rotas de tráfico da América Latina: a Tríplice Fronteira Amazônica, formada pelas cidades de Tabatinga-Brasil, Santa Rosa-Peru e Letícia-Colômbia”.

Durante a apuração, constatou-se que a estrutura de lavagem de dinheiro também presta serviço para a maior facção paulista, a partir de recursos oriundos de São Paulo. Também estão sendo cumpridos mandados de prisão nos estados de Amazonas e São Paulo.



Fonte: Fonte: Jornal Extra