A cada 11 horas, um registro de crime pela internet é feito no estado do Rio


RIO — Na madrugada de 4 de janeiro do ano passado, a empresária e produtora de eventos Pablinny Pedersoli, de 32 anos, conversava com amigos por mensagens no Instagram quando sua conta pessoal foi deslogada. Ela tentou refazer o acesso e até redefinir a senha, mas não conseguiu. Quatro horas depois, o perfil de sua loja de lingerie também foi desconectado por hackers. A partir daí, por cinco dias, os criminosos lesaram pelo menos dez dos cerca de 290 mil seguidores da moça, expondo a eles celulares supostamente à venda, recebendo transferências bancárias sem entregar os aparelhos eletrônicos e gerando prejuízos que se arrastam até hoje.

— Eu estava em uma fase financeira muito ruim na minha vida, largava São Paulo para morar no Rio, acabava de me separar e colecionava dívidas. As redes sociais sociais eram meu maior meio de comunicação e também o meu sustento. Usava meus perfis para me reerguer social e profissionalmente. Mas, de repente, me vi totalmente refém e impotente. Minhas vendas caíram 90% e, por causa dos golpistas, ainda agora, sofro com a perda de credibilidade junto aos meus clientes — conta ela.

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Um levantamento da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI) mostra que, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2021, 112 registros de ocorrência desse tipo foram feitos na especializada, localizada na Cidade da Polícia, no Jacaré, Zona Norte da cidade. Ao longo do ano, foi possível notar um aumento dessa modalidade: enquanto, no primeiro trimestre, foram três casos; no último, foram 41.

No total, 768 registros feitos nesse período estão sendo investigados pela DRCI — o que representa uma média de uma vítima de delitos de internet a cada 11 horas no Rio, além dos que tramitam nas delegacias distritais.

Migração do estelionato

Pablinny foi vítima do crime chamado popularmente de estelionato das redes sociais, que ocorre quando bandidos invadem contas legítimas, geralmente abertas ao público e com muitos seguidores, para fazer publicações anunciando equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos, roupas e acessórios a preços atrativos.

As publicações são geralmente feitas em nomes de supostos amigos ou vizinhos que estão de mudança e precisam vender os itens, o que costuma inibir suspeitas. Os golpistas então convencem os interessados a fazerem transferências por PIX, mas nunca entregam os produtos.

— Nos últimos anos, alguns crimes, como o estelionato, praticamente deixaram de existir na modalidade presencial e migraram para a internet. Os criminosos passaram a acreditar que, nesse ambiente, se expõem menos e atingem um número muito maior de vítimas com menos esforço. Além disso, os delitos deixaram de ter fronteiras, podendo o autor estar fisicamente em qualquer lugar, e de ser estáticos, já que as fraudes vão mudando e se aperfeiçoando com o combate da polícia — explica o delegado Pablo Sartori, titular da DRCI desde 2017.

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Os registros feitos na especializada incluem inquéritos sobre pessoas lesadas em páginas falsas de comércio eletrônico e ainda em plataformas inexistentes de leilões virtuais inexistentes. Nesses casos, quadrilhas chegam a fornecer endereços de depósitos de veículos oficiais e o golpe se concretiza quando as vítimas, com cartas de arrematação frias, realizam o depósito em dinheiro.

Imagens íntimas

Há ainda ocorrências do crime previsto no artigo 218C do Código Penal, que versa sobre “oferecer, disponibilizar ou vender fotografia, ou vídeo, que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia”. E também de extorsão, quando os bandidos cobram resgate para devolver as contas das redes sociais que foram “sequestradas” por eles.

Foi o caso da advogada Claudia Marques, de 49 anos. Na manhã do último dia 5, ela recebeu uma mensagem por celular, atribuída ao filho. No texto, ele dizia que havia quebrado o visor do seu aparelho, tendo que deixá-lo na assistência técnica, e afirmava que estava utilizando aquele novo número. Duas horas depois, o criminoso se passando pelo jovem fez um novo contato: desta vez, pedia que ela lhe transferisse R$ 1.380 para pagar o conserto. O pedido foi atendido por ela em dez minutos:

— Meu filho estava com Covid-19 e eu estava com suspeita da doença, então já estávamos muito fragilizados. No início, eu disse que não daria, porque ainda não tinha recebido o salário, mas fiquei com pena e acabei fazendo o PIX. Quando percebi que havia caído num golpe, minhas pernas tremeram de raiva e de incapacidade.

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— Nossas orientações aos usuários da rede vão desde alertas genéricos, como se atentarem que as páginas que estão navegando terminam com “com.br”, e a ter certeza de que os bens que estão comprando de fato existem, até a recomendação de desconfiar sempre de tudo — diz Pablo Sartori.

Procurado sobre casos como o de Pablinny Pedersoli, o Instagram informou, por nota, que “trabalha na implementação de recursos capazes de barrar o acesso de hackers a contas de terceiros, em campanhas educativas de identificação e prevenção a esse tipo de ataque, bem como em ferramentas e processos para a recuperação de contas da plataforma. Esse é um trabalho de aperfeiçoamento contínuo”.



Fonte: Fonte: Jornal Extra