Após avó e mãe, avô de menino autista mantido em canil também é investigado por tortura; pai está preso por tráfico


Depois da prisão em flagrante da avó e da mãe de uma criança autista de 8 anos que era mantida dentro de um canil no quintal da casa da família, na última segunda-feira, o avô do menino também está sendo investigado pela 54ª DP (Belford Roxo). A suspeita é de que ele tinha ciência dos abusos e, apesar de morar em uma casa no mesmo terreno, não agiu para contê-los. Os agentes, contudo, ainda não conseguiram localizar o homem.

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De acordo com a polícia, as duas mulheres presas, de 27 e 62 anos, respectivamente, não tinham nenhum emprego fixo. A família mantinha-se com pequenos bicos feitos pela mãe do menino, que vem lutando contra um câncer, além de benefícios sociais pagos pelo governo. Já o pai da criança encontra-se preso, cumprindo pena por tráfico de drogas.

A Polícia Civil também apura se outras três crianças que moravam na casa, com 3, 5 e 10 anos, sofreram algum tipo de abuso ou tratamento inadequado. A denúncia anônima que deu origem à investigação indica que o menino autista era mantido afastado dos irmãos, em péssimas condições. Todos os menores de idade, assim como a vítima de tortura, foram acolhidas pelo Conselho Tutelar.

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Além da busca por depoimentos de novas testemunhas, os investigadores aguardam, agora, os resultados de dois laudos solicitados pelo delegado-assistente Alexandre Netto Cardoso, que está à frente do caso. O exame de corpo de delito vai indicar a gravidade das lesões sofridas pelo menino, enquanto a avaliação psicológica da criança pode ajudar a detalhar a violência à qual ela era submetida.

– Em um primeiro momento, a criança não relatou nada. Só gritava, não conseguia se comunicar. Parecia atordoada e toalmente desorientada, talvez em razão da fome e da sede. No hospital, ela esboçou, depois, algumas frases, mas ainda sem conexão. Precisamos analisar o quanto o menino é capaz de se comunicar, e por isso o acompanhamento psicológico será fundamental – explica o delegado.

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Depois de ser levado para um hospital de Belford Roxo “fraco, desnutrido, com falhas no cabelo, cicatrizes arredondadas, dentes escuros e em estado de pânico”, além de apresentar “diversos ferimentos pelo corpo”, o menino teve alta médica nesta quarta-feira, mas segue sendo observado com cautela. Por conta do quadro de autismo, ele será acompanhado por um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi).

O local onde a criança era mantida
O local onde a criança era mantida Foto: Reprodução

A prisão

As duas mulheres foram localizadas por agentes da 54ª DP na tarde da última segunda-feira, no Centro de Belford Roxo. Pouco antes, membros do Conselho Tutelar haviam resgatado a criança na casa em que os três viviam, na comunidade Gogó da Ema. O menino estava trancado dentro de um canil no quintal, em um espaço de menos de 2 metros quadrados. Segundo as denúncias anônimas que motivaram a operação conjunta, ele era mantido nessas condições constantemente.

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Os relatos indicam que o menino passava horas sem ser alimentado ou beber água – ao ser resgatado, ele apresentava um quadro de inanição e desidratação. Ainda de acordo com as denúncias, era comum que a criança fosse dopada “com fortes doses de calmantes”, além de dormir totalmente amarrada a uma cama.

Ao serem ouvidas formalmente na delegacia, as duas mulheres optaram por se manter em silêncio. Nesta quarta-feira, durante audiência de custódia, a Justiça converteu a prisão em flagrante em preventiva. Enquadradas nos crimes de tortura e cárcere privado, elas podem pegar, se condenadas, uma pena superior a 15 anos de prisão. O nome dos envolvidos não foi divulgado de modo a preservar a identidade da vítima.



Fonte: Fonte: Jornal Extra